
Sem investimentos engatilhados, coube ao presidente Luis Inácio Lula da Silva pedir calma aos gestores estaduais e municipais reunidos, nesta terça-feira (05) no aeroporto Petrônio Portela, em Teresina. Craque em metáforas, Lula comparou o atendimento aos alagados a uma pessoa que foi baleada. “Não adianta desespero. Essa hora é como tratar de uma pessoa que chegou baleada no hospital: a primeira medida é estancar o sangramento e não retirar a bala. Nesse momento, [no Piauí], a primeira coisa a se fazer é esperar a água baixar e, aí sim, colocar equipes para fazer o mais rápido possível o levantamento do que cada município teve de prejuízo.”

O presidente deu a orientação básica do que deve ser feito em situações de emergência – retirar as pessoas das casas em risco, garantir a alimentação e a saúde dos desabrigados – e enfatizou que reconstrução das áreas atingidas será possível apenas com a normalização do nível dos rios e o cálculo exato dos prejuízos. Medidas que exigem “algum tempo”. “O que faz facilitar a liberação de recursos não é a emergência, é o projeto. É o projeto que faz que o dinheiro possa fluir com muito mais facilidade.”

Mesmo sem noção da quantidade de recursos que serão necessários para a reconstrução do Estado, Lula garantiu apoio aos municípios. “Não é por causa de R$ 5 milhões, R$ 10 milhões, R$ 20 milhões que a gente não vai ajudar esse povo a minorar esse sofrimento. Nós somos pobres, mas nem tanto. Sabemos que o Governo Federal é quem pode mais e se o Governo Federal pode mais, temos que chamar para nós essa responsabilidade pra ajudar a resolver esse problema.”

Lula distribui culpa por burocracia e lentidão na transferência de verbas
Ao concluir o levantamento dos danos e da verba necessária para sanar os problemas causados pelas enchentes, é necessário organização e objetividade por parte dos gestores municipais para captar recursos com agilidade. As regras de fiscalização e a burocracia criada ao longo dos últimos anos amarram a liberação de verbas.
“Somos um país que durante 30 anos a economia não cresceu e, portanto, a gente não pensava em desenvolvimento. Ao longo desse tempo foram criadas regras de fiscalização; criamos muitos mecanismos de fiscalização e poucos instrumentos de produção, de execução”, analisou o presidente Lula.

Para retratar bem a lentidão para a liberação de verbas da União, o presidente citou o exemplo de uma enchente que atingiu algumas cidades à margem do Rio São Francisco: “Há mais ou menos cinco anos uma grande cheia foi registrada no Rio São Francisco e até hoje algumas cidades não conseguiram o dinheiro. Porque que não conseguiram? Porque na hora que o ministro libera uma parte do dinheiro, a segunda parte só pode ser depositada com a prestação de contas da primeira.”
Lula se esquivou da responsabilidade pela lentidão na liberação da ajuda e distribuiu a culpa com os poderes. De acordo com ele, a burocracia depende das leis que o Congresso Nacional “criou para achar que estava fiscalizando e estava era criando uma ‘certa’ dificuldade”. “Se o ministro Geddel fizer alguma coisa que não esteja de acordo com a lei, o primeiro a cair em cima dele é o adversário político, o segundo é o Tribunal de Contas da União e o terceiro é o Ministério Público, que vai logo pedindo a instalação de um processo contra ele.”

Um dos pontos mais batidos pelo presidente Lula no discurso aos prefeitos e gestores estaduais foi a necessidade de tirar as famílias das áreas de risco e garantir que elas não retornem às mesmas condições.
“Cada casa que nós fizermos no mesmo lugar, daqui a dois ou três anos vamos visitar e saber que essas residências foram cobertas novamente pela água. Não podemos construir casas no mesmo local que encheu. Isso seria total irresponsabilidade”, enfatiza Lula.
Ao analisar a situação dos municípios piauienses e a cobrança por medidas emergenciais, o chefe do executivo federal pontuou uma falha secular: a ausência de planos diretores nas cidades e estados.
Sem planejar o crescimento urbano ao longo dos anos, os gestores permitiram que bairros inteiros fossem construídos em áreas vulneráveis a tragédias naturais. “As situações de emergência servem para nos ensinar como é que a falta de planos diretores permitiram que pessoas se instalassem em lugares que nós sabemos serem inadequados para morar”, concluiu.
Lobão diz que cheia do Poti causa refluxo no Rio Parnaíba
A equipe do Governo Federal está afinada, pelo menos no discurso. A palavra de ordem entre os ministros é garantir o atendimento emergencial às famílias afetadas pelas enchentes e, apenas em um momento posterior, tomar providências mais amplas.
Edison Lobão, ministro de Minas e Energia, ao sobrevoar as áreas críticas de Teresina, disse que a cheia do Rio Poti está interferindo até mesmo no Rio Parnaíba. “O Poti encheu muito; está havendo inclusive um refluxo no Parnaíba”, relata.
Para o ministro a hora é de atender as famílias afetadas. Só depois que investimentos maiores devem ser feitos para “evitar problemas dessa natureza no futuro e também para corrigir os danos que agora foram causados”.
Ministro afirma que não há investimentos para áreas alagadas no Piauí
O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira, afirma que até o momento não há nenhum investimento previsto para a reconstrução das áreas atingidas pelas águas no Piauí. “Não temos ainda um levantamento do tamanho do prejuízo pra poder começar a trabalhar na reconstrução. O que o presidente Lula determinou que fizéssemos é prestar solidariedade aos desabrigados no que eles mais precisam. Já enviamos para cá 15 mil cestas básicas, kits de medicamentos e lençóis. Essa estrutura que os desabrigados precisam de imediato”, disse.
Pensar investimentos apenas quando as águas retornarem ao nível normal e os prejuízos forem calculados. De recursos previstos existem apenas R$ 10 milhões assegurados – em processo licitatório -, de um projeto antigo, para a manutenção das áreas de contenção do Rio Poti.
O ministro Geddel, durante reunião em Teresina, pediu que o governador Wellington Dias renovasse outro projeto, de cerca de R$ 15 milhões, para mais obras de contenção do Poti e proteção das populações ribeirinhas.
“O Governo do Estado já encaminhou esse projeto, mas com alguns equívocos. Hoje pedi que ele renovasse e enviasse novamente. Os investimentos serão para evitar ou diminuir o risco de que no futuro um acidente como esse se repita”, explica o ministro, fazendo referência aos prejuízos causados pela cheia recorde do rio Poti.
Lula visita famílias desabrigadas no Poti Velho
Após fazer um sobrevoo de helicóptero sobre as áreas alagadas de Teresina, o presidente Luis Inácio Lula da Silva visitou, juntamente com a sua equipe de assessores, ao Centro Social do bairro Poti Velho, na zona Norte da Capital. No bairro, Lula falou com a população e visitou áreas atingidas pelas águas.
Do Poti Velho, o presidente Lula irá se deslocar para o aeroporto Petrônio Portela, onde se reúne com prefeito e secretários para discutir o que pode ser feito para recuperar os municípios afetados pelas chuvas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário