Uma história bonita: Vítima de assalto ‘adota’ família de assaltante

Uma história triste que marcará a minha vida

Por Olinda Saul
do facebook

Fui assaltada. Uma história triste que marcará a minha vida. Eu, o rapaz que me roubou e alguns policiais, sua esposa e suas gêmeas. De surpresa, entra um rapaz no meu carro, (não havia reparado que a porta não travou, o alarme está com defeito), com uma faca na mão. Mais surpresa ainda, os policiais que estavam lá, parados num daqueles camburões viram quando fui rendida pelo rapaz.

Antes de o rapaz sair do carro, dois policiais o tiraram pelo pescoço e o colocaram no chão. Começou uma cena de barbáries. Desci do carro. Me meti na briga, sem pensar que poderia até ser morta ali. Não admito violência. Sem querer, levei um golpe na nuca e quase desmaiei. Levantei sozinha, e continuei a pedir que parassem com essa cena nefasta. A única alternativa foi começar a gritar com os policiais (o que pra mim é difícil, falo baixo e no momento estou afônica).

Depois de muita discussão, peguei o rapaz e o coloquei no meu carro. Ele estava machucado e o levei pra fazer curativos numa farmácia no São Francisco. Ele só chorava.  Depois fiquei sabendo que tinha 22 anos. Fui levá-lo em sua casa. E aí começa a pior parte. Ele mora numa palafita (uma casa fétida, sobre a água da maré), com duas filhas, gêmeas de 3 anos. A cena que eu vi foi desumana: duas crianças, deitadas no chão em cima de camisas rasgadas, magras (pele em cima dos ossos) e portadoras do vírus HIV. A mãe, jogada no chão, drogada de crack e o pai todo machucado, chorando compulsivamente. Sentei no chão e desabei, chorei até perder o fôlego.

Ele conseguiu me falar algumas palavras soltas como medo, desamparo, angústia, prisão. Ele trabalha, é jardineiro, mas o que ganha não da para o sustento da casa. Ele rouba. (Tem coisa mais humilhante para um ser humano que roubar). Não. Eu não tinha dinheiro na hora, mas vou voltar lá, vou levar as crianças ao médico, vou tentar internar a mãe e vou arrumar um emprego para o rapaz.

Essa história não é interessante porque se trata de gente na penúria e ninguém gosta de pobres miseráveis. Decidi publicar para que as pessoas possam refletir sobre as tragédias humanas da vida real.

Essa é só mais uma história das milhares espalhadas por aí. A das gêmeas, Sofia e Jamili e do casal Maria José e José de Ribamar da Silva. Prometi a Deus, vou cuidar deles. Preciso que me dê forças, porque coragem eu tenho.

Desculpem o desabafo.