Delegado diz que sobrinho do
contraventor deu três cheques ao tucano para adquirir imóvel
Alfredo Junqueira e Alana Rizzo, de O
Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O depoimento do delegado
federal Matheus Mela Rodrigues na tarde desta quinta-feira, 10, à CPI do
Cachoeira, complicou ainda mais a situação do governador de Goiás, Marconi
Perillo (PSDB), e de outros integrantes da cúpula da administração estadual.
Além de confirmar encontros e ligações telefônicas entre o tucano e o
contraventor Carlinhos Cachoeira, o responsável pelo inquérito da Operação
Monte Carlo disse a parlamentares que o contraventor teve participação direta
na compra de uma casa do governador tucano.
De acordo com parlamentares que
acompanharam as mais de oito horas de sessão, Rodrigues disse que foram usados
três cheques de Leonardo Almeida Ramos, sobrinho de Cachoeira, na aquisição do
imóvel localizado em Alphaville, condomínio de luxo em Goiânia, que pertencia a
Perillo. Foi neste imóvel que o contraventor foi preso no dia 29 de fevereiro,
data em que a operação da PF foi desencadeada.
Os três cheques repassados ao governador
goiano somavam R$ 1,4 milhão, segundo o delegado federal. Duas folhas eram de
R$ 400 mil e a outra de R$ 600 mil. “Ele confirmou que foram três cheques”,
disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Na avaliação do senador Randolfe
Rodrigues (PSOL-AP), as informações do delegado confirmam que o imóvel foi
vendido de Perillo para Cachoeira.
“A casa em que ele foi preso pertencia
anteriormente a Perillo. Logo, foi uma venda do governador para Cachoeira”,
afirmou. Ao confirmar ter ouvido do delegado sobre os cheques do sobrinho de
Cachoeira para o governador de Goiás, o senador tucano Cássio Cunha Lima (PB)
argumentou que a transação mostra que o negócio foi lícito. “Se houve um
cheque, foi um negócio lícito”, disse.
A transação foi revelada nos autos da
operação. O delegado não apresentou à comissão cópia dos cheques do sobrinho do
bicheiro. Esses documentos ainda podem constar do farto material apreendido
durante a operação, mas que ainda não foi periciado. O conteúdo apreendido em
28 dos 80 locais de busca e apreensão visitados pela PF no dia da operação
ainda não foi sequer tocado.
Em entrevistas logo após a operação,
Perillo afirmara que a casa havia sido comprada pelo empresário Walter Paulo
Santiago, dono da Faculdade Padrão. O empresário também já confirmou ter
adquirido o imóvel.
Oficialmente, no entanto, o imóvel foi
vendido para a empresa Mestra Administração e Participações. Conforme o Estado
revelou no início do mês, a firma está registrada em nome de supostos laranjas.
As revelações do delegado fizeram com
que o presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), admitisse submeter à
votação do colegiado na próxima quinta-feira a revisão do cronograma de
trabalho da comissão para permitir a convocação de Perillo. As convocações dos
governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Sérgio Cabral Filho
(PMDB), do Rio de Janeiro, também poderá ser submetida à votação no dia 17.
Todos os requerimentos serão individuais.
Em nota, o governador que a venda da
casa foi intermediada “pelo sr. Wladmir Garcêz, que inicialmente se apresentou
como comprador do imóvel e, na escrituração, ele disse que o comprador seria o
sr. Walter Paulo. Em seguida o sr. Wladmir levou os cheques ao governador. Ele
recebeu os cheques , depositou-os nas datas combinadas e só escriturou o imóvel
após compensação de todos os cheques.
Na época o governador não observou o
nome do emitente pois a casa só seria escriturada após a devida quitação.”
Segundo Perillo, “trata-se de patrimônio pessoal” e foi “vendida rigorosamente
dentro da lei e declarada no Imposto de Renda em uma transação que,
absolutamente, nada tem a ver com a atividade pública do governador”. Alega que
se “tivesse alguma dúvida” sobre a legalidade e não tivesse “agido de boa fé,
não teria declarado a venda”.
COLABOROU EUGÊNIA LOPES
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