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O governo do Maranhão resolveu adotar uma nova estratégia após a série de entrevistas desastrosas que a governadora Roseana Sarney (PMDB) concedeu para falar sobre a crise na segurança pública. Numa delas, um dia antes da morte de Ana Clara, incendiada viva em um ônibus na capital, a governadora preferiu falar sobre suas vaidades pessoais. Em outra, na presença do ministro da Justiça, declarou que o Maranhão é violento porque é rico.
Após a repercussão negativa das entrevistas de Roseana, o monopólio de comunicação do grupo Sarney se esforçou para pegar carona no tratamento que o governo federal deu à crise no Maranhão. Para impedir que o caos no sistema de segurança maranhense respingasse na presidente Dilma Rousseff e na aliança nacional PT/PMDB, órgãos de mídia alinhados ao PT começaram a vender uma espécie de estadualização da crise, mostrando que, a exemplo do Maranhão, outros estados do país passavam por problemas prisionais semelhantes.
O resultado dessa estratégia serviu para alimentar a tropa de choque do governo na mídia e refreou de certa maneira a tentativa de uma parte da opinião pública em associar a crise exclusivamente ao governo federal.
Mas, o fundamental para arrefecer a péssima impressão causada pelos arroubos de Roseana e os absurdos intermináveis de seu governo na mídia nacional, foi certamente a escalada de realizações de rolezinhos em shoppings centers pelo país afora.
A questão é que após o ápice da crise de segurança no Maranhão, houve o fortalecimento de um sentimento nacional de antipatia pelo grupo Sarney, que desde 2009 com a crise do Senado, vem se agravando. O brasileiro médio não tolera mais a longevidade do senador Sarney. Sua presença sexagenária na política brasileira é considerada por muitos um indicativo de que apesar de rico, o país não consegue superar certos sinais de atraso.
A escalada de violência no Maranhão e os indicadores sociais vergonhosos do estado, mostrados a exaustão na mídia nacional, certamente promoveram a ruptura definitiva entre o Brasil e a família Sarney. Nas eleições de outubro, seus aliados sentirão na pele o peso da aliança forjada com o senador do Amapá, que apesar de impopular, é ao lado de Renan Calheiros e Michel Temer, dono supremo do maior partido político do país.
Mas, a despeito da cobertura agora apenas esporádica na grande mídia, o Maranhão permanece em clima de caos e é preciso que o governo dê respostas. Incapaz de controlar o clima de absoluta desorganização institucional no Sistema Carcerário e no próprio Sistema de Segurança, que continua gerando violência e mortes, apesar do esforço e da interferência do governo federal, o Palácio dos Leões insiste em manter o discurso de que o Brasil é um imenso Maranhão e de que aqueles que atacam o estado o fazem apenas por discriminação ou por oportunismo político.
Na minha avaliação esse discurso é duplamente prejudicial ao estado. Primeiro porque ao vender a ideia de que a falência do sistema carcerário é um problema do país e não do estado, a governadora sinaliza que não se mobilizará para solucionar o problema. Em segundo lugar, ao acusar os que criticam o governo de não amarem o estado, o governo estimula a população a fugir da responsabilidade de pensar a solução para um problema que afinal é social.
A ideia de que quem critica o governo Roseana Sarney, está criticando o Maranhão e os maranhenses, remonta à velha lógica de tratar o estado como propriedade privada. O grupo Sarney esquece (talvez propositalmente) que uma coisa é o Maranhão, outra coisa é o grupo Sarney. Trata-se de uma perspectiva que apela para o emocional das massas, mas que ignora o fato de estarmos vivendo em outros tempos.
Se o discurso ufanista de “Maranhão, ame ou deixe-o” gerava certos resultados nos tempos do Regime Militar do “Brasil, ame ou deixe-o”, quando o autoritarismo dos generais censurava a realidade nos meios de comunicação, em tempos de internet e redes sociais, o governo pode estar dando um tiro no pé.
Os maranhenses podem muito bem perceber com facilidade que a tentativa de apelar para o sentimentalismo a fim de mascarar a realidade, não passa de um golpe para infantilizar as massas e desviar o foco principal das razões que levaram o Maranhão a esse clima de vergonhosa insegurança e miséria social.
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