Rádio Voz do Maranhão

domingo, 30 de novembro de 2014

Em mais um artigo de ficção e devaneio, Sarney exalta a filha Roseana e diz que ela modernizou o Maranhão

Gilberto Lima

Talvez por não viver no Maranhão, por não conhecer a miséria em que se encontra a maioria da população, o senador José Sarney faz uma viagem a um Estado imaginário, que só existe em sua mente. Seu artigo, com o título ‘Roseana e um bom governo’, é uma peça de exaltação à filha, colocada como a redentora do Maranhão. Aquela que tirou o Estado do atraso e o colocou na trilha do desenvolvimento. Verdade ou mentira? A realidade está aí, para mostrar que ainda vivemos atrasados em relação ao restante do país.

Para Sarney, a filha encerra uma etapa de sua vida, depois de ficar na História do Brasil como a primeira governadora do país e a primeira candidata à Presidência da República. Um sonho sepultado pelo escândalo da Lunus, empresa do marido Jorge Murad, onde encontraram mais de R$ 1 milhão de origem duvidosa. Sem explicações plausíveis e desgastada, Roseana não teve alternativa: renunciou à candidatura. Um golpe duro no sarneysismo. Disso, Sarney não fala.

“No Maranhão, sua figura será lembrada como a modernizadora do Estado, que atraiu a confiança nacional, consolidando sua infraestrutura, atraindo investimentos, possibilitando a passagem de um estado agrícola para um estado industrial”, vangloria-se o chefe do clã.

Pergunta-se: Qual foi o grande empreendimento industrial que Roseana trouxe para o Maranhão? Os mais lembrados foram grandes fiascos e sumidouros de recursos públicos. Destaque-se o fracasso do Pólo de Confecções de Rosário, deixando um rastro de milhões em dívidas para ‘cooperativados’ pobres. O testa de ferro, o chinês Chai Ku Cheng, sumiu e não revelou quem foi o maior beneficiário com esse esquema que engoliu milhões do Banco do Nordeste. Os galpões do famigerado projeto, em Rosário, até hoje estão abandonados. Um monumento à incompetência da ‘gestora’ Roseana. Outro fracasso, mais recente, foi o megaprojeto da Refinaria Premium, que seria instalada em Bacabeira. Enterraram mais de R$ 2 bilhões somente no aterro da área. Uma investigação profunda poderá revelar para onde foi destinada grande parte dessa soma bilionária. Fico nesses dois fracassos para demonstrar o desastre do ciclo de Roseana no poder.
Sarney lista outros feitos de Roseana, como a interligação de todos os municípios por estradas asfaltadas, dezenas de hospitais construídos, além da implantação de cinco hospitais de alta complexidade, igualados aos melhores de São Paulo e Rio de Janeiro. Mentira tem perna curta, Sarney. Nem todas as rodovias do  Maranhão estão asfaltadas, e muitas que foram recuperadas já estão cheias de buracos. Quem não lembra da ‘estrada fantasma’ Paulo Ramos/Arame, que consumiu milhões e até hoje está abandonada? Recentemente, durante o projeto ‘Diálogos pelo Maranhão’, o hoje governador eleito Flávio Dino gravou um vídeo para mostrar a situação de abandono da MA-008, a Paulo Ramos/Arame.
Flávio Dino na Paulo Ramos/Arame (MA 008)
Em relação à saúde, se os 72 hospitais prometidos estão em operação, por que a maioria da população continua enfrentando a procissão de ambulâncias pelas estradas do Maranhão em busca de socorro nos hospitais de urgência e emergência de São Luís, mantidos pela Prefeitura? Até as UPAs, construídas com recursos do governo federal, são proíbidas de receber pacientes trazidos por essas ambulâncias de prefeituras do interior.

Outra coisa: se temos uma rede hospitalar que se iguala a hospitais do Sul e Sudeste, não entendo porque os endinheirados – incluindo os da família Sarney – sempre que têm um problema de saúde buscam os hospitais de referências nessas regiões. Poderiam fazer o tratamento nesses hospitais de referência implantados por Roseana. Um contrassenso.

Na lista de devaneios, o oligarca destaca que 2,6 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema no período em que a filha esteve no governo. Não me lembro de qualquer milagre feito por Roseana para que isso ocorresse. Deve-se dizer que isso é fruto do programa Bolsa Família que beneficia a metade da população do Maranhão. Isso é coisa para se vangloriar? É para lamentar. Se metade de nossa população depende da ajuda do governo federal para sobreviver, é porque temos um quadro alarmante de fome e miséria. Fruto da grande concentração de renda. Enquanto isso, a oligarquia expandiu seus negócios e empreendimentos alimentados com o erário público.  À custa da miséria do povo.

Nos finalmentes, Sarney entra na questão do sistema penitenciário. Ressalta que Roseana construiu sete penitenciárias e que os adversários criaram uma desmoralização do nosso Estado, com fatos montados que, de repente, passada a eleição, sumiram. Outro devaneio. Essa crise no sistema penitenciário, com rebeliões sangrentas, ocorrem muito antes do período eleitoral. Resolver o problema do sistema penitenciário nunca foi prioridade para Roseana. Somente depois da rebelião sangrenta, com decapitações de detentos, e dos ônibus incendiados, chamando a atenção da mídia nacional e de organismos internacionais, foi que ela anunciou a construção de presídios. Dos que foram anunciados, parece-me que somente dois foram entregues e nem funcionam em sua totalidade. A superlotação de Pedrinhas continua. A bomba não foi desarmada. Na verdade, o sistema penitenciário tem sido muito rentável para empresas do esquema do clã Sarney, na área de segurança. Uma delas pertence a um sócio de Jorge Murad, marido de Roseana Sarney. Um abacaxi que deve ser descascado pelo governador eleito Flávio Dino.

Fechando, Sarney pergunta: Quem fez o milagre (em relação ao fim de rebeliões), quem fez o inferno? Diz que um dia irá aparecer. Eu digo: o inferno foi obra do desgoverno de Roseana que, com o aumento da miséria e da pobreza, contribuiu para o recrudescimento da violência desenfreada. O milagre acaba de ser feito pelo povo sofrido deste Estado: a defenestração do atraso do poder, com a derrota da oligarquia Sarney. 

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