Globo News
Motins no Complexo de Pedrinhas deixaram
60 mortos no ano passado.
Secretário acredita que decapitação é
forma de subjugar outros presos.
No ano passado, 60 prisioneiros do
Complexo de Pedrinhas, no Maranhão, foram mortos, alguns por decapitação. A
prática de cortar cabeças começou com um bandido conhecido como Marquinhos
Satã. Ele também foi morto na cadeia, mas ensinou a técnica a outros detentos.
“Existe uma cultura que foi polarizada no meio da massa carcerária como mito de
estabelecer o poder de subjugação dos demais”, diz o secretário de Justiça e
Administração Penitenciária do estado, Sebastião Uchôa.
O Complexo de Pedrinhas tem 2,2 mil
presos, quase a metade dos prisioneiros do Maranhão. Além da rivalidade entre
os detentos, há indícios de que os motins são estimulados pela luta interna
entre autoridades da cúpula de segurança da governadora Roseana Sarney. O atual
secretário é candidato a deputado e o ex-chefe da polícia controla o sindicato
dos agentes penitenciários.
Com alguns dos piores índices sociais do
país, o Maranhão é marcado por um domínio de 48 anos da família Sarney, que tem
inúmeros empreendimentos e dá nome a pontes, maternidades e escolas. O bairro
onde a menina Ana Clara morreu queimada após um ônibus ter sido incendiado se
chama José Sarney Filho. O convento das Mercês foi transformado em uma fundação
que mostra a vida de Sarney.
Apesar da experiência política, o
senador reconheceu em entrevista à rádio Mirante AM, no dia 24 de dezembro, que
havia violência nos presídios maranhenses, mas destacou que, ao contrário de
outros lugares do país, a violência não chegava às ruas. “Conseguimos que a
violência não saísse dos presídios. Temos conseguido que aqui essa coisa não
extrapole para a própria sociedade”, disse.
Horas depois, alguns ônibus foram
incendiados, a menina Ana Clara morreu e os bandidos metralharam dois distritos
policiais. “A gente fica muito triste, às vezes, até sem palavras tamanha a
violência”, aponta a avó da menina, Maria da Natividade.
Para o deputado federal do Partido
Solidariedade Domingos Dutra, uma soma de fatores é responsável pela escalada
da criminalidade no estado. “A violência no sistema carcerário é consequência
de uma longevidade do grupo político que controla o Maranhão, é resultado dos
indicadores sociais negativos, é consequência da criminalidade fora dos
presídios. O sistema carcerário apenas reflete essa situação de degradação”,
afirma.
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