Segundo a PF, Mendes Filho alertou Fernando Sarney, principal investigado em operação, que motorista dele estava sendo seguido pela polícia
BRASÍLIA - O secretário de Segurança Pública do Maranhão, Aluisio Guimarães Mendes Filho, envolvido na crise no sistema penitenciário do estado, é um dos auxiliares da mais alta confiança da governadora Roseana Sarney. A governadora o nomeou para o cargo mesmo sabendo do complicado currículo do secretário. Entre 2008 e 2009, Mendes Filho foi um dos principais investigados na Operação Boi Barrica, da Polícia Federal.
Durante as investigações, a polícia chegou a pedir a prisão de Mendes. Mas o pedido foi rejeitado por um dos juízes que atuaram no caso. Agente aposentado da Polícia Federal, Mendes Filho foi acusado de vazar informações da Operação Boi Barrica para o empresário Fernando Sarney, irmão de Roseana, e alvo central da investigação. Em gravações autorizadas pela Justiça, a PF descobriu uma conversa em que Mendes Filho alerta a Fernando Sarney que um dos motoristas dele estava sendo seguido pela polícia.
Um dos diálogos entre Mendes e Fernando Sarney foi interceptado às 9h55m de 19 de julho de 2008. Desconfiado do cerco da PF, o empresário pede para Mendes descobrir por que a polícia estaria atrás do motorista.
— Porque, se tem algum colega teu, podia ir lá ver o que está acontecendo — diz Fernando Sarney, segundo relatório da Operação Boi Barrica.
— É...é isto que estou vendo. Eu tô ligando para um colega meu agora. Ele na caixa postal. Tem um delegado amigo meu de lá. Mas eu não tou conseguindo. Deixei dois recados agora na caixa postal dele — explica Mendes.
No decorrer da conversa, o secretário orienta Fernando Sarney como o motorista deveria se preparar para uma eventual abordagem da polícia. Ele só deveria concordar em conversar com os policiais mediante intimação formal.
— Como ele não tem conhecimento nessa área, o cara pode dizer: você vai com a gente e ele acaba indo, né? Se dá uma pressão, dá uma ladeira nele e ele vai acabar. Entendeu? Então, alguém só para orientar. Dizer: se vocês querem conversar com ele, vocês intimem — recomenda o secretário.
Num outro diálogo, minutos depois desta conversa, Mendes diz, em tom de vitória, que já descobriu que a placa de um carro usado na campanha do motorista de Fernando Sarney era mesmo da Polícia Federal como os dois suspeitavam.
— Hei, Aloisinho — diz Fernando Sarney
— Sim, Fernando, diga — responde Mendes.
— Não, não. Só prá te dizer: liguei lá agora. Estão lá, os três. Estão lá, num carro preto, na porta do prédio — conta Fernando Sarney.
— Eu já peguei até a placa para levantar, para ver se é mesmo do DPF (Departamento de Polícia Federal) — afirma Mendes.
Investigação prejudicada
Para a polícia, o vazamento atrapalhou o andamento do inquérito e forçou a antecipação dos pedidos de busca e apreensão. Antes de se tornar a principal autoridade em segurança no Maranhão, Mendes Filho foi subsecretário estadual de Inteligência na administração anterior de Roseana. A subsecretaria era, no período, o principal serviço de investigações secretas vinculado ao governo estadual.
Mendes Filho se aproximou da família Sarney durante a CPI do Narcotráfico. Ele era um dos policias responsáveis pela escolta de Jorge Meres, testemunha-chave da comissão. Depois do trabalho na comissão, Mendes Filho foi chamado para trabalhar na equipe de segurança do então presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP), pai de Roseana. A partir daí, o agente da PF estreitou os laços com a família Sarney até chegar ao posto mais alto da segurança pública no Maranhão.
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