Pano verde na mansão do Lago Sul
Maratona de jogatina reuniu pelo menos 10 pessoas. Roseana Sarney admite que 4 viajaram de São Luís a Brasília com sua cota do Senado
Ao menos dez pessoas da “turma de carteado” que acompanha a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) há vários anos participaram, nos dias 7 e 8 passado (sábado e domingo), de uma maratona de jogatina na residência oficial da Presidência do Senado, na Península dos Ministros (Lago Sul), área mais nobre de Brasília. A informação foi repassada ao Jornal Pequeno por uma fonte que teve acesso ao local como convidada. De acordo com essa fonte, o grupo viajou de São Luís, na sexta-feira, 6, com passagens aéreas providenciadas por Roseana. A peemedebista admitiu que pagou as passagens de apenas quatro convidados – assessores políticos, segundo ela –, utilizando a cota a que tem direito como senadora da República. A volta do grupo a São Luís só ocorreu no domingo à noite. As passagens foram emitidas pela agência Sphaera Turismo, instalada na Asa Sul.
Roseana Sarney: ‘reunião de trabalho’, ‘encontro familiar’ ou jogatina?
Representantes da imprensa nacional em Brasília já estão investigando o caso. Segundo o JP descobriu, Roseana Sarney foi procurada por esses jornalistas para comentar o assunto e admitiu que um grupo de São Luís viajou a Brasília e se hospedou por pelo menos dois dias na residência oficial de seu pai, o presidente do Senado, José Sarney, que não está morando na mansão.
No entanto, ela teria dito que não houve jogatina no local, e sim uma “reunião de trabalho”. “Foram só quatro assessores do Maranhão, que eu mandei buscar, já que não estou em condições de viajar, e paguei com a minha cota de passagens do Senado”, garantiu Roseana.
A utilização, por parte de deputados e senadores, de suas cotas pessoais de passagens aéreas para finalidades outras que não as ligadas à atividade política tem sido questionada pela imprensa e por órgãos encarregados de fiscalizar o Poder Legislativo. Recentemente, Marco Antônio Bogéa, um colaborador do superintendente do Sistema Mirante, Fernando Sarney (irmão de Roseana), viajou de Brasília a São Paulo transportando uma mala com conteúdo suspeito, com passagem paga pela Câmara dos Deputados (cota de Carlos Abicalil, do PT do Mato Grosso). O caso foi divulgado pelo JP e pelo site “Congresso em Foco”.
Contradição – Questionado ontem pela manhã, por telefone, pela reportagem do Jornal Pequeno, um dos assessores da Presidência do Senado, Chico Mendonça (que trabalhou na campanha de Jackson Lago para o governo do estado em 2006), deu uma versão diferente da de Roseana Sarney para o episódio.
Ele não falou nada sobre “reunião de trabalho” e afirmou que as pessoas que viajaram de São Luís para Brasília foram à capital federal para um “encontro de família”. Mendonça acrescentou que “numa reunião de família naturalmente podem aparecer, também, alguns amigos”.
Estrutura luxuosa – Independentemente de ser composto por “familiares”, “amigos” ou “assessores”, o grupo de pessoas que viajaram de São Luís a Brasília no dia 6, dois dias depois da cassação do governador maranhense Jackson Lago (PDT) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para se confraternizar, jogar baralho ou trabalhar, usufruiu, durante dois dias, o luxo e as mordomias proporcionados pela estrutura da residência oficial da Presidência do Senado (tudo pago com dinheiro público).
A mansão tem 450 metros quadrados de área construída, com piscina, quadra de esportes, campo de futebol, jardim, três salas e três quartos amplos e biblioteca. O Senado paga, ainda, 12 funcionários (inclusive mordomos e seguranças) para prestarem serviço durante 24 horas na residência.
Pano verde – A paixão de Roseana Sarney pelo pano verde (particularmente pelo jogo de cartas conhecido como pif-paf) é conhecida nacionalmente, mas esse é um assunto sobre o qual a senadora não gosta de dar declarações públicas. No entanto, políticos próximos a ela e até jornalistas mais informados já revelaram sua predileção – que inclusive já a levou a tentar a sorte em cassinos internacionais, como os de Las Vegas, meca da jogatina mundial.
“Roseana só tem duas amigas: a viúva Clicquot [champanhe francesa Veuve Clicquot] e a rainha de copas”, afirmou certa vez o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), então na oposição, hoje aliado do clã Sarney. “Amigos de Roseana Sarney torcem para que os inimigos não descubram um dos seus pecados mais graves e escondidos: o carteado. Segundo eles, Roseana é capaz de largar tudo por uma mesa de pif-paf”, publicou o jornalista Claudio Humberto em sua coluna política, em 2002.
A senadora – que pode assumir o governo do Maranhão caso o TSE confirme a cassação de Jackson Lago – conta em sua turma fixa de carteado com: dois empresários do ramo de postos de combustíveis; a mulher de um empresário ligado a Fernando Sarney; um ex-senador maranhense; um empresário do ramo da construção civil; o dono de uma concessionária de veículos; e o assessor de um órgão da Justiça. O JP falou por telefone com um empresário (ramo de postos de combustíveis) que faz parte do grupo, mas ele não quis comentar o assunto. Outro empresário contatado (dono de concessionária) não retornou a ligação.
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Meu comentário:
É do conhecimento público o amor que Roseana nutre pela jogatina. São conhecidas suas idas a famosos cassinos de Las Vegas, berço da jogatina mundial. Quando governadora, dizia-se que varava madrugadas em mesas de jogos na Mansão da família, no Calhau. A supresa está no fato de a banca de jogo ser montada na residência oficial do pai, presidente do Senado, além de usar dinheiro público para bancar passagens de amigos que partiram de São Luís a Brasília, só para participarem da farra. Isso é grave e merece uma investigação rigorosa, pois é dinheiro público jogado fora para satisfazer o ego (ou vício) de Roseana. Esse fato só vem confirmar o que foi revelado pelo Jornal Correio Braziliense, em 21 de setembro de 2008, sobre a jogatina realizada em mansões de endinheirados em Brasília. Confira matéria.
21/09/2008
A Brasília da jogatina fora-da-lei se esconde em mansões do Lago Sul, suítes de hotéis, lojas e casas nas asas Sul e Norte e em cidades como Taguatinga. Há nove dias, a polícia estourou dois cassinos na 514 e na 714 Sul e desmascarou a ilegalidade que seduz ricos e pobres, homens e mulheres, jovens e adultos. As casas de jogos protegidas por muros altos, portões de ferro e seguranças armados abrigam gente que faz das apostas um negócio ou que viu o hábito de jogar se transformar em compulsão. Gente de bem e malandros, como eles mesmo se dividem, ocupam um ambiente em comum contaminado por trapaças, armações e muita exploração.
As casas mais badaladas estão no Lago Sul, onde salas de estar de empresários, médicos e servidores públicos viram cassinos movimentados durante a madrugada, todos os dias da semana. Homens e mulheres, a maioria com mais de 50 anos, sentam-se à mesa para ganhar ou, quase sempre, perder muito dinheiro com o jogo. Só entra na casa quem for convidado ou indicado por outro jogador. Para pôr a mão no baralho e nas fichas, o visitante precisa desembolsar pelo menos R$ 2 mil.
Os freqüentadores dos cassinos clandestinos têm medo de se identificar. Deixam claro que “gente de bem” é maioria nesses locais. O temor fica por conta dos poucos “malandros exploradores e perigosos”. Dois jogadores que conhecem a realidade do jogo no DF só toparam conversar com o Correio depois do acordo de não terem nome, idade ou profissão revelados. As casas do Lago Sul, segundo eles, funcionam há anos no mesmo lugar. “Ninguém mexe porque tem muita gente forte lá, muita gente importante”, disse um deles.
Vício e sofrimento
O submundo da jogatina na capital federal foi sacudido no último dia 12, quando a Polícia Civil fechou dois tradicionais cassinos na Asa Sul. A soma dos cheques apreendidos com os 25 detidos — entre eles um cabo da Polícia Militar, servidores do Congresso e do Banco Central — chega a R$ 270 mil. “Essas pessoas passaram dos limites e acabaram ficando sozinhas com o próprio vício”, afirmou a titular da 1ª Delegacia de Polícia, Martha Vargas, que há uma semana colhe o depoimento dos envolvidos.
Os investigadores agora se concentram em descobrir detalhes da suposta lavagem de dinheiro praticada pelos donos das casas. “O dinheiro do jogo alimenta outros crimes ou, no mínimo, enriquece pessoas que se aproveitam do vício alheio”, alertou a delegada.
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