DANIELA LIMA
FOLHA DE SÃO PAULO
Nesse intervalo, Cunha foi alvejado em muitas frentes. Documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça comprovaram a existência de contas secretas em nome do parlamentar naquele país.
Os papéis mostraram que a Suíça registrou as contas usando como identificação de Cunha seu passaporte diplomático. A assinatura do deputado consta dos documentos. Até então, ele negava ter recursos no exterior. Depois disso, deixou de discutir o mérito das denúncias que sofreu e se limitou a criticar o vazamento das provas.
Alan Marques/Folhapress
"Ele sempre falou que não tinha nada no nome dele", contou um deputado do PMDB. "A gente até achava que podia vir algo em nome de uma empresa e ele como beneficiário. Mas quando apareceu a assinatura e o passaporte... Até tapando o nariz dava para sentir o cheiro."
Na sequência, foram divulgados trechos da delação do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, que diz ter distribuído a Cunha e outros políticos propina do esquema de corrupção descoberto na Petrobras. O lobista afirmou que Cunha recebeu ao menos R$ 5 milhões em espécie.
As revelações fragilizaram o peemedebista de modo que, na noite de sexta-feira, o discurso quase unânime entre os governistas e os seus opositores era de que ele não tinha mais condições de permanecer à frente da Câmara.
Sua melhor jogada, avaliaram deputados e senadores ouvidos pela Folha, seria trabalhar para fazer um sucessor que consiga dar um desfecho à crise política, abrindo ou enterrando um pedido de impeachment da petista.
Agora, avaliam os deputados, o trunfo de Cunha deixou de ser o afastamento de Dilma e passou a ser sua capacidade de conduzir a própria sucessão na Câmara.
Cabe ao chefe da Casa a decisão de dar prosseguimento ou arquivar pedidos de impeachment. Daí a importância de Cunha costurar a própria sucessão: se emplacar um aliado no cargo, continuará podendo influenciar o desfecho do governo Dilma.
CASSAÇÃO
O consenso é de que o peemedebista precisa agir rapidamente para não perder as condições de negociar a manutenção do mandato, evitando um processo de cassação no Conselho de Ética.
O peemedebista, agora, terá duas opções, calculam parlamentares próximos. Pode fechar um acordo com o governo e ajudar o Planalto a patrocinar um nome mais próximo aos articuladores da presidente Dilma, confiando que o PT não se engajará na cassação de seu mandato.
Ou pode fechar com a oposição e ajudar a eleger como sucessor um adversário da petista. Essa segunda opção, é o que está sendo chamado nos bastidores da Câmara de "impeachment branco".
Segundo um deputado da oposição, Cunha, que ensaiou uma reaproximação com o governo quando surgiram novas denúncias contra ele nesta semana, voltou na última quinta (15) a se queixar do Planalto e a dizer que era vítima de perseguição.
Nas conversas, ressaltou que não via as investigações contra ministros do governo citados na Operação Lava Jato terem desdobramentos na mesma velocidade que a sua.
Esse descontentamento alimentou aliados do peemedebista que trabalham pelo impeachment, como o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP).
Segundo relatos, na tentativa de frear as conversas entre Cunha e o Planalto, Paulinho disse ao peemedebista que "se o governo conseguisse segurar alguma coisa, não tinha ninguém do PT preso".
Na sexta-feira, quando o isolamento de Cunha era visível no Parlamento, Paulinho foi um dos poucos deputados que fizeram uma defesa pública do peemedebista. Um senador tucano viu no gesto a senha de que será Paulinho o interlocutor de Cunha com as oposições.
É que PSDB e DEM vão manter o discurso de que o peemedebista precisa renunciar a Presidência da Casa para poder se defender no Conselho de Ética. E Cunha tem dito que não deixará o posto.
Na primeira vez que a oposição divulgou essa tese, há uma semana, o peemedebista se irritou e disse que não era possível confiar em gente que dava mostras de que o abandonaria no primeiro revés. "Se eu derrubar ela [Dilma], no dia seguinte vocês me derrubam", afirmou.
A reclamação repercutiu. Cobrado por aliados que diziam que a cobrança havia jogado Cunha contra o impeachment, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, observou: "O afastamento dela [Dilma] não pode se dar às custas da destruição do nosso discurso".
A oposição pretende levar à disputa pela Presidência da Câmara um "oposicionista da gema". Uma vitória seria a desmoralização do governo, avaliam. Quem não acredita nesse resultado adverte que a queda de Cunha e ascensão de um nome mais sensível ao Planalto não deve ser vista como uma vitória por Dilma.
"A vida dela depende de um bichinho chamado economia, e eu não sinto ânimo para consertar. A CPMF não passa aqui", sentenciou um senador do PMDB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário