Em
conversas privadas, o então juiz teria sugerido ao procurador que trocasse
ordem de fases da operação, dado pistas e conselhos informais
O atual
ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, e o coordenador da
Força-Tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, teriam trocado
mensagens de texto em que o então juiz federal teria ido muito além do papel
que lhe cabia quando julgou casos da operação. A revelação é do site The
Intercept Brasil, que publicou, neste domingo (09/06/2019), reportagem As mensagens
secretas da Lava Jato.
A publicação
traz uma série de mensagens privadas, gravações em áudio, vídeos, fotos,
documentos judiciais e outros itens compartilhados entre os dois, o que seria
inconstitucional. A Constituição brasileira estabeleceu o sistema acusatório no
processo penal, no qual as figuras do acusador e do julgador não podem se
misturar. Muitas das decisões tomadas por Moro poderão ser questionadas pelas
defesas de condenados na Lava Jato e revistas em tribunais superiores, com o
vazamento das conversas.
Em conversas
privadas, o magistrado teria sugerido ao procurador que trocasse a ordem de
fases da Lava Jato, cobrado agilidade em novas operações, dado conselhos
estratégicos e pistas informais de investigação e sugeriu recursos ao Ministério
Público.
Além disso,
Moro teria chegado a dar broncas em Dallagnol como se ele fosse um superior
hierárquico dos procuradores e da Polícia Federal. Em março de 2016, ele teria
se irritado com o que considerou um erro da Polícia Federal. “Tremenda bola nas
costas da PF”, digitou o então juiz. As justificativas apresentadas por
Dallagnol não o teriam convencido: “Continua sendo lambança. Não pode cometer
esse tipo de erro agora”.
Um ano depois,
Moro, irritado com uma das procuradoras da força-tarefa da Lava Jato, teria
feito um pedido delicado a Dallagnol, como mostra a reportagem:
Segundo a
publicação, as conversas fazem parte de um lote de arquivos secretos enviados
por uma fonte anônima há algumas semanas, antes da notícia da invasão do
celular do ministro Moro, divulgada nesta semana, na qual o ele afirmou que não
houve captação de conteúdo. “O único papel do Intercept foi receber o material
da fonte, que nos informou que já havia obtido todas as informações e estava
ansioso para repassá-las a jornalistas”, diz o site.
Trama contra
Lula
Os procuradores
da Lava Jato teriam, ainda, tramado com o então juiz Sergio Moro para evitar a
entrevista do petista Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal Folha de S.Paulo,
antes das eleições de 2018, e assim, impedir que a campanha de Fernando Haddad
à Presidência da República fosse favorecida.
A reportagem,
dividida em quatro partes, revela que os procuradores da Lava Jato falavam
abertamente sobre o desejo de impedir a vitória eleitoral do PT através do
candidato Fernando Haddad. Segundo o Intercept, os procuradores temiam que
entrevista de Lula pudesse favorecer a candidatura petista.
Uma das
integrantes da força-tarefa da operação teria dito, em mensagem ao procurador
Deltan Dallagnol, coordenador do grupo, que rezava para que o PT não voltasse
ao poder.
Veja:
“Os
procuradores da Lava Jato falavam abertamente sobre seu desejo de impedir a
vitória eleitoral do PT e tomaram atitudes para atingir esse objetivo”, revela
a reportagem. “E o juiz Sergio Moro colaborou de forma secreta e antiética com os
procuradores da operação para ajudar a montar a acusação contra Lula, apesar de
dúvidas internas sobre as provas que fundamentaram essas acusações”.
A publicação
ressalta que, ao faltar quatro dias para que a denúncia que levaria o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão fosse apresentada ao público,
no hoje famoso power point, Dallagnol ainda tinha dúvidas sobre a solidez da
história que contaria a Moro.
Indícios
frágeis
“A apreensão de
Dallagnol, que, junto com outros 13 procuradores, revirava a vida do
ex-presidente havia quase um ano, não se devia a uma questão banal”, diz o
Intercept. “Ele estava inseguro justamente sobre o ponto central da acusação
que seria assinada por ele e seus colegas: que Lula havia recebido de presente
um apartamento triplex na praia do Guarujá após favorecer a empreiteira OAS em
contratos com a Petrobras”.
“Falarão que
estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis… então é um
item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio
da ligação entre Petrobras e o enriquecimento, e depois que me falaram to com
receio da história do apto… São pontos em que temos que ter as respostas
ajustadas e na ponta da língua”, teria escrito o procurador.
De acordo com a
reportagem, uma reportagem escrita pelo O Globo em 2010 – “Caso Bancoop:
triplex do casal Lula está atrasado” – foi a primeira a tratar do apartamento
no Guarujá, muito antes da Lava Jato. Sem mencionar OAS ou Petrobras, ela dizia
apenas que a falência da cooperativa que construía o prédio poderia prejudicar
o casal Lula.
“Vou dar um
beijo”
O material,
porém, teria sido o elo encontrado pela Lava Jato entre Lula e a Petrobras e
também serviu para embasar a condenação do ex-presidente por Moro. ““Tesão
demais essa matéria de O Globo de 2010. Vou dar um beijo em quem de vcs achou
isso”, postou Dallagnol aos procuradores.
Confira a
reação do coordenador da Lava Jato:
Caso do grampo
A publicação do
Intercept destaca que Sergio Moro e Dallagnol falaram, na ocasião em que Dilma
Rousseff tentou nomear Lula para a Casa Civil, sobre a famosa conversa gravada
entre a então presidente e o ex-presidente. Naquela manhã, juiz e procurador
teriam acertado a estratégia para divulgar os áudios.
As críticas aos
grampos que atingiram um ex-presidente e uma presidente em pleno exercício do
mandato foram fortes. mesmo assim, o juiz e o procurador insistiam que foi uma
decuisão certeira, embora Moro tenha pedido desculpas pela atitude
posteriormente:
O ministro
Sergio Moro não se manifestou sobre as denúncias.
Na noite deste
domingo, após a publicação da reportagem, o Ministério Público Federal (MPF)
divulgou nota dizendo que seus procuradores foram vítimas de ataque de hackers:
“A ação vil do hacker invadiu telefones e aplicativos de procuradores da Lava
Jato usados para comunicação privada e no interesse do trabalho, tendo havido
ainda a subtração de identidade de alguns de seus integrantes. Não se sabe
exatamente ainda a extensão da invasão, mas se sabe que foram obtidas cópias de
mensagens e arquivos trocados em relações privadas e de trabalho”.
O órgão
destacou que “há a tranquilidade de que os dados eventualmente obtidos refletem
uma atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e
imparcial, em mais de cinco anos de operação”.
Com informações do site Metrópoles
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