segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A gente fica sem palavras, diz avó de menina que morreu queimada no MA

Globo News

Motins no Complexo de Pedrinhas deixaram 60 mortos no ano passado.
Secretário acredita que decapitação é forma de subjugar outros presos.

No ano passado, 60 prisioneiros do Complexo de Pedrinhas, no Maranhão, foram mortos, alguns por decapitação. A prática de cortar cabeças começou com um bandido conhecido como Marquinhos Satã. Ele também foi morto na cadeia, mas ensinou a técnica a outros detentos. “Existe uma cultura que foi polarizada no meio da massa carcerária como mito de estabelecer o poder de subjugação dos demais”, diz o secretário de Justiça e Administração Penitenciária do estado, Sebastião Uchôa.

O Complexo de Pedrinhas tem 2,2 mil presos, quase a metade dos prisioneiros do Maranhão. Além da rivalidade entre os detentos, há indícios de que os motins são estimulados pela luta interna entre autoridades da cúpula de segurança da governadora Roseana Sarney. O atual secretário é candidato a deputado e o ex-chefe da polícia controla o sindicato dos agentes penitenciários.

Com alguns dos piores índices sociais do país, o Maranhão é marcado por um domínio de 48 anos da família Sarney, que tem inúmeros empreendimentos e dá nome a pontes, maternidades e escolas. O bairro onde a menina Ana Clara morreu queimada após um ônibus ter sido incendiado se chama José Sarney Filho. O convento das Mercês foi transformado em uma fundação que mostra a vida de Sarney.

Apesar da experiência política, o senador reconheceu em entrevista à rádio Mirante AM, no dia 24 de dezembro, que havia violência nos presídios maranhenses, mas destacou que, ao contrário de outros lugares do país, a violência não chegava às ruas. “Conseguimos que a violência não saísse dos presídios. Temos conseguido que aqui essa coisa não extrapole para a própria sociedade”, disse.

Horas depois, alguns ônibus foram incendiados, a menina Ana Clara morreu e os bandidos metralharam dois distritos policiais. “A gente fica muito triste, às vezes, até sem palavras tamanha a violência”, aponta a avó da menina, Maria da Natividade.


Para o deputado federal do Partido Solidariedade Domingos Dutra, uma soma de fatores é responsável pela escalada da criminalidade no estado. “A violência no sistema carcerário é consequência de uma longevidade do grupo político que controla o Maranhão, é resultado dos indicadores sociais negativos, é consequência da criminalidade fora dos presídios. O sistema carcerário apenas reflete essa situação de degradação”, afirma.

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