Uma criança de aproximadamente sete anos, com farda similar à do Bope, passeou nesta quarta-feira (5) na Câmara dos Deputados, portando uma réplica de metralhadora e posou
ao lado de deputados federais no Plenário da Câmara.
O policial mirim rapidamente virou
atração na Casa e passou a ser "tietado" por deputados que posaram ao
seu lado sorrindo. O pai do menino o acompanhou sem crachá de identificação, o
que é proibido neste local, e junto estava um homem com blazer azul, com um
crachá amarelo, a categoria que permite dar acesso dentro da Casa, mas, na
teoria, não permite entrar no Plenário.
O garoto é conhecido no Instagram, onde
costuma publicar fotos e vídeos de "abordagens policiais", onde ele,
simulando o papel de PM, aborda outra criança. Sempre com réplicas de armas de
fogo.
Simulacros (como são conhecidas armas de
fogo falsas) ou armas de brinquedo, que possam ser confundidas com armas de
fogo reais, são proibidas no Brasil.
No perfil da criança no Instagram,
também é possível ver fotos com o General Heleno, Sargento Fahur, Carlos Jordy,
Tiririca, Abilio Santana, Helio Lopes, Vitor Hugo, e com o próprio presidente
Jair Bolsonaro. Com o mandatário, no entanto, a criança não está com réplica de
arma de fogo.
Após a publicação desta matéria, a líder
do Psol, Fernanda Melchionna (RS), se manifestou nas redes sociais contra o
ocorrido.
"É inadmissível que se estimule uma
criança a carregar uma réplica de uma arma de fogo como se fosse algo positivo
ou um modelo a ser seguido. A atitude irresponsável daqueles que permitiram a
ação e dos parlamentares que se aproveitaram dela certamente fere o Estatuto da
Criança e do Adolescente. O Brasil sabe que o que precisamos é de mais
políticas públicas e seriedade, e não mais armas. Arma não é brinquedo", disse
a deputada.
O Coronel Tadeu, que foi um dos
deputados que tiraram fotos com o menino, disse ao Congresso em Foco que fica
feliz de ver uma criança fardada de militar.
"Eu vejo que essa criança passa a adquirir
valores. O policial representa a proteção da sociedade, representa o sustento
da democracia, representa a governabilidade de qualquer Estado, de qualquer
país. Fiquei satisfeito de ver esta criança fardada e até pedi para tirar uma
foto com ela, porque eu gostaria que todas as crianças do Brasil aprendessem
determinados valores cívicos de respeito ao seu país", respondeu.
A reportagem perguntou se o uso da
metralhadora de brinquedo teria sido um equívoco, mas o Coronel afirmou que
não. "Nenhum equívoco. Um policial, um militar em 100% do tempo ele está
fardado", e por isso a criança estava representando o militar "na sua
essência", segundo o deputado.
A visão da deputada Gleisi Hoffmann
(PT-PR) é bem diferente. "Eu acho isso muito triste, né? Porque as imagens
dizem mais que a palavra e elas incentivam o comportamento. Quando a Câmara
permite isso na verdade é um estímulo institucional de armamento. Então esta
criança vai normalizar andar armada, vai achar normal na sociedade ter armas. E
armas são para atirar e atirar no outro. Então vai normalizar também atirar no
outro", disse a presidente do PT.
"Nós devíamos normalizar imagens de
crianças com livros, com outros brinquedos didáticos, crianças alegres,
crianças com outras crianças, crianças com suas famílias. Essa imagem que a
gente tinha que passar. Eu lamento que isso tenha acontecido na Câmara e eu
espero que isso não se repita", declarou a deputada.
Para ela, o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), deveria proibir a entrada de réplicas de armas de fogo
na Casa, em especial no Plenário. "Se não pode entrar armas de fogo, então
também não deveria permitir entrar réplica", disse.
Com informações do Congresso em Foco
Com informações do Congresso em Foco
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