Carlos Madeiro
Do UOL, em Maceió
O MP-RN (Ministério Público do Rio
Grande do Norte) encaminhou à Procuradoria Geral da República um depoimento do
empreiteiro potiguar José Gilmar de Carvalho Lopes, no qual ele afirma que o
senador e presidente nacional do DEM, José Agripino Maia, teria recebido R$ 1
milhão em dinheiro “vivo” para a campanha de 2010 no Estado. O senador, que
desde terça-feira (27) é o líder do partido no Senado, nega veementemente a
denúncia.
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Agripino Maia é acusado de ter recebido
R$ 1 milhão para a
campanha de 2010 no RN. O senador, que desde terça-feira
(27) é
o líder do partido no Senado, nega veementemente a denúncia
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O depoimento do empresário --que é dono
da construtora Montana, uma das maiores do Rio Grande do Norte-- foi dado em
novembro de 2011, durante as investigações de um suposto esquema montado para
manter o monopólio indevido nas inspeções ambientais veiculares no Estado, que
poderia render R$ 1 bilhão aos acusados. Ao todo, 36 pessoas foram denunciadas
e 27 tiveram a denúncia aceita --entre elas o suplente de Agripino Maia-- e se
tornaram réus no processo da operação Sinal Fechado. As fraudes teriam sido
realizadas com a participação de políticos, ex-governadores e servidores do
Detran-RN (Departamento de Trânsito do Rio Grande do Norte).
O depoimento vazou do processo, que
corre em segredo de Justiça, e foi publicado por blogs e sites do Rio Grande do
Norte nesta quinta-feira (29). À reportagem do UOL, a assessoria de imprensa do
MP-RN confirmou a veracidade do depoimento e que o documento foi remetido para
a Procuradoria Geral da República, já que o senador tem foro privilegiado, para
que decida se uma investigação será aberta ou não. Por sua vez, o MP-RN não soube
informar como o documento foi parar na mão de jornalistas potiguares.
No depoimento, Gilmar afirmou que o
repasse do R$ 1 milhão --que seria fruto do desvio de recursos públicos do
Detran-RN-- teria sido feito pelo advogado George Olímpio, que foi preso e
denunciado na operação Sinal Fechado. Além do declarante, uma advogada e dois
promotores assinam o documento.
O empresário contou aos promotores que
George assegurou que “deu R$ 1 milhão em dinheiro, de forma parcelada, na
campanha eleitoral de 2010 a Carlos Augusto Rosado [marido da governadora
Rosalba Ciarlini, também do DEM] e José Agripino Maia, e que esta doação foi
acertada no sótão do apartamento de José Agripino Maia em Morro Branco [bairro
nobre de Natal].”
No depoimento, dado no mesmo dia em que
foi detido pela polícia, o empresário deu vários detalhes sobre a suposta
distribuição de propina e lucros advindos do valor recolhido do contrato de
prestação de serviço de inspeção veicular ambiental do Rio Grande do Norte.
Segundo a denúncia feita pelo MP, após
as investigações que resultaram na operação Sinal Fechado, George Olímpio e
Gilmar Lopes fariam parte da “organização criminosa” que elaborou e fraudou
concorrência pública no Detran-RN para garantir o domínio da inspeção veicular
no Estado, contando com a participação de agentes públicos.
Entre os denunciados pelo MP estão os
ex-governadores Wilma de Faria e Iberê Ferreira de Souza, ambos do PSB, que são
acusados de receber propina da organização criminosa. Para o MP, uma das
principais provas foi o depoimento prestado por Gilmar ao MP. Os
ex-governadores negam a denúncia. Outro denunciado é o suplente de José
Agripino Maia no Senado, João Faustino. Todos já são réus no processo, pois a
denúncia contra os 27 acusados foi aceita pela Justiça potiguar.
Sobre o esquema, o MP diz que “tudo bem
articulado para que o Consórcio INSPAR se sagrasse, como ocorreu, vitorioso na
concorrência em comento, cujo contrato administrativo representava, em volume
de recursos, o maior contrato já celebrado pelo Departamento de Trânsito do
Estado do Rio Grande do Norte, havendo uma perspectiva de faturamento anual de
cerca de R$ 50 milhões de reais, e, portanto, de mais de R$ 1 bilhão nos 20
anos de prazo da concessão”. George Olímpio é citado como um dos três responsáveis
pela elaboração do edital de licitação direcionado. Ele também é apontado nas
investigações como distribuidor da propina aos agentes públicos do Rio Grande
do Norte.
Sob
efeito de medicamentos
Em nota encaminhada ao UOL, a assessoria
do senador José Agripino Maia informou que "de acordo com o advogado
criminal José Luiz Carlos de Lima, o empresário Gilmar da Montana, seu cliente,
desmentiu o depoimento no qual fez referência à suposta doação a campanha de
José Agripino."
Segundo a nota, "o advogado
informou que o empresário fez as primeiras afirmações sob efeitos de
medicamentos, sem estar acompanhado de um advogado criminal e logo depois de
ser preso, o que prejudicou e distorceu o teor das declarações. Segundo José
Luiz Carlos de Lima, nos depoimentos seguintes e na defesa preliminar remetida
à Justiça, Gilmar negou peremptoriamente ter informação sobre doação para
campanha."
A assessoria ainda afirmou que no
depoimento vazado, "Gilmar da Montana não acusou diretamente José Agripino
ou qualquer pessoa. Apenas disse que tinha ouvido dizer de outro empresário que
esse teria feito doações. Ou seja, em nenhum momento o empresário foi
testemunha do que acusou e depois se desmentiu."
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