sábado, 4 de abril de 2009

DO CORREIO BRAZILIENSE: QUIZUMBA NO SENADO

A crise parece não ter fim. Desta vez foi o senador Arthur Virgílio que atacou o diretor-geral da Casa, acusando-o de ser o braço de Agaciel Maia

Leandro Colon e Marcelo Rocha
Da equipe do Correio

Valter Campanato/ABr - 8/4/08
REAÇÃO
“Se estão trocando as peças para não mudar, para no fundo manter pessoas que recebam ordens de Agaciel Maia, vou dizer ao presidente que vai continuar a roubalheira”
Senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB

O Senado está cada vez mais sem rumo. Da tribuna, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), disparou ontem ataques ao diretor-geral, José Alexandre Gazineo. Do outro lado da rua, a poderosa Secretaria de Telecomunicações não tem comando. Carlos Muniz, o Carlinhos, limpou as gavetas, despediu-se dos colegas e abandonou a diretoria do órgão antes mesmo de sair sua exoneração por causa de um dossiê com gastos de telefonia dos senadores. “Ele começou a adotar posturas esquisitas, fez uma reunião e foi embora. Deixou a secretaria acéfala”, reclama Gazineo.

Esquisito, porém, foi um outro episódio. Após criticar Gazineo e vinculá-lo ao ex-diretor-geral Agaciel Maia, Arthur Virgílio saiu do plenário e dirigiu-se ao terceiro andar, onde fica a Diretoria-Geral. Antes, destilou uma provocação. “Eu estou aqui há sete anos e não sei onde fica. Vou perguntar onde fica e vou lá agora perguntar ao dr. Gazineo se ele é um fantoche”, afirmou.

A quizumba começou depois da informação de que Agaciel teria ordenado a Gazineo, na quinta-feira, a demissão de cinco diretores que teriam sido nomeados a pedido do senador. “Vou inclusive pedir que ele discrimine os cinco, o dr. Gazineo, com peruca ou sem peruca, mas que diga os cinco, quais são”, disse. “Se estão trocando as peças para não mudar, para no fundo manter pessoas que recebam ordens de Agaciel Maia, vou dizer ao presidente que vai continuar a roubalheira no Senado.” Em nota, Gazineo desmentiu o contato com Agaciel. “O ex-diretor não mantém contato com o atual diretor, nem tem qualquer influência na atual gestão administrativa da Casa”, afirmou. Arthur Virgílio chegou a falar em investigação parlamentar sobre a gestão do ex-diretor-geral. “Eu chegaria ao ponto, que seria o extremo, de pedir a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito.”

Dossiê
Já Carlos Muniz, o Carlinhos, perdeu a diretoria da Secretaria de Telecomunicações na quinta-feira, dois dias depois de apresentar ao primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), um dossiê com dados de telefones celulares usados pelos senadores. O documento conteria uma relação nominal de todos os parlamentares e eventuais gastos e problemas relacionados.

O material foi apresentado numa rápida reunião do servidor com o senador na terça-feira. Heráclito não gostou do que viu e decidiu trocar o comando da poderosa secretaria. O estilo de Carlinhos e os dados referentes à telefonia irritaram Heráclito. “O senador demonstrou desagrado à conduta dele. Não existia mais clima”, disse Gazineo. O braço-direito de Carlinhos no órgão, Ricardo Macedo, também deve sair.

Carlos Muniz era homem de confiança de Agaciel Maia. Hoje, essa secretaria cuida de contratos milionários com empresas do setor. No total, R$ 18 milhões foram gastos no ano passado com serviços de telecomunicações. Em 2008, a telefonia do Senado esteve sob suspeita em meio à crise do grampo telefônico envolvendo o senador Demostenes Torres (DEM-GO) e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Uma varredura foi feita no sistema interno para saber se a escuta ilegal partiu da Casa legislativa. Nada teria sido encontrado.

PONTO A PONTO
“Não tenho nada com isso”
Igo Estrela/Esp. CB/D.A Press
Gazineo: “Tenho pelo dr. Agaciel consideração de colega”

Ex-diretor
Nunca fui do grupo de Agaciel Maia. Eu sou funcionário concursado. Tenho pelo dr. Agaciel consideração de colega, mas jamais fui sequer amigo íntimo. Ingressei aqui (Senado) por concurso, desenvolvi minhas atividades como advogado e me tornei diretor-geral adjunto sempre numa perspectiva puramente técnica. O meu trabalho na Casa sempre foi técnico.

Irregularidades
Com a maior tranquilidade, de cabeça erguida, digo que não tenho participação nisso. Por quê? Raciocina comigo. Quando você faz uma contratação viciada, (a irregularidade) não se dá na execução (responsabilidade da Diretoria-Geral Adjunta, ocupada por Gazineo). Ela se dá na formação do contrato, quando ele é assinado. Nessa parte aqui, eu não tinha gestão nenhuma. Eu não participava.

Gente demais
Quando começou a haver a elevação do número de funções, eu não era diretor-adjunto. Era só advogado. Acho que há uma necessidade de enxugamento da estrutura do Senado porque o excesso do número de diretores provoca uma espécie de crise de identidade na Casa. Quer dizer, você tem um número muito grande de diretores, que não é 181. Acho que vocês já se convenceram disso. Se somarem as diretorias e subdiretorias, vai chegar a um número aproximado de 120. Aquele número de 181 foi indevidamente inflado por pessoas que recebem função inerente ao cargo. Se eu não fosse diretor, eu estaria naquela lista, porque no meu concurso de advogado eu tenho essa FC (função comissionada).

Gestão passada
Por uma questão ética, eu não posso me manifestar sobre isso. À medida que a gente for podendo trabalhar, você vai ver que a nossa gestão é voltada para um outro tipo de visão. É uma visão técnica, com foco na eficiência, no que for necessário para que o Senado possa cumprir sua função da maneira mais eficiente, capaz e hábil.

Diretores
Eu não posso substituir a diretoria da Casa porque isso é uma competência do presidente José Sarney. Mudanças paulatinas têm sido feitas. Não se pode passar uma vassoura de súbito porque isso pode causar um desmantelo na instituição.

Terceirizados
Existe uma meta de redução de terceirizados no Senado. Ela começou por meio deste concurso que foi concluído agora em janeiro, visando a substituição de terceirizados na Comunicação Social. Por força do concurso, 60 postos foram transformados em postos a serem ocupados por servidores efetivos. E vai continuar nos próximos concursos, mantendo um número de vagas para a progressiva diminuição de terceirizados. É importante esclarecer que ao se ter a oportunidade de fazer um concurso nós não podemos pensar somente na substituição dos terceirizados porque a Casa ressente-se de servidores efetivos.

A missão
É um cargo difícil, que me traz desafios técnicos. Amanhã (hoje) faz um mês que estou aqui e, nesse período, eu não tenho tido vida. Enquanto eu estou acordado, eu estou trabalhando. Trabalhando ora nas crises que se implantam, para atender a mídia dentro do possível. Mas é necessário pensar a gestão, agir, fazer as coisas acontecerem para que o Senado dê um salto de qualidade, como os projetos de reestruturação da Casa e de valorização do servidor por critérios de eficiência e mérito. Fazer com que o funcionário se sinta identificado com o seu trabalho e que se sinta cada vez melhor, dentro de sistemas técnicos, estratégicos, objetivos. Não de simpatia, tapa nas costas. Nada disso.

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