EDITORIAL
VALOR ECONÔMICO
24/3/2009
A onda de denúncias contra senadores membros da mesa diretora é o que transborda de uma guerra política na bancada governista do Senado. E, se de um lado ela é profilática, de outro pode ser a afirmação dos interesses de um grupo não apenas sobre a máquina burocrática da instituição, mas do próprio poder que esse grupo exerce sobre o governo federal. A briga no Senado envolve a base parlamentar governista e, até agora, com a ajuda do Palácio do Planalto, ganharam posições os senadores que melhor manipulam a máquina burocrática, os que mais claramente exercem poder chantageando seus pares e o governo e aqueles que mais se identificam com a política tradicional de clientela - prática que usam nos seus redutos políticos para se eleger, e no Senado, para conseguir a hegemonia sobre a burocracia parlamentar e, assim, punir adversários e premiar aliados.
A ascensão do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) à liderança do seu partido, depois de quase ter sido cassado pelo plenário, é um exemplo disso. Calheiros era presidente do Senado em 2007, quando enfrentou vários processos na Comissão de Ética. Renunciou à presidência por falta de condições políticas de manter-se no comando da instituição. Voltou nas asas da troca de comando do Senado, em fevereiro deste ano, como o principal articulador do senador José Sarney na eleição para a presidência da Casa, contra o candidato do PT, senador Tião Viana (PT-AC)
.
Renan, ao mover-se como líder do maior partido no Congresso, age como um verdadeiro chefe político de clientela. Todos os seus atos, referendados por um Sarney que ajudou a eleger, estão dirigidos para premiar aliados - em especial a "tropa de choque" que se manteve ao seu lado durante o processo de cassação - e punir adversários.
Tião Viana aparece como um alvo preferencial de Calheiros. O senador acreano era seu vice, assumiu a presidência do Senado quando ele renunciou e deu celeridade ao julgamento, pelo plenário, dos processos de cassação contra o alagoano. Reforçar pessoalmente a brigada sarneyzista na disputa pela presidência do Senado foi uma resposta de Calheiros contra Viana. Em seguida, impôs uma derrota ao líder recém-eleito do PT no Senado, Aloizio Mercadante, que o teria "abandonado" durante o processo de cassação: o pemedebista articulou para derrotar a candidata petista à presidência da Comissão de Infraestrutura, Ideli Salvatti, e impôs ao PT a vitória de Fernando Collor (PTB-AL), consolidando a aliança com o PTB liderado por Gim Argello (DF) que dá a ele a liderança sobre uma bancada de 25 senadores, número suficiente para chantagear, retaliar, fazer acordos, isolar adversários e patrocinar aliados.
Com Renan e Sarney, ascendem a postos-chave e posições de liderança pessoas cuja característica política é a de lealdade aos dois senadores que mais são identificados com as práticas coronelistas de política, e que naturalmente estendem esse estilo à Câmara Alta. Eles fazerem isso, até se entende: essa é a tradição política de ambos, e ela atende aos senadores de suas tropas de choque. O curioso, todavia, é como o Palácio do Planalto aceitou essa reviravolta no Senado - aliás, não apenas isso, mas a estimulou, contrariando todos os interesses do PT. O governo Lula, provavelmente, deve ter considerado que o pragmatismo nas relações com o PMDB de Sarney e Calheiros não apenas evitará os aborrecimentos que teve no passado para aprovar matérias de seu interesse no Senado como garantirá o apoio do partido à candidatura da ministra Dilma Rousseff, promovida pelo presidente da República.
Ao certo, não fez o cálculo de quanto vai somar essa conta. A primeira fatura que o governo está pagando é a guerra surda entre os grupos de Sarney-Renan e de Tião Viana. Depois que os dois senadores tiverem demolido a reputação de Viana, a quem acusam pelo vazamento das denúncias contra Sarney, o governo passará a pagar para ter o apoio da bancada leal a Sarney-Renan, sem a menor garantia de que, nas vésperas da eleição, essa parcela do PMDB apoiará mesmo Dilma. Faz parte da lógica do clientelismo estar sempre do lado vitorioso. Se Dilma não subir muito nas pesquisas, a força do PMDB sarneysista, obtida com uma omissão do governo que pode ser interpretada como apoio, vai migrar rapidamente para o PSDB.
VALOR ECONÔMICO
24/3/2009
A onda de denúncias contra senadores membros da mesa diretora é o que transborda de uma guerra política na bancada governista do Senado. E, se de um lado ela é profilática, de outro pode ser a afirmação dos interesses de um grupo não apenas sobre a máquina burocrática da instituição, mas do próprio poder que esse grupo exerce sobre o governo federal. A briga no Senado envolve a base parlamentar governista e, até agora, com a ajuda do Palácio do Planalto, ganharam posições os senadores que melhor manipulam a máquina burocrática, os que mais claramente exercem poder chantageando seus pares e o governo e aqueles que mais se identificam com a política tradicional de clientela - prática que usam nos seus redutos políticos para se eleger, e no Senado, para conseguir a hegemonia sobre a burocracia parlamentar e, assim, punir adversários e premiar aliados.
A ascensão do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) à liderança do seu partido, depois de quase ter sido cassado pelo plenário, é um exemplo disso. Calheiros era presidente do Senado em 2007, quando enfrentou vários processos na Comissão de Ética. Renunciou à presidência por falta de condições políticas de manter-se no comando da instituição. Voltou nas asas da troca de comando do Senado, em fevereiro deste ano, como o principal articulador do senador José Sarney na eleição para a presidência da Casa, contra o candidato do PT, senador Tião Viana (PT-AC)
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Renan, ao mover-se como líder do maior partido no Congresso, age como um verdadeiro chefe político de clientela. Todos os seus atos, referendados por um Sarney que ajudou a eleger, estão dirigidos para premiar aliados - em especial a "tropa de choque" que se manteve ao seu lado durante o processo de cassação - e punir adversários.
Tião Viana aparece como um alvo preferencial de Calheiros. O senador acreano era seu vice, assumiu a presidência do Senado quando ele renunciou e deu celeridade ao julgamento, pelo plenário, dos processos de cassação contra o alagoano. Reforçar pessoalmente a brigada sarneyzista na disputa pela presidência do Senado foi uma resposta de Calheiros contra Viana. Em seguida, impôs uma derrota ao líder recém-eleito do PT no Senado, Aloizio Mercadante, que o teria "abandonado" durante o processo de cassação: o pemedebista articulou para derrotar a candidata petista à presidência da Comissão de Infraestrutura, Ideli Salvatti, e impôs ao PT a vitória de Fernando Collor (PTB-AL), consolidando a aliança com o PTB liderado por Gim Argello (DF) que dá a ele a liderança sobre uma bancada de 25 senadores, número suficiente para chantagear, retaliar, fazer acordos, isolar adversários e patrocinar aliados.
Com Renan e Sarney, ascendem a postos-chave e posições de liderança pessoas cuja característica política é a de lealdade aos dois senadores que mais são identificados com as práticas coronelistas de política, e que naturalmente estendem esse estilo à Câmara Alta. Eles fazerem isso, até se entende: essa é a tradição política de ambos, e ela atende aos senadores de suas tropas de choque. O curioso, todavia, é como o Palácio do Planalto aceitou essa reviravolta no Senado - aliás, não apenas isso, mas a estimulou, contrariando todos os interesses do PT. O governo Lula, provavelmente, deve ter considerado que o pragmatismo nas relações com o PMDB de Sarney e Calheiros não apenas evitará os aborrecimentos que teve no passado para aprovar matérias de seu interesse no Senado como garantirá o apoio do partido à candidatura da ministra Dilma Rousseff, promovida pelo presidente da República.
Ao certo, não fez o cálculo de quanto vai somar essa conta. A primeira fatura que o governo está pagando é a guerra surda entre os grupos de Sarney-Renan e de Tião Viana. Depois que os dois senadores tiverem demolido a reputação de Viana, a quem acusam pelo vazamento das denúncias contra Sarney, o governo passará a pagar para ter o apoio da bancada leal a Sarney-Renan, sem a menor garantia de que, nas vésperas da eleição, essa parcela do PMDB apoiará mesmo Dilma. Faz parte da lógica do clientelismo estar sempre do lado vitorioso. Se Dilma não subir muito nas pesquisas, a força do PMDB sarneysista, obtida com uma omissão do governo que pode ser interpretada como apoio, vai migrar rapidamente para o PSDB.
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