Ao Estado, João Dias Ferreira contradiz
a versão de Orlando Silva sobre o encontro entre os dois
Leandro Colon, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA. Em entrevista exclusiva ao
Estado nesta segunda-feira, 17, o policial militar João Dias Ferreira contradiz
a versão do ministro do Esporte, Orlando Silva (PC do B), sobre o encontro entre
os dois. Ferreira afirma que Orlando propôs, pessoalmente numa reunião em março
de 2008 na sede do ministério, um acordo para que o esquema de corrupção na
pasta envolvendo o Programa Segundo Tempo não fosse denunciado. O ministro diz
ter se encontrado com Ferreira apenas uma vez, entre 2004 e 2005, para discutir
convênios das entidades dirigidas pelo policial com o ministério.
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Policial João Dias Ferreira |
Ferreira deu detalhes do encontro que
diz ter tido com o ministro do Esporte em março de 2008. "O acordo era
para que eles tomassem providências internas, limpassem meu nome e eu não
denunciaria ao Ministério Público",
afirmou. "O encontro foi na sala de reunião dele, no sétimo andar do
ministério", disse.
Neste encontro, o policial disse que
negociou com o ministro a produção de um documento falso para selar o acordo,
já que o ministério cobrava cerca de R$ 3 milhões de suas entidades.
"Nessa reunião com o Orlando, eles falaram em produzir um documento sem
data. Ele foi pré produzido e consagrado. A reunião foi em março , mas eles
colocaram um documento com data de dezembro de 2007 dizendo que eu encerrava o
convênio. É um documento fraudado", disse.
Duas semanas depois do encontro com
Orlando, já em abril, uma nova reunião foi feita no ministério, desta vez sem a
presença do ministro. Essa conversa, segundo o policial, ocorreu numa sexta à
noite, e contou com dirigentes da pasta aliados do ministro. Ele diz ter
gravado este encontro.
O ministro afirmou no sábado ter
encontrado o policial uma só vez entre 2004 e 2005, quando era
secretário-executivo da pasta na gestão de Agnelo Queiroz à frente do
ministério. "Foi a única vez que encontrei essa pessoa", disse o
ministro, em entrevista no México. Segundo o policial, esse encontro mencionado
por Orlando jamais ocorreu. "Essa reunião que ele diz ter feito comigo
nunca aconteceu. Não existe essa reunião. O ministro faltou com a
verdade", disse Ferreira. "O ministro esteve comigo uma vez, em março
de 2008, para fazer um acordo com o pessoal dele para eu não denunciar o
esquema", disse.
Leia trechos da entrevista que será
publicada nesta terça-feira na versão impressa de O Estado:
O
ministro Orlando Silva diz que se encontrou só uma vez com você, entre 2004 e
2005, na gestão do ex-ministro Agnelo Queiroz. É verdade?
Essa reunião que ele admite nunca
aconteceu. Não existe essa reunião. O ministro faltou com a verdade. Ele esteve
comigo uma vez para fazer um acordo com o pessoal dele para eu não denunciar o
esquema.
Quando
foi essa reunião?
Em março de 2008, estava toda a cúpula.
Foi no ministério, no sétimo andar, na sala de reuniões do Orlando.
Por
que houve essa reunião?
Eles já tinham proposto um acordo e eu
disse que só admitia na presença do Orlando para ele homologar. E eu disse na
reunião que descobri todas as manobras, a ligação dos fornecedores. Eles
começaram a dizer que estávamos irregular a partir do momento que a gente não
pagou os 20% iniciais e não admitiu os fornecedores que eles indicaram. Fomos
rebeldes.
E
o que disse o ministro?
O Orlando disse para eu ficar tranquilo,
que tudo seria resolvido, que não faria escândalo. Eu disse, que se isso não
fosse feito, eu tomaria todas as providências e denunciaria o esquema. O
esquema é padrão, um protocolo, como vocês do Estado mostraram em fevereiro. E
apontei, na reunião, cinco funcionários responsáveis pelas fraudes.
.
E
qual o teor do acordo?
O acordo era que eles tomassem
providências internas, limpassem meu nome e eu não denunciaria ao Ministério
Público. Nessa reunião com o Orlando, eles falaram em produzir um documento sem
data. Ele foi pré-produzido e consagrado. A reunião foi março, mas eles
colocaram um documento com data de dezembro de 2007 dizendo que eu encerrava o
convênio. É um documento fraudado. Eu disse que não concordaria e iria
denunciar. Me acharam com cara de mané.
Esse
acordo foi feito na presença do ministro?
Sim. Mas logo em seguida, eles, em vez
de resolver o problema, fraudaram um documento dizendo que eu devia dinheiro e
jogaram nas minhas costas.
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