COLABORAÇÃO
PARA A FOLHA
O
corpo do carnavalesco Joãosinho Trinta chegou às 16h ao prédio do Museu
Histórico e Artístico em São Luís do Maranhão, onde será velado até domingo,
quando segue em cortejo para o teatro Arthur Azevedo. O enterro está previsto
para segunda-feira, no Cemitério do Gavião, às 10h30. O carnavalesco morreu
hoje, aos 78 anos.
O
carnavalesco estava internado desde o último dia 3 na UTI (Unidade de Terapia
Intensiva) do UDI Hospital, em São Luís (MA), cidade onde nasceu. Segundo
boletim divulgado pelo hospital, a causa da morte foi choque séptico secundário
a pneumonia e infecção urinária.
Fiel
à máxima de que "Pobre não gosta de pobreza, gosta de luxo", o
maranhense foi um dos responsáveis por modernizar o Carnaval do Rio.
Amigos
e representantes de escolas de samba lamentaram a morte de Joãosinho Trinta e
destacaram sua importância na história do Carnaval brasileiro.
"João
sempre foi uma referência, representou uma mudança de conceito no que se refere
a Carnaval. Mudou desfile, mudou alegoria, fantasia, mudou tudo. O que o João
pregava nos anos 70 e os outros atiravam pedras, hoje em dia as pessoas
valorizam e acham bonito", afirmou o carnavalesco da Unidos da Tijuca,
Paulo Barros.
A
ministra da Cultura, Ana de Hollanda, também lamentou morte do carnavalesco
maranhense.
"A
morte de Joãosinho Trinta é uma enorme perda para nossa cultura no que ela tem
de mais vivo e popular como tradução do Brasil. Afinal, Joãosinho, através dos
seus desfiles de carnaval com elementos inusitados e ousados, retratava nossas
histórias, mitos e mazelas. Este maranhense, que hoje põe o Brasil de luto,
deixa em nossa memória momentos antológicos em mais de cinco décadas de
atuação. Fica aqui meu abraço solidário à família, aos amigos e à toda a
comunidade carnavalesca", disse a ministra.
BIOGRAFIA
Nascido
João Clemente Jorge Trinta, em 1933, o carnavalesco, artista plástico,
cenógrafo e bailarino chegou a capital carioca em 1951, aos 18 anos --antes
disso trabalhava como escriturário. Cinco anos depois, passou a integrar o Balé
do Teatro Municipal do Rio. Amigo do poeta Ferreira Gullar, chegou a dividir um
apartamento no Catete com o conterrâneo.
Em
1963 ingressou na Acadêmicos do Salgueiro e ajudou o carnavalesco Arlindo
Rodrigues com o enredo "Xica da Silva" (samba-enredo de Anescarzinho
do Salgueiro e Noel Rosa de Oliveira). A escola foi campeã.
Criador
dos grandes carros alegóricos, só foi "assinar" um desfile como
carnavalesco em 1974, também para o Salgueiro.
Membro
da equipe de Fernando Pamplona, Trinta ajudou a transformar os desfiles no que
são hoje. Perderam espaço os passistas que desfilavam livres no chão, sem
carros alegóricos ou fantasias mirabolantes, ao som de sambas sincopados, para
dar espaço a espécie de "ópera popular", em que as alas desfilam em
blocos seguindo coreografias moldadas à risca para contar o enredo da escola.
Em
1989, a Beija Flor de Nilópolis, então sob o comando do carnavalesco, foi
impedida de levar para o Sambódromo a imagem de um Cristo mendigo dentro do
enredo "Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia".
Para
burlar a proibição e ao mesmo tempo criticar a Igreja, que havia recorrido à
Justiça para vetar o uso da imagem, Joãosinho envolveu a estátua em plástico
preto, com uma faixa onde se lia "Mesmo proibido, olhai por nós". A
escola ficou em segundo lugar --a campeã foi a Imperatriz Leopoldinense-- mas o
carnavalesco fez um desfile histórico, lembrado até hoje como um dos mais
emocionantes da passarela do samba.
Foram
17 anos na Beija-Flor de Nilópolis e sete na Viradouro, mas no início dos anos
2000 Joãosinho transferiu-se para a Grande Rio.
Em
2004, a escola de samba o demitiu horas antes da apuração oficial, alegando
insatisfação com a concepção do enredo "Vamos Vestir a Camisinha, Meu
Amor...". Segundo a Grande Rio, a ideia da escola era realizar um desfile
para a conscientização do uso da camisinha e do perigo das doenças sexualmente
transmissíveis.
No
entanto, a concepção do carnavalesco era mais sexualizada, com carros
alegóricos que reproduziam imagens do "Kama Sutra" (manual indiano de
posições sexuais). Dois carros com cenas de sexo foram encobertos, por
recomendação da Promotoria de Infância e Juventude de Duque de Caxias (região
metropolitana do Rio). A escola classificou-se em 10º lugar.
Joãosinho
se afastou do Carnaval em 2006, depois de ter sofrido dois AVCs (acidente
vascular cerebral) e continuado a trabalhar --o primeiro foi em 1997 e o
segundo, em 2004.
De
tão associado à festa virou tema de documentário, livro e, claro, samba enredo.
No filme "A raça síntese de Joãosinho Trinta", lançado em 2009, os
autores investigam o processo de criação de um enredo para uma das muitas
escolas de samba em que ele trabalhou.
Atualmente,
Trinta estava no Maranhão trabalhando em projetos da Secretaria da Cultura para
a comemoração dos 400 anos de São Luís, em 2012. Ele planejava um cortejo de 5
mil pessoas, repleto do luxo que o tornou famoso, para contar a trajetória da
cidade.
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