Bolsonaro
diz que Fernando Santa Cruz foi morto por 'grupo terrorista' de esquerda, não
por militares. Segundo Comissão de Mortos e Desaparecidos, vítima teve 'morte
violenta' em 1974.
O atestado de óbito de Fernando Santa
Cruz de Oliveira, opositor do regime militar, afirma que a morte dele foi
causada pelo Estado brasileiro. O documento foi emitido pela Comissão da
Verdade, vinculada ao Ministério de Damares Alves.
Fernando Santa Cruz é pai de Felipe Santa
Cruz, atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. Mais cedo, nesta
segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse que, se o presidente da OAB
quisesse saber como o pai morreu, ele, Bolsonaro, contaria.
Depois, em uma rede social, Bolsonaro disse
que Fernando Santa Cruz não foi morto por militares, mas, sim, pela organização
de esquerda Ação Popular do Rio de Janeiro, classificada pelo presidente como
"grupo terrorista".
A Comissão da Verdade, porém, diz que
Santa Cruz foi morto por agentes da ditadura.
O atestado de óbito foi incluído no
sistema da Comissão de Mortos e Desaparecidos no último dia 24 e será enviado à
família de Fernando Santa Cruz.
Documento
da Aeronáutica
A Comissão da Verdade disponibiliza na
internet um documento do antigo Ministério da Aeronáutica segundo o qual
Fernando Santa Cruz foi preso em 22 de fevereiro de 1974, um dia antes da data
em que, segundo o atestado de óbito, ele morreu.
Reação
da presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos
A presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos,
a procuradora Eugênia Gonzaga criticou a fala feita hoje por Jair Bolsonaro,
que fez ameaças e declarou que se Felipe quiser saber ele conta como seu pai
morreu durante a ditadura.
“Como qualquer presidente, ele
(Bolsonaro) tem o dever de revelar esses fatos. É constrangedor usar um débito
tão grande como esse tema para de algum modo difamar e prolongar sofrimento de
familiares” – disse Eugênia Gonzaga ao Radar.
A presidente da comissão afirma que não
está em questão a postura do militante, mas a do Estado.
“Não pode prender e desaparecer com as
pessoas. É dever de ofício revelar as circunstâncias. E não fazer disso uma
ameaça”.
No final de 2018 já eleito presidente,
Bolsonaro recebeu a Carta de Brasília, na qual 135 familiares de desaparecidos
pediam apoio à causa de contribuir com elucidação desses fatos, para se chegar
aos corpos e permitir promoção de enterros dignos. Familiares de Santa Cruz
assinaram esse documento, enviado pela Comissão de Mortos a Bolsonaro.
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