FERNANDO MELLO
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
Delator do esquema de corrupção no
Ministério do Esporte, o policial militar João Dias Ferreira afirmou à Folha
que a decisão de melhorar o contrato de seu segundo convênio com a pasta foi
tomada pelo ministro Orlando Silva com o objetivo de "acalmá-lo".
Em julho de 2006, Orlando assinou um
despacho que reduziu o valor que a ONG de João Dias Ferreira precisava gastar
como contrapartida para receber verbas do governo, permitindo que o policial
continuasse participando de um programa social do ministério.
O documento, revelado ontem pela Folha,
foi o primeiro a estabelecer uma ligação direta entre Orlando e o policial
militar, que hoje acusa o ministro de comandar um esquema de desvio de dinheiro
público para alimentar o caixa do PC do B.
A redução da contrapartida foi
autorizada por Orlando mesmo depois de auditorias internas do próprio Ministério
do Esporte terem apontado indícios de fraude nos negócios do policial com a
pasta.
Naquele momento, Ferreira cobrava que
fossem contornados problemas de prestação de contas em um primeiro convênio
feito com a pasta.
Segundo o policial militar, o pedido de
redução da contrapartida foi feito originalmente a Júlio Filgueiras, então
Secretário Nacional de Esportes.
Filgueiras teria dito que o ministério
arranjaria uma contrapartida "simbólica", o que de fato ocorreu.
Orlando reduziu para 6% a contrapartida.
No primeiro convênio com Ferreira, a contrapartida era de 22%. A taxa média
praticada de todas as ONGs era de 30%.
Ferreira disse ainda que, após a
contrapartida ser reduzida, ele se encontrou com Orlando em um evento público.
O ministro teria dito: "Te dei uma ajuda lá na contrapartida. Deu
certo?". João disse ter agradecido a Orlando pela ajuda.
Em dezembro de 2007, vistorias feitas
pelo ministério descobriram que a Associação João Dias também fraudou o segundo
convênio. Foi aí que o policial começou a brigar com o ministério.
Em abril de 2008, Ferreira se reuniu com
assessores de Orlando Silva para tentar resolver os problemas com suas duas
prestações de contas. Gravações reveladas pela revista "Veja"
mostraram que esses auxiliares do ministro sugeriram um jeito de driblar a punição
e manter os convênios.
Ferreira disse à Folha, também, que
houve um segundo motivo para a redução da contrapartida. De acordo com o
policial, isso permitiria aumentar o volume de dinheiro público desviado.
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