segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Contra o impeachment, Flávio Dino quer diálogo com oposição

do Valor Econômico

Um dos primeiros governadores a sair em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff, o maranhense Flávio Dino (PCdoB) acha que as decisões tomadas na quinta-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF) foram praticamente a pá de cal do pedido de impeachment da presidente da República. No entanto, para que o risco de impedimento seja sepultado de uma vez por todas, Flávio Dino diz que o governo não pode ficar “deitado em berço esplêndido”, mas sim abrir um diálogo político com a oposição e propor uma nova agenda econômica para o país.

Na opinião do governador, o Supremo “garantiu que o jogo político se processe segundo regras e não o vale tudo que estava ameaçando se transformar”. Segundo Flávio Dino, foi uma decisão “juridicamente correta, compatível com a lei e coma expectativa que o PCdoB tinha quando propôs a ação”.

“Politicamente isso abre uma janela de 60 a 90 dias para a presidente Dilma recompor uma base de apoio político, mas sobretudo recompor a base social de apoio ao governo”, disse. “Ela (a presidente Dilma) só vai conseguir estabilizar a relação com o Congresso, resolvendo essa questão de apoio social ao governo – é muito difícil manter a governabilidade institucional sem estabelecer uma governabilidade social”, defendeu o governador.

Recompor a base social, no ponto de vista do governador maranhense, “passa por uma política econômica um pouco mais ousada”, com ênfase no desenvolvimento. Dino eleogiou a troca de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda. “É a saída lógica. Barbosa é o nome que tem mais identidade com ela e com o nosso campo político. É um ministro com uma visão um pouco menos ortodoxa, porque a ortodoxia sem resultados acaba sendo injustificável”.

Para o governador Dino, “uma coisa é você fazer uma política econômica mais tradicional e isso produzir resultados que a justifiquem. Neste caso (a política de Levy) o que aconteceu? Você ficou, como se diz na linguagem sertaneja, sem mel e nem cabaça, Ficou sem as duas coisas. Você não obteve resultados e acabou deteriorando muito a base de apoio do governo”.

No início de dezembro, Flávio Dino reuniu-se com líderes do PDT em São Luís, capital do Maranhão, para lançar o movimento “Golpe Nunca Mais” contra o impeachment da presidente. A inspiração do movimento foi a Rede da Legalidade comandada por Leonel Brizola e que garantiu a posse de João Goulart na Presidência, em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros.

“Produziu-se nas últimas duas semanas uma aliança bem ampla, maior inclusive que a atual base de apoio do governo. Isso foi uma prova de vitalidade”, disse.

No momento. Segundo o governador, “a bola está muito com o governo federal. Cabe a ele ver essa questão da política econômica”. Particularmente, Dino acha que a presidente deveria de imediato fazer um chamamento à oposição. Sua sugestão é que Dilma convide os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva para uma reunião. “Acho que seria um passo, porque é impossível você recompor minimamente a funcionalidade do Congresso, sem um acordo de procedimentos”, disse. “Eu não digo acordo de mérito, porque é muito difícil, mas acordo de procedimentos que permita a volta das deliberações. Nós passamos 2015 praticamente parados”.

Na opinião de Dino, PT e PSDB, que polarizaram seis das sete eleições presidenciais desde 1989, “são as duas forças políticas legitimadas pelo povo para fazer este diálogo. Cabe ao governo o esforço de liderar um diálogo político mais amplo, assim como também propor uma nova agenda econômica para o Brasil”.

Para o governador maranhense, se antes o impeachment era uma “improbabilidade”, depois da decisão do Supremo ficou “quase impossível”. A menos que haja uma perda completa da relação com a sociedade. “os manifestos, as cartas, as passeatas mostram que há um nível de proteção ao governo que ultrapassar inclusive a aprovação ou não” da presidente da República. “Isso é uma barreira de contenção. A barreira social e a barreira institucional que o Supremo estabeleceu criam uma força de contenção muito poderosa”.

“Isso não significa que o governo deva se deita em berço esplêndido, mas ao contrário, cria um fôlego para agir em direção ao diálogo político mais amplo”.

Nesse contexto, o impeachment somente será recolocado, segundo Dino, se houver um aprofundamento maior da crise econômica. “A tendência agora é de melhorar, fazendo-se pequenas mudanças, meta de superávit, quem sabe sinalizar queda de juros com mais velocidade, isso com certeza vai melhorar o ambiente econômico”.


“Além disso acho que o próprio empresariado vai cair em si e entender que não dá para atear fogo às vestes”, disse o governador do Maranhão. “Não dá para sair tumultuando o país. Seria o caso único de uma classe dominante que é subversiva. Se é classe dominante ela não subverte. É um paradoxo, uma incongruência. Eu espero que os setores da sociedade brasileira que estavam sustentando o pedido de impeachment agora mudem um pouco de atitude. É no que eu acredito”, afirmou. 

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