Partido aprovou documento-base em
reunião na manhã deste sábado
POR SIMONE IGLESIAS, THAYS LAVOR
O GLOBO

“Manifestamos
a disposição firme e inabalável de apoiar o combate à corrupção. Qualquer
filiado que tiver, de forma comprovada, participado de corrupção, deve ser
expulso”, diz trecho.
O documento foi proposto pela Mensagem,
uma das mais importantes correntes internas do PT, na sexta, e aprovado por
consenso pelo diretório. A primeira versão falava em expulsão imediata. No
entanto, segundo o presidente nacional do PT, Rui Falcão, a ideia central
permanece, mas antes das expulsão, todos terão direito à defesa.
— Se há algum envolvimento, quero saber
se as denúncias são comprovadas ou não. Todos têm direito a defesa e
contraditório. Reafirmo que se alguém estiver envolvido, não ficará no PT —
afirmou o dirigente.
Ainda no documento, o PT diz
"exigir" que as investigações relacionadas à Operação Lava-Jato sejam
conduzidas dentro dos marcos legais "e não se prestem a ser
instrumentalizadas, de forma fraudulenta, por objetivos partidários".
— É inaceitável que a palavra dos
delatores, inclusive já condenados outras vezes, seja aceita como verdadeira
sem prova documental. A liberdade de expressão não pode ser confundida com o
exercício interessado na calúnia e difamação. Todo acusado, seja de qual
partido for, deve ter o direito a defesa e de ser julgado com o devido processo
legal — relata outro trecho.
Rui Falcão disse ter ido duas vezes ao
Supremo Tribunal Federal (STF) pedir ao ministro relator da Lava-Jato, Teori
Zavaski, acesso aos autos do processo no que se refere ao PT. Segundo Rui, ele
ficou de analisar o pedido, mas ainda não emitiu resposta. O dirigente afirmou
que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, tem sido vítima de ataques
infundados e de forma sistemática.
— Ele reafirmou (durante a reunião de
sexta) publicamente sua inocência, que todos nós já acreditávamos, condenando
os ataques infundados que tem sido feitos a ele de forma sistemática — reforça
Rui Falcão.
NOVO
MINISTÉRIO
Em relação às reclamações de parte do PT
e dos movimentos sociais às escolhas de Dilma para o ministério, especialmente
Joaquim Levy (Fazenda) e Kátia Abreu (Agricultura), o presidente do partido
disse que as críticas já foram levadas para a presidente. Sobre Kátia, defendeu
a indicação, dizendo que ela é uma representante do setor e que para tudo há
"prós e contras", afirmou, bem-humorado, ao lembrar que o suplente da
peemedebista que assumirá sua vaga no Senado é do PT.
Quanto a Levy e ao fato de Dilma ter
chamado para liderar a equipe econômica uma pessoa com perfil mais liberal, Rui
afirmou que não há contradição com o que foi pregado pelo partido na campanha.
— Todos criticamos durante a campanha as
propostas de independência do Banco Central, a terceirização, as mudança do
regime de concessão do pré-sal e todo um ideário neoliberal que se
materializava simbolicamente na pessoa de uma acionista de banco (Neca Setubal)
que dirigia a campanha da Marina. Armínio (Fraga) não é banqueiro, mas suas
posições eram refutadas por nós — compara Rui, referindo-se a Levy com o
"executivo de banco":
— Mais importante do que a nomeação de
um executivo de banco, agora, é a reafirmação da presidente Dilma de que a
política econômica será mantida — finalizou. O presidente do PT elogiou os
primeiros anúncios da equipe econômica, citando a meta de superávit de 1,2%.
Chamou o percentual de "realista".
TERCEIRO
TURNO
Rui Falcão ainda minimizou as
manifestações que vêm ocorrendo pelo país, lideradas pelo PSDB, às quais chamou,
de forma irônica, "campeão da luta contra a corrupção", e definiu os
protestos de "pequenos surtos":
— (São) pequenos surtos que a gente vê
na Paulista. Só uma vez reuniu dez mil pessoas, e se dividiram em grupos, um
deles seguindo para o quartel do Exército.
Ao citar a declaração da presidente
Dilma, na noite anterior, de que "esses golpistas não nos perdoam por
estar tanto tempo fora do poder", Rui afirmou que, mais do que tentativa
de golpe, há intolerância à reeleição de Dilma.
— Mais do que golpismo, tem uma
intolerância muito grande em relação à nossa vitória, começam a medir nossa
vitória pela diferença de votos. O povo se manifesta pela maioria. Alguém
chegou a falar que nossa vitória foi legal e semi-legítima. É uma distinção que
contém uma ameaça, porque para ilegitimidade é um passo. É um conceito novo.
Não acredito que embora aqui ou ali tenha alguém incomodado, que possa haver
qualquer atentando à democracia, as Forças Armadas estão contidas
constitucionalmente.
Rui Falcão declarou que os integrantes
do diretório elogiaram a presença e o discurso de Dilma, na noite de
sexta-feira, e que ela realmente se mostra aberta ao diálogo. Sobre a
participação do partido no segundo mandato, disse que será de
"protagonismo não exclusivo" porque a presidente foi reeleita por um
conjunto de partidos.
— Teremos protagonismo não exclusivo.
Temos um governo de coalizão, disputamos espaços como os outros partidos. Não
vejo nenhuma contradição no fato de reivindicar protagonismo e ele ser compartilhado
com os partidos da base e com os movimentos sociais.
Ao fim do encontro, na tarde deste
sábado, o diretório petista divulgará resolução em que diz que o maior desafio
de Dilma será construir uma nova governabilidade que passe pelo Parlamento.
“Nosso maior desafio agora é criar as
condições para que a presidenta Dilma possa fazer um segundo mandato superior
ao primeiro. Para isso, será necessário, em conjunto com os partidos de
esquerda, desencadear um amplo processo de mobilização. Precisamos construir
uma nova governabilidade democrática, que passe pelo parlamento e se estenda
pelos movimentos sociais e pela participação organizada da população”, diz
trecho do documento-base, que ainda está em fase de discussão pelos integrantes
do partido.
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