Ex-presidente deixa claro que só voltará ao comando do Senado se houver consenso em torno de seu nome
Cida Fontes - da Agência Estado
A expectativa dos aliados de Sarney é de que o PMDB reafirme formalmente a decisão, já tomada pela bancada, de não abrir mão da presidência do Senado para o PT. Os peemedebistas alegam que um movimento dessa natureza não significaria uma manifestação pessoal contra Tião Viana. O fato é que, como o PSDB e DEM, o PMDB não deseja também fortalecer o PT nos próximos dois anos de costuras políticas rumo às eleições de 2010. Entre os tucanos, Sarney, se confirmar sua candidatura, não teria dificuldades em obter votos da bancada. Por isso, a conversa reservada ontem entre Sarney e Tasso foi importante e considerada um avanço nas negociações, pois o cearense já assumiu compromisso com a candidatura de Tião Viana.
No entanto, senadores do PSDB afirmam que, se a opção da bancada for em favor de Sarney, Tasso Jereissati não deixará de acompanhar a posição partidária. Se houver consenso para garantir a candidatura de Sarney, como ele deseja, caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversar pessoalmente com Tião Viana e compensá-lo em outro posto de destaque. Antes de entrar em férias, a ideia de Lula era dar ao senador petista o Ministério da Saúde em substituição a José Gomes Temporão. Só que Lula não contava com a reação contrária do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Como sairá do comando da Casa em fevereiro, o deputado quer o cargo.
Surpreendido, o presidente Lula terá de tomar as rédeas do processo para resolver o impasse no PT. Por isso, segundo aliados, ele teria antecipado em um dia sua volta à Brasília, encurtando suas férias na Bahia. Além de resolver a situação do Senado, o presidente deve também reforçar a campanha do presidente da PMDB, deputado Michel Temer (PMDB-SP), que disputa o comando da Câmara. Apesar do apoio formal de 12 partidos, é preciso intensificar a campanha para não evitar traições, já que o voto é secreto. "Queremos liquidar essa fatura no primeiro turno", garantiu hoje o líder do PR, deputado Luciano Castro, acrescentando que o momento é de muito cuidado. Em sua bancada, por exemplo, dos 42 deputados, oito estão fechados com a candidatura de Ciro Nogueira (PP-PI).
A eventual candidatura de Sarney pode enfraquecer Temer, na avaliação de parlamentares que apoiam o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), candidato do bloquinho. Ou seja, o PT poderia trair o presidente do PMDB para evitar que o partido assuma o controle das duas Casas Legislativas. "Nada mais abala a candidatura de Michel", observou otimista o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).
Esse poderio político de Sarney preocupa aos que lutam para acabar com o domínio da oligarquia na política do Maranhão. Enfraquecido policamente no Estado, Sarney busca manter o prestígo nos bastidores do poder em Brasília, incensado pelo governo petista. Se confirmado como nome de consenso para a presidência do Senado, Sarney fica ainda mais turbinado para influenciar no processo de cassação do governador Jackson Lago. Talvez tenha perdido o interesse pelo caso porque não há certeza se Roseana, a segunda colocada na eleição de 2006, assumiria o governo.
Existem jurisprudências de que, independente de quando ocorra a cassação do eleito, o segundo colocado é quem deve assumir o governo. No entanto, outras jurisprudências apontam para eleição indireta entre os deputados estaduais, elegendo-se um deles para um mandato-tampão, caso a cassação aconteça depois de completados dois anos de mandato. Se Jackson for cassado, portanto, existem brechas para recursos ante as jurisprudências formadas.
Não tendo certeza de que Jackson venha a ser cassado, Sarneu articula um plano B: forçar uma intervenção federal no Estado. Alguns articulistas do Jornal dos Sarneys, em artigo na edição do último domingo, trata desse assunto citando até artigos da Constituição. A estratégia para que isso seja consumado é criar um clima de convulsão social no Estado, mostrando para o país que o Estado está ingovernável. Para isso, utilizam-se na enorme audiência da TV Globo para mostrar a suposta falta de comando por parte do governo. Os incidentes pós-eleição, que transformaram alguns municipios em praças de guerra, têm sido exaustivamente mostrados no telejornais. A mídia do Sarney, portanto, quer vê o circo pegar fogo.
Fortalecido em Brasília, Sarney poderia usar seu poder de barganha junto ao governo federal para que faça intervenção no Maranhão, cabendo ao próprio oligarca a indicação do interventor. Quem seria? João Alberto, para enfrentar a turba furiosa, ou Roseana, que diz ter que se submeter a uma cirurgia no mês de março?
Na verdade, Sarney já sentiu que o Estado pode pegar fogo, caso Jackson seja cassado, como ficou demonstrado no movimento de resistência denominado de "Balaiada". A intervenção seria uma forma de contar com o apoio de forças federais, caso haja algum tipo de resistência popular, que não seria combatida pela Polícia Militar, comandada pelo governo do Estado.
De qualquer modo, as forças de resistência têm que permanecer em estado de alerta máximo para a manobras que o senador Sarney está fazendo no submundo do poder em Brasília. Sabendo disso, o governador tem percorrido diversos municípios do Estado, alertando para o "golpe" que está sendo orquestrado, ao tempo em que tem convidado a população a resistir e impedir que o Maranhão volte a ser dominado por Sarney.
O governo bem que poderia adotar o lema dos escoteiros: "Sempre Alerta"!
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