Dino afirmou que o Estado precisa quebrar o modelo de governo a serviço de poucas famílias que mantiveram no poder por meio século e, assim, estimular a competitividade e ingresso de novos empresários
Carlos Madeiro
Do UOL, em São Luís
- Flávio Dino (PC do B) (centro), governador eleito pelo Maranhão, durante entrevista
Aos 46 anos, o ex-deputado federal Flávio Dino (PC do B) se tornou, domingo (5), o primeiro comunista eleito governador de um Estado no país. Vencedor com 63,5% dos votos válidos dos maranhenses, ele promete iniciar um novo ciclo no Estado, mas não para estatizar ou coletivizar nada, mas sim, "implantando o capitalismo" no Maranhão.
Em entrevista ao UOL, Dino afirmou que o Estado precisa quebrar o modelo de governo a serviço de poucas famílias que mantiveram no poder por meio século e, assim, estimular a competitividade e ingresso de novos empresários.
"Isso leva a mais investimentos e expansão da riqueza", disse.
Durante a conversa, o novo governador do Maranhão também falou dos desafios à frente do cargo, como superar o indicadores sociais negativos, a crise no sistema prisional, anunciou as primeiras medidas de governo a partir de 1º de janeiro de 2015 e fez uma previsão de como deve ser o comportamento na oposição do grupo ligado aos Sarney.
UOL - Como o senhor pretende usar a ideologia comunista em seu governo?
Flávio Dino - Sobretudo com o compromisso da mudança pela igualdade. Durante a campanha, falaram muto sobre comunismo, que ia implantar o comunismo, e eu falava sobre a etimologia da palavra: comunismo é comunidade, comunhão. Dizia: 'defendemos que haja uma comunhão mais justa da riqueza. Aqui no Maranhão essa é grande questão. Temos uma contradição entre o 16º maior PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil e as últimas colocações dos indicadores sociais, o que mostra que tem algo errado. O PIB deveria gerar índices melhores, mas não gera pela concentração. A gente precisa aumentar a riqueza, não há duvida, mas garantir que o aumento não seja absoluto. Essa luta política é PIB versus IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), pois o Sarney diz que é o PIB o mais importante, e eu digo que é IDH. Então do comunismo se aproveitam valores e princípios. São possíveis medidas inspiradas nesses valores, mas no limite de legalidade. Não vamos estatizar, nem coletivizar nada, mas buscar a distribuição.
Mesmo sendo comunista, o senhor falou muito durante a campanha em incentivar a concorrência, atrair empresas, práticas capitalista. Não é contraditório?
Aqui temos uma arranjo patrimonialista clássico: confusão do privado e a submissão do público, sempre a serviço de três famílias: Sarney, Lobão e Murad. Nossa vitória interrompe esse ciclo e desamarra esse nó da economia do Maranhão. Isso melhora as condições para que haja mais competição. Na nossa avaliação e na dos economistas, isso leva a mais investimentos e expansão da riqueza. Nesse sentido econômico, sempre falava de um choque de capitalismo. Vamos fazer o capitalismo no Maranhão. Garantir que os empresários saibam que há regras do jogo, e essas regras não serão rescindidas ou revogadas de acordo com família A, B ou C.
Como o senhor pretende reduzir a pobreza do Maranhão, já que o Estado possui poucos recursos?
Primeiro, usando bem o dinheiro público disponível. No momento em que você tem uma gestão melhor, com probidade, você mobiliza recursos. Nós temos o Fundo de Combate à Pobreza do Maranhão. Onde é aplicado, ninguém sabe. São 200 e poucos milhões por ano, mas não tem transparência. Na hora que você pega esse dinheiro, você foca em melhorar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) rapidamente.
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