Gilberto Lima
Talvez por não viver no Maranhão, por
não conhecer a miséria em que se encontra a maioria da população, o senador
José Sarney faz uma viagem a um Estado imaginário, que só existe em sua mente. Seu
artigo, com o título ‘Roseana e um bom governo’, é uma peça de exaltação à
filha, colocada como a redentora do Maranhão. Aquela que tirou o Estado
do atraso e o colocou na trilha do desenvolvimento. Verdade ou mentira? A realidade
está aí, para mostrar que ainda vivemos atrasados em relação ao restante do
país.
Para Sarney, a filha encerra uma etapa
de sua vida, depois de ficar na História do Brasil como a primeira governadora
do país e a primeira candidata à Presidência da República. Um sonho sepultado pelo escândalo da
Lunus, empresa do marido Jorge Murad, onde encontraram mais de R$ 1 milhão de
origem duvidosa. Sem explicações plausíveis e desgastada, Roseana não teve
alternativa: renunciou à candidatura. Um golpe duro no sarneysismo.
Disso, Sarney não fala.
“No Maranhão, sua figura será lembrada
como a modernizadora do Estado, que atraiu a confiança nacional, consolidando sua
infraestrutura, atraindo investimentos, possibilitando a passagem de um estado
agrícola para um estado industrial”, vangloria-se o chefe do clã.
Pergunta-se: Qual foi o grande
empreendimento industrial que Roseana trouxe para o Maranhão? Os mais lembrados
foram grandes fiascos e sumidouros de recursos públicos. Destaque-se o fracasso
do Pólo de Confecções de Rosário, deixando um rastro de milhões em dívidas para
‘cooperativados’ pobres. O testa de ferro, o chinês Chai Ku Cheng, sumiu e não
revelou quem foi o maior beneficiário com esse esquema que engoliu milhões do Banco do Nordeste. Os galpões do famigerado projeto, em Rosário, até hoje estão
abandonados. Um monumento à incompetência da ‘gestora’ Roseana. Outro fracasso,
mais recente, foi o megaprojeto da Refinaria Premium, que seria instalada em
Bacabeira. Enterraram mais de R$ 2 bilhões somente no aterro da área. Uma
investigação profunda poderá revelar para onde foi destinada grande parte dessa
soma bilionária. Fico nesses dois fracassos para demonstrar o desastre do ciclo
de Roseana no poder.

Sarney lista outros
feitos de Roseana, como a interligação de todos os municípios por estradas
asfaltadas, dezenas de hospitais construídos, além da implantação de cinco
hospitais de alta complexidade, igualados aos melhores de São Paulo e Rio de
Janeiro. Mentira tem perna curta, Sarney. Nem todas as rodovias do Maranhão estão asfaltadas, e muitas que foram
recuperadas já estão cheias de buracos. Quem não lembra da ‘estrada fantasma’
Paulo Ramos/Arame, que consumiu milhões e até hoje está abandonada? Recentemente,
durante o projeto ‘Diálogos pelo Maranhão’, o hoje governador eleito Flávio
Dino gravou um vídeo para mostrar a situação de abandono da MA-008, a Paulo
Ramos/Arame.
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Flávio Dino na Paulo Ramos/Arame (MA 008) |
Em relação à saúde, se os 72 hospitais
prometidos estão em operação, por que a maioria da população continua
enfrentando a procissão de ambulâncias pelas estradas do Maranhão em busca de
socorro nos hospitais de urgência e emergência de São Luís, mantidos pela
Prefeitura? Até as UPAs, construídas com recursos do governo federal, são proíbidas
de receber pacientes trazidos por essas ambulâncias de prefeituras do interior.
Outra coisa: se temos uma rede
hospitalar que se iguala a hospitais do Sul e Sudeste, não entendo porque os
endinheirados – incluindo os da família Sarney – sempre que têm um problema de
saúde buscam os hospitais de referências nessas regiões. Poderiam fazer o
tratamento nesses hospitais de referência implantados por Roseana. Um
contrassenso.
Na lista de devaneios, o oligarca
destaca que 2,6 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema no período em que
a filha esteve no governo. Não me lembro de qualquer milagre feito por Roseana
para que isso ocorresse. Deve-se dizer que isso é fruto do programa Bolsa
Família que beneficia a metade da população do Maranhão. Isso é coisa para se
vangloriar? É para lamentar. Se metade de nossa população depende da ajuda do
governo federal para sobreviver, é porque temos um quadro alarmante de fome e
miséria. Fruto da grande concentração de renda. Enquanto isso, a oligarquia expandiu
seus negócios e empreendimentos alimentados com o erário público. À custa da miséria do povo.

Fechando, Sarney pergunta: Quem fez o
milagre (em relação ao fim de rebeliões), quem fez o inferno? Diz que um dia
irá aparecer. Eu digo: o inferno foi obra do desgoverno de Roseana que, com o
aumento da miséria e da pobreza, contribuiu para o recrudescimento da violência
desenfreada. O milagre acaba de ser feito pelo povo sofrido deste Estado: a
defenestração do atraso do poder, com a derrota da oligarquia Sarney.
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