Rádio Voz do Maranhão

domingo, 12 de janeiro de 2014

A VIOLÊNCIA (OU O MARANHÃO?) EM SEU LABIRINTO: Sarney tenta esconder irresponsabilidade de Roseana, culpa 'políticos nossos' pela crise e diz que a responsabilidade é de todos

A violência em seu labirinto

Coluna do Sarney
(Foto: Reprodução/Uol)
(Foto: Reprodução/Uol)
O Maranhão não merece o que aconteceu em Pedrinhas, onde alguns celerados chocaram todos nós com cenas de terror e atrocidade. E para desgraça maior extravasaram a violência para fora, queimando ônibus e matando uma menina, Ana Clara, e atingindo outras pessoas. É uma história de dor e de lamento.
Para desgraça de todos os brasileiros, infelizmente, isso está ocorrendo em todo o Brasil. Ano passado, segundo informa o Relatório do Conselho Nacional do Ministério Público, foram verificadas 121 rebeliões em todos os estados brasileiros, com 769 mortes nas prisões, o que significa uma média de 2,1 mortes por dia. No Maranhão, quatro rebeliões e 60 mortes (dados disponíveis no site www.cnmp.mp.br (A visão do MP sobre o sistema prisional brasileiro). A pesquisa do IPEA, órgão estatal, afirma que 78,6% dos brasileiros saem de casa com medo de ser assassinado. Já o Instituto Sangari, que faz o mapa da violência para a ONU, diz que o Brasil é o 1º país do mundo em número de homicídios a cada 100.000 habitantes, seguido da Índia. Só que a Índia tem um bilhão e duzentos milhões de pessoas e o Brasil, 200 milhões. Já por duas vezes ocupei a tribuna do Senado e apresentei mapas em longos pronunciamentos denunciando a banalidade das mortes no Brasil. E para agravar mais a situação, as vítimas e autores, em cada 10 jovens na faixa etária de 18 a 24 anos, morrem assassinados. E os autores são também jovens. Apresentei proposição legislativa, que passou, considerando o homicídio crime hediondo, o pior de todos os crimes, pois atinge a vida.
Fica claro nestas estatísticas que os moços estão matando e morrendo. Sou daqueles que acham que nesses números está a desgraça das drogas. O crack, desenvolvido pelos fabricantes de cocaína, para entrar no mercado dos pobres entre os mais pobres, está destruindo a juventude.
O Maranhão nunca teve uma tradição de violência. Sempre fomos gente de paz. Mas, os que manipulam a opinião no país, acham que só aqui acontecem as misérias, que são nacionais e globais. E passam uma imagem de nossa terra que atinge nosso orgulho, é injusta, tendenciosa, cheia de preconceito e tem uma conotação política. O Maranhão não merece isso. A campanha contra o Maranhão, infelizmente, tem dedo oculto de políticos nossos que acham que têm de destruir o Maranhão para desviar o interesse e o progresso que estamos vivendo e tirar vantagem política, repetindo que somos mais pobres, mais miseráveis e coisas mais. Não podemos esquecer que um governador do Maranhão mandou espalhar outdoor no Brasil inteiro dizendo: “Maranhão, estado mais miserável do Brasil”, anúncio pago pelos contribuintes maranhenses. Isso é uma mancha que não se apaga.
A governadora já tem investido muito no setor penitenciário. Centro de reabilitação, centro de atendimento médico e odontológico aos apenados, dois presídios prontos e sete estão em fase de conclusão. Está admitindo 1.500 soldados, equipando a Polícia com câmeras de filmagem, detectores de metal, controle de comunicação, combate de celulares nas cadeias e armas não letais, para modernizar o aparelho policial e melhor proteger os detidos de serem vítimas das atrocidades que atingem os direitos humanos. E agora, com apoio do Governo Federal, o Ministério da Justiça que tem um notável ministro, professor José
Eduardo Cardozo, Justiça, MP, PF, OAB, Forças de Segurança e todos envolvidos no tema, para um mutirão capaz de fazer Pedrinhas voltar à normalidade e a segurança melhorar.
A Constituição de 88 tratou de proteger os presos, mas pouco se preocupou com as vítimas e o que os bandidos representam de ameaça e intranquilidade para milhões de pessoas que vivem honestamente e têm o direito de viver em paz. O assassino fica aí, mas os que morreram deixaram somente a dor para seus parentes.
Apresentei um projeto de lei no Senado de proteção às vitimas, a primeira lei no Brasil com esse objetivo, até hoje não votada, embora os presos recebam um ordenado mensal para subsistência da família.
Essa questão é séria, envolve Governo, Justiça, Ministério Público, Igrejas e todos que se interessam pela pessoa humana. A responsabilidade é de todos. Por que nacionalmente dar-nos como exemplo? O Maranhão tem de reagir, fazendo o que for necessário para melhorar o sistema presidiário, mas repelindo essa mancha, que é do Brasil e de todos os estados.
Somos vitimas e não autores.

Meu comentário:

Lamentavelmente, o senador Sarney  tenta tirar o foco da irresponsabilidade do governo da filha e tenta transferir a responsabilidade pelos desmandos na área da segurança e sistema prisional para todos os segmentos da esfera pública. Na verdade, a principal responsável por esse caos é a próprio governadora que se mostrou negligente com essa questão. Ao longo de três anos, mesmo dispondo de verbas do governo federal, não teve competência para construir presídios. Como culpar os outros por esse desgoverno? 

Por que Sarney não disse que a única 'obra' da filha foi a terceirização de mão-de-obra no sistema penitenciário, beneficiando empresas de amigos? Só uma das empresas, a Atlântica, pertencente a Luís Carlos Cantanhede, ligado ao marido da governadora, recebeu mais de 20 milhões nesse esquema de terceirização. A prática é sempre a mesma: deixar o caos se instalar para decretar situação de emergência para facilitar a contratação de empresas de amigos, testas de ferros ou de parentes.

Tentar culpar adversários políticos pela disseminação do caos tem sido a saída encontrada para tentar encobrir a falta de capacidade de governar. Há muito tempo tenho dito: a grande crise no Maranhão é de falta de governo. Por isso, o caos não está somente na segurança e sistema prisional. Em todas as áreas, vê-se a irresponsabilidade do governo. E não é falta de dinheiro. É falta de governo.

Essa crise serviu para expor as vísceras de um estado que vem sendo sangrado pela oligarquia Sarney há cinco décadas. Graças à miséria do povo, a família Sarney construiu seu império econômico, com empresas em todos os setores da economia. E a fonte de manutenção desse poderio econômico, inclusive na área da comunicação, tem sido os cofres públicos. Enquanto isso, o Maranhão continua ostentando os piores indicadores econômicos e sociais.

O que dizer de alguém que, há poucos dias, vibrava com o fato de a violência se restringir aos presídios e não ter chegado às ruas? É como quem diz: "Eles estão se matando entre eles. Deixa pra lá. O importante é que isso não chegue às ruas". Isso é postura de quem defende os direitos humanos? Não. É de alguém que defende seus próprios interesses e de seu grupo, sem se preocupar com a vida dos outros.

Tem mais: a mostra do despreparado do governo Roseana, em meio ao furacão da crise, foi a 'intervenção branca' feita pelo governo Dilma. Foi o ministro José Eduardo Cardozo quem veio anunciar medidas para tentar contornar a crise e instalar uma 'Comitê de Crise'. Só com a presença do ministro, Roseana resolveu falar, rompendo o silêncio sepulcral em torno dessa crise sem precedentes.

Até quando Sarney vai continuar culpando 'políticos nossos' por esse caos?

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