O
ex-tenente do exército José Ricardo da Silva Neto foi condenado pelo Tribunal
Popular do Júri, em Teresina, a 37 anos de e três meses de prisão pelo
feminicídio de Iarla Lima Barbosa, que era sua namorada, e pelas tentativas de
feminicídio da amiga e da irmã da vítima, Josiane Mesquita e Ilana Lima.
A
estudante de arquitetura Iarla Lima foi vítima de feminicídio em 19 de junho de
2017, na Zona Leste de Teresina, quando os dois saíam de uma festa.
Quando
entraram no carro, o ex-militar fez os disparos de arma de fogo contra a
namorada, por ciúmes, após ela ter dançado com outros homens na festa. Ele
ainda fez disparos contra as duas outras ocupantes do carro, a irmã de Iarla,
Ailana Barbosa, 22 anos, e uma amiga de infância das duas, Joseane Mesquita.
O
julgamento se iniciou na manhã de quarta-feira (24) e foi realizado pelo juiz
Antônio Luiz Nollêto, da 1ª Vara do Tribunal do Júri. A sessão só se encerrou
na madrugada desta quinta-feira. O acusado acompanhou o julgamento de forma
virtual, pois mora atualmente na cidade de Recife, no estado do Pernambuco.
Na
decisão o Tribunal Popular do Júri entendeu que José Ricardo matou Iarla Lima
por motivo fútil, em decorrência de ciúmes. Além disso, os membros do júri
entenderam que ele tentou matar a amiga e a irmã da vítima após realizar
disparos contra elas.
“O réu
ultrapassou o que se tem como ordinário para o cometimento de crime. O acusado
praticou o crime, por motivo fútil, consistente em ciúmes, porque a vítima
Iarla Lima Barbosa dançou com os homens da festa”, afirmou o juiz na decisão.
Protestos durante o julgamento |
Pai morreu por coma alcoólico
O pai da
estudante de arquitetura Iarla Lima, morreu por coma alcoólico pouco mais de
dois anos após o assassinato da filha, relatou outra filha dele, Ilana Lima, durante
depoimento no julgamento.
"Depois
que minha irmã morreu meu pai passou a beber todos os dias e foi a óbito por
coma alcoólico. Ele nem dormia mais no quarto, deitava no sofá da sala, onde
tinha uma foto dela que ele ficava olhando. Eu tentava mostrar para a gente ter
força para continuar, mas ele desistiu de viver", contou em depoimento.
Em
entrevista à TV Clube, a mãe da vítima, Dulcinéia Lima da Silva, também falou
sobre a morte de seu ex-marido. "Tudo contribuiu para levar ele a óbito,
era muito frágil e se levou a beber diariamente. Dois anos depois ele faleceu
porque ficou fragilizado. Antes do falecimento dele fiquei sabendo que ele
nunca mais tinha dormido em cama, só no sofá pensando na filha dele. Aí a mãe
dele faleceu, que era outra base e ele não resistiu", contou.
O crime
Durante
depoimento, a irmã da vítima, Ilana Lima, que estava no momento do crime
relatou o momento em que a estudante foi morta. "Estávamos eu, ela, uma
amiga [Joseane Mesquita], ele e outros dois amigos dele. Passamos a noite
dançando entre nós", contou.
"Uma
hora a Iarla chamou para ir embora porque o Neto estava passando mal. Os dois
saíram de mãos dadas, se beijando, como um casal normal. Mas chegando no carro
ele começou a brigar com ela, dizendo que ela tinha dançado com outros. Em
seguida ele puxou a arma e atirou três vezes contra ela e depois para trás,
onde estávamos eu e nossa amiga", completou.
A
testemunha disse que Joseane Mesquita saiu do carro em seguida e que ela saltou
do veículo quando ele já estava em movimento. Ilana foi atingida de raspão na
cabeça e Joseane no braço e no peito.
Ilana
afirmou ainda que a irmã havia falado em terminar o relacionamento com o
acusado um dia antes. "Ela disse que ele tinha tentado acessar o celular
dela, que ele havia conseguido e ela precisou mudar a senha. Ele queria ter
controle sobre ela", disse.
Acusado estava em liberdade
O
Tribunal de Justiça do Piauí chegou a decretar prisão preventiva do acusado em
janeiro de 2019, quando o desembargador Joaquim Santana determinou que o mandado
fosse cumprido em Recife.
Mas o
mandado de prisão não foi cumprido depois que o Superior Tribunal de Justiça
(STJ) concedeu liberdade provisória ao acusado no dia 23 de abril.
Protestos contra a violência de gênero
Um grupo
de mulheres realizou na manhã de quarta-feira (24) um protesto pelo fim da
violência contra mulheres em frente ao Tribunal de Justiça do Piauí e do Fórum
Criminal, onde o julgamento aconteceu. A família de Iarla reforçou o protesto,
assim como de outras vítimas de feminicídio.
"Pra
mim tanto faz, eu quero que ele receba uma pena. Quero um pouco de justiça, um
pouco só. Minha filha não vai voltar, nada pode trazer ela de volta",
afirmou a mãe da vítima.
A
integrante do Fórum de Mulheres Piauiense e do movimento Gênero, Mulher,
Desenvolvimento e Ação para Cidadania (Gemdac), Tatiana Cardoso, destacou a
importância do 25 de novembro, Dia Internacional para a Não Violência Contra as
Mulheres.
"Estamos
aqui pelo fim da banalização de todas as formas de violência contra a mulher e
da impunidade, para pedir por justiça, que o acusado ganhe pena máxima. Viemos
reivindicar a celeridade processual dos casos do Piauí. Não só pela Iarla, mas
por todas que foram vítimas de feminicídio, de violência doméstica. E também
como forma de conscientização, para que outra mulheres não estejam incluídas
nessa estatística", disse Tatiana.
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