Consulta pública sobre a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC 106/15) que pretende diminuir o número de senadores,
de 81 para 54, e de deputados federais, de 513 para 385, tem ganhado forte
apoio nas redes sociais.
"Acho que não tem
explicação um país como o Brasil ter três senadores por estado. Os Estados
Unidos, que têm uma população bem maior que a brasileira, por exemplo, têm
apenas dois", disse o senador Jorge Viana (PT-AC), autor da PEC.
Karine Melo, da Agência Brasil
A
discussão sobre diminuir o número de senadores, de 81 para 54, e de deputados
federais, de 513 para 385, tem ganhado força nos últimos dias. Isso porque um
link que incentiva internautas a participar de consulta pública sobre uma
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com esse objetivo, teve grande procura
essa semana nas redes sociais e, em apenas quatro dias, até sexta-feira (19),
já havia registrado mais de 136 mil apoio e pouco mais de 500 manifestações
contrárias.
O que diz a PEC
A PEC 106/15, de autoria do senador
Jorge Viana (PT-AC), altera os artigos 45 e 46 da Constituição Federal e
estabelece que cada estado e o Distrito Federal elegerão dois e não mais três
senadores, como é atualmente. A proposta não muda o tempo de mandato no Senado
que continuaria de oito anos.
Na Câmara, a proposta mantém o critério
de representação proporcional à população de cada unidade da federação, mas o
número mínimo de deputados passaria de oito para seis e o máximo de 70 para 53.
Poucas chances
Em entrevista à Agência Brasil, Jorge
Viana admitiu que as chances proposta avançar são mínimas. "Um assunto que
reduz o número de membros no Congresso, certamente deve ter uma rejeição grande
aqui, mas estou querendo fazer esse debate. Acho que não tem explicação um país
como o Brasil ter três senadores por estado. Os Estados Unidos, que têm uma
população bem maior que a brasileira, por exemplo, têm apenas dois",
disse.
Em defesa da PEC, ele diz que a medida
trará uma grande redução de gastos aos cofres públicos, além de uma eficiência
maior do trabalho. Viana ressalta que caso seja aprovada, a PEC também fará
alterações no número das cadeiras nas Assembleias Legislativas.
O texto da proposta diz que "nos
termos dos artigos 27, Caput, e 32, Parágrafo 3º, da Constituição Federal, a
representação nas Assembleias Legislativas e na Câmara Legislativa do Distrito
Federal é calculada com base no número de deputados federais da respectiva
unidade da federação".
Polêmicas
Para o professor de ciências políticas da
Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Caldas, é uma ilusão se posicionar
favoravelmente à proposta sem um debate aprofundado sobre o tema. "Essa
proposta não traz ganhos, ao contrário, torna o Parlamento mais elitista, menos
disposto a ouvir o cidadão, sem falar que as eleições vão ficar mais caras e
mais disputadas, com predomínio do poder econômico", disse.
Ainda segundo o professor, a proposta
facilitará o predomínio dos caciques dos partidos nas vagas do Legislativo,
além de estimular a compra de votos. " O que eu defendo é a adoção do voto
distrital, que aproxima o eleitor do seu representante. A questão não é o
número de deputados por estado, mas a relação entre o eleitor e o
parlamentar", afirmou.
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No voto distrital, o estado é dividido
em inúmeras regiões menores, chamadas de distritos eleitorais e os eleitores
daquele distrito só podem votar nos candidatos daquela região, e cada distrito
só elege um deputado.
Antonio Augusto de Queiroz, analista
político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), tem
outro ponto de vista. Mesmo acreditando que a proposta não tem nenhuma chance
de avançar, para ele, só fato da opinião pública apoiar a redução do número de
parlamentares demostra uma grande insatisfação e isso, avalia, tem um efeito
pedagógico no sentido de que aqueles que se elegerem vão ter cada vez mais
compromisso com suas bases.
Antonio Queiroz observa ainda que a
aprovação de uma proposta como essa não significaria a exclusão de forças mais
populares das urnas. "Uma proposta como essa precisa vir acompanhada de
outras mudanças no sistema político. Tudo vai depender da regra que for
aprovada", disse.
Para o analista político, um exemplo
dessas regras que ampliariam a representatividade seria a que garante a
participação feminina nas chapas. Hoje, a Lei Eleitoral fixa um mínimo de 30%
de candidatos de cada sexo, mas não estabelece sanções para partidos que não
cumprem o percentual. "Se no lugar de medidas como essa tivermos uma
cláusula de barreira elevada e um quociente eleitoral muito alto, realmente,
não teremos bons efeitos".
Tramitação
Apresentada no 16 de julho do ano
passado, a proposta foi encaminhada no dia seguinte à Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ) do Senado e, desde então, está parada aguardando designação de
um relator pelo presidente do colegiado, senador José Maranhão (PMDB-PB).
Diante da mobilização nas redes sociais, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
vai assumir a relatoria da proposta. Randolfe sabe das dificuldades que terá,
mesmo assim, demostra otimismo.
"Era difícil pensar em eleições
diretas no Brasil, e isso aconteceu. Era difícil pensar no impeachment de um
presidente da República, e isso também aconteceu. Quero o apoio da opinião
pública para que essa proposta seja aprovada. Devo receber, na segunda-feira
[22], do presidente da CCJ a relatoria, e vou apresentar meu relatório
favorável à proposta ainda esta semana", disse Randolfe.
Após a fase de análise nas Comissões do
Senado e da Câmara, a PEC precisa passar por dois turnos de votação no plenário
de cada uma das casas.
Consulta
Pública
Segundo o chefe do serviço de apoio ao
Programa E-Cidadania do Senado, Alisson Queiroz, ao contrário do que muita
gente pensa, no momento, apesar das opiniões dos internautas estarem sendo
registradas oficialmente, não há nenhuma consulta especial sobre a proposta.
"Da mesma forma como está acontecendo com a PEC 106/15, quem quiser,
também pode opinar em qualquer outra proposta que esteja em tramitação",
explicou.
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