O Globo

Segundo Luís Gouveia de Paula, da
Prelazia de São Félix do Xingu, a iniciativa da escolta foi da própria Polícia
Federal que soube que o bispo iria viajar para Goiás para participar da festa
dos 90 anos do bispo Dom Tomás Balduíno, bispo-emérito de Goiás e assessor da
Comissão Pastoral da Terra. Dom Pedro viajou num avião fretado pela Prelazia.
– Não foi pedida escolta alguma, mas a
Polícia Federal tomou iniciativa de escoltá-lo por medida de segurança, Há
cerca de cinco dias, num bar da cidade, um homem havia feito uma ameaça
pública: disse que Dom Pedro Casaldáliga não passaria desta semana – afirmou
Luís.
Apesar disso, Cleber César Buzatto,
secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), negou que Dom
Pedro Casaldáliga tenha deixado São Félix do Araguaia devido às ameaças que vem
sofrendo. Segundo ele, o bispo viajou apenas para participar da festa de Dom
Tomás Balduíno. A Prelazia de São Félix do Xingu não soube informar quando Dom
Pedro retornará para casa e explicou que ele encontra-se com a saúde
fragilizada, em função do Mal de Parkinson.
– Ele não está sob proteção da Polícia
Federal e nem aceitaria este tipo de coisa – afirmou Gilberto Vieira dos
Santos, coordenador do Cimi no Mato Grosso.
As ameaças ao bispo têm sido constantes.
Em novembro, depois do bloqueio da BR-158 e de um protesto dos ocupantes da
Terra Indígena em Brasília, líderes do movimento contra a demarcação passaram a
dizer que a demarcação das terras só inclui a área ocupada por plantações
porque o bispo havia influenciado o processo, incitando os invasores contra o
religioso.
O início do processo de desocupação, que
será feito por etapas, está previsto para esta segunda-feira. A TI tem 165.241
hectares e pertence ao povo xavante, mas apenas 20 mil hectares são de fato
ocupados pelos índios. O restante são propriedades de criação de gado ou
plantações de soja e arroz. A homologação da área ocorreu em 1998, mas desde
então vem sendo alvo de vários recursos judiciais por parte dos ocupantes. Em
outubro passado, o Supremo Tribunal Federal determinou a saída deles, mas
outros recursos foram apresentados à Justiça.
Segundo o Ministério Público Federal,
uma equipe de desintrusão ajudará na saída das famílias que optaram por cumprir
a notificação judicial e sair voluntariamente, mas pediram ajuda para retirar
seus pertences e mobiliário. A área a ser desocupada foi dividida em quatro
setores e a equipe de trabalho começará nas propriedades de grande porte e
menos povoadas para, posteriormente, seguir para as áreas com maior concentração
de pessoas. O Incra montou uma base de apoio para cadastrar trabalhadores para
o programa de reforma agrária e dá orientações para cadastramento em programas
sociais, como o bolsa família.
Segundo Gilberto Santos, os índios estão
com medo e evitam circular fora das aldeias. No último dia 3 de novembro, um
xavante foi abordado no município de Água Boa, quando retornava de atendimento
médico. Um homem perguntou a ele se era filho do cacique. O rapaz negou. Na
estrada, o indígena percebeu que estava sendo seguido por dois carros e
reconheceu alguns de seus ocupantes como sendo do grupo de invasores da TI
Marãiwatsédé. Na tentativa de escapar do grupo, ele capotou o veículo que
dirigia a cerca de 3 km da aldeia. Foi ajudado por caminhoneiros e conseguiu
chegar em casa. O carro capotado foi encontrado incendiado. Produtores rurais
chegaram a bloquear a BR-158 na altura de Alto Boa Vista e realizaram protesto
em Brasília para pedir a suspensão da decisão judicial que determinou a
retirada deles.
A reunião para programar a desocupação
da TI, realizada na semana passada, foi coordenada pela procuradora Marcia
Brandão Zollinger (MPF-MT) e participaram representantes da Funai, Incra,
Secretaria Nacional de Articulação Social da Presidência da República, Polícia
Federal, Ibama, Advocacia Geral da União e Ministério do Trabalho e Emprego.
Marãiwatsédé começou a ser ocupada na
década de 50. O povo xavante foi retirado do local por aviões do Exército e
levados para outra região do Mato Grosso, 400 km da área original, onde muitos
morreram vítimas de epidemia de sarampo. O atual cacique Damião Padridzane era
um garoto quando, em 1966, foi retirado de sua terra, ao lado de toda a
família, num avião da Força Aérea Brasileira (FAB), para instalação do projeto
Suiá Missu. O projeto foi repassado à italiana Agip que, durante a Eco 92, no
Rio, destinou os 165 mil hectares para os xavante.
Dom Pedro Casaldáliga foi nomeado bispo
em 1971 e enviado para a Prelazia de São Félix. Ali, ele conheceu a história
dos índios que estavam sendo retirados de suas terras por grandes projetos
agropecuários financiados pelo governo, por meio da antiga Sudam. No mesmo ano
ele fez também uma Carta Aberta enunciando os problemas também dos
trabalhadores rurais. Ele ajudou a criar o Cimi e o Conselho Pastoral da Terra
(CPT). Criticado por bispos conservadores e por militares, Dom Pedro
Casaldáliga chegou a ser ameaçado a ter de sair do Brasil. O então Papa João
Paulo VI teria mandado recado que não aceitaria sua expulsão
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