Quarenta detentos de facção que teria ordenado ataques foram transferidos para presídios federais
Desde o último dia 30 foram realizados 106 ataques em todo o estado
Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo acompanha a movimentação da Força Nacional de Segurança em Santa Catarina, junto com o governador do estado, Raimundo Colombo Petra Mafalda / Mafalda Press / Agência O Globo
FLORIANÓPOLIS e SÃO PAULO - Uma megaoperação da Polícia Civil de Santa Catarina cumpriu neste sábado, em 12 municípios, mandados de prisão, busca e apreensão contra suspeitos de envolvimento na recente onda de violência no estado. Dos 97 mandados de prisão temporária válidos por 30 dias e expedidos pela Justiça catarinense, 70 foram cumpridos, cinco deles contra advogados. Desse montante, 45 pessoas já estavam presas e outras 25 foram detidas hoje. Segundo a polícia, os outros 27 mandados de prisão expedidos não foram cumpridos por conta do vazamento da operação por parte de um delegado, que permitiu que algumas pessoas fugissem.
Outros quarenta detentos acusados de integrar a facção criminosa que teria ordenado os ataques foram transferidos para presídios federais, na madrugada de hoje. Entre os presos, 22 estavam na penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, de onde teriam partido as ordens do grupo, após denúncias de tortura contra presos. A Força Nacional de Segurança está em Santa Catarina desde esta sexta-feira e, para evitar rebeliões, ocupou os presídios catarinenses.
Neste sábado, o governador Raimundo Colombo e o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo fizeram um pronunciamento sobre as operações desencadeadas no combate à criminalidade no estado. Colombo agradeceu o apoio do governo federal e da presidente Dilma Rousseff.
- Nós quebramos a espinha dorsal do crime organizado em Santa Catarina – salientou.
O governador disse, também, que a transferência de presos não podia ter sido realizada antes por causa do Carnaval, pelo risco de envolver pessoas inocentes em qualquer ocorrência negativa.
Já o ministro da Justiça enalteceu o trabalho da Polícia Militar catarinense junto aos homens da Força Nacional de Segurança para a transferência de detentos das cadeias de São Pedro de Alcântara, São José, Florianópolis, Joinville, Criciúma e Itajaí para presídios federais. O ministro informou que, em 30 dias, uma equipe de defensores públicos de Brasília irá analisar os casos de todos os detentos catarinenses.
- E vamos ceder mais vagas, quantas forem necessárias para essa nova leva de prisões – disse.
Cardozo acrescentou que a presidente determinou todo apoio possível do governo federal para o estado resolver o problema, inclusive em operações na fronteira.
Neste sábado, subiu para 106 o número de ataques ocorridos na recente onda de violência no estado, iniciada no último dia 30. Entre a noite desta sexta-feira e a madrugada de hoje, os alvos, segundo a Polícia Militar (PM), foram dois ônibus (Itapoá e Campos Novos), um carro (Chapecó), uma base da Guarda Municipal de São José, e uma residência da irmã de um policial civil em Balneário Rincão. Não há informação de feridos.
Ao todo, segundo o governo catarinense, foram realizadas, com as 25 de hoje fora das cadeias, 96 prisões de envolvidos com a onda de ataques, além da apreensão de 22 menores.
Policial vazou informações
Dentre os presos hoje estão os advogados Simone Gonçalves Vissoto, Francine Bruggemann, Gustavo Gasperino Becker e João Souza, além de outro que não teve o nome divulgado. O diretor da Diretoria Estadual de Investigação Criminal (Deic), Laurito Akira Sato, disse a informação da operação vazou e, por isso, alguns procurados conseguiram fugir.
- Mas nós vamos pegá-los. Estamos na busca. E vamos investigar um delegado que repassou as informações à imprensa.
Segundo Sato, os 45 que estão presos não serão transferidos para unidade federais, porque ainda aguardam julgamento. O delegado da Deic, Antonio Claudio de Seixas Jóca, um dos responsáveis pela operação, afirmou que os advogados serviam de pombo-correio trazendo informações de dentro da cadeia para o mundo exterior. Mas disse que não dá para garantir que com as prisões cessem os ataques. Acrescentou, ainda, que todos os mandados têm a comprovação do envolvimento em ataques.
- É prematuro falar se com essas prisões vão diminuir os ataques, mas é um ato continuo a gente não vai parar agora e diversas outras prisões irão ocorrer nos próximos dias, semanas e meses. No curto espaço de tempo a gente conseguiu identificar boa parte da quadrilha envolvida nesses ataques.
Os mandantes dos ataques, de acordo com Sato, enviavam os comandos para fora, através de chip e cartas, pelos familiares, principalmente, e advogados e lá foram os chefes de fora que tinham a função de disseminar as ordens. Disse que serão individualizados os crimes de cada um.
- De uma maneira geral, formação quadrilha, tráfico, associação ao tráfico, incêndio, dano ao patrimônio público, corrupção de menores. Eles utilizam muitos menores, principalmente menores como utilizam os menores para ficar de frente no tráfico de drogas, também são utilizados nos ataques.
Nas casas ou esconderijos dos presos foram apreendidas drogas, armas de fogo dinheiro, farta documentação.
Ondas de violência
Esta é a segunda onda de violência no estado em quatro meses. A primeira delas ocorreu em novembro de 2012, durou sete dias e resultou em 58 atentados, em 16 municípios. Segundo a polícia, as ações foram ordenadas por líderes de facções criminosas que atuam de dentro dos presídios catarinenses. Os presos alegam que sofrem tortura, não têm atendimento médico e odontológico, nem abastecimento regular de água, além de poucos agentes para que todos posam tomar o banho de sol. No fim do ano passado, a ouvidora da Secretaria Nacional de Direitos Humanos foi a Santa Catarina, constatou uma série de problemas, e solicitou providências.
Na atual série de crimes, os presos, na visita da equipe da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, disseram que os problemas não foram resolvidos, entre eles o não término da apuração dos casos de tortura.
Os detentos, no entanto, questionaram a rapidez da Polícia Civil em investigar a morte da agente prisional Deise Alves, ocorrida em agosto, com o indiciamento de 11 pessoas. Há suspeita que os atentados do ano passado possam estar relacionados com o crime, já que o alvo, segundo a Polícia Civil, seria o marido dela, Carlos Alves, diretor da penitenciária de São Pedro de Alcântara, que pediu afastamento do cargo após a morte de Deise. Alves atribuiu o assassinato à uma das facções que age no estado e controlaria o presídio.
Os detentos dizem que, após a morte da agente prisional, a situação ficou insustentável e chegaram a denunciar a violência praticada pelo diretor e um grupo de agentes em um vídeo gravado pelos próprios detentos. As imagens mostram uma suposta revista em uma cela acompanhada de choques elétricos, tapas e ameaças.
Os recentes atentados também são atribuídos à transferência de alguns presos.
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