Presidente do CRM ignora o conceito de estupro e manifesta solidariedade a Ribamar Alves

No momento em que se esperava um posicionamento mais firme do Conselho Regional de Medicina do Maranhão (CRM) acerca das denúncias gravíssimas que pesam contra o prefeito de Santa Inês, o médico Ribamar Alves, o seu presidente, Abdon Murad, resolve ignorar o conceito de estupro e  manifesta solidariedade ao colega de profissão, como se não estivesse configurada a prática de um crime hediondo.

O que diz o artigo 213, do Código do Processo Penal, sobre o crime de estupro? Estupro é constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.

No caso da acusação de estupro contra a vendedora de livros Adna, o laudo do exame de conjunção carnal, feito pelo ICRIM do Maranhão, não relata que ela tenha sofrido violência física, por não existirem marcas no corpo da jovem. No entanto, pode ter havido grave ameaça, como consta no depoimento prestado pela vítima à polícia. Uma vez levada para o motel sem seu consentimento, a jovem disse que pediu para que Ribamar Alves não lhe tirasse a roupa, mas ele não atendeu ao pedido. Acrescentou que não reagiu por temer o prefeito, pois ele já havia falado grosso com ela a caminho do motel, quando a mesma se recusara a pegar no pênis dele, ainda dentro do carro.

O fato de ele ter levado a jovem à força para o motel, sem aprovação dela, já foi uma demonstração de violência ou de grave ameaça. Outra coisa: se ela tivesse consentido a relação não teria, de imediato, procurado uma delegacia de polícia para relatar a ação criminosa do prefeito.

No entanto, para Abdon Murad, o laudo não aponta que há sinais de violência física na denunciante, o que não se configura o crime de estupro. Quantas mulheres são vítimas desse tipo violência e têm medo de denunciar por serem ameaçadas e temerem a morte, até por conhecerem bem a índole desse tipo de criminoso? Muitos estupradores não deixam marcas físicas, mas torturam suas vítimas com ameaças graves. Muitas são forçadas a viver em silêncio, principalmente se o estuprador possuir algum status na sociedade.

“Vidro não briga com pedra. Quem sou eu para denunciar esse doutor?”, poderia dizer a jovem Adna. Ao contrário de muitas, ela mostrou coragem para fazer a denúncia em uma delegacia, sem temer represálias ou perseguições futuras. Alguém pode até desencorajá-la, dizendo que ela não sabe com quem mexeu e que, agora, vai ter que aguentar as consequências, pois ele (Ribamar Alves) tem poder e não vai passar muito tempo na cadeia. Talvez até surja proposta de suborno pra que ela esqueça esse assunto.

Mas o CRM do Maranhão não está preocupado com a jovem Adna, mulher lutadora, batalhadora, que vende livros para garantir o pagamento da faculdade de Direito e que foi vítima de um aproveitador. O CRM está preocupado é com a prisão do médico Ribamar Alves. “Aguardamos as decisões Judiciais vindouras, enquanto manifestamos nossa solidariedade ao colega”, fecha a nota publicada por Abdon Murad em seu perfil no facebook.

A sociedade também aguarda decisões judiciais vindouras, mas que sejam realmente justas. Que possam levar em conta o histórico de perversão sexual do prefeito de Santa Inês, pois são muitos os relatos de abusos cometidos por ele. O mais badalado foi o assédio à Juíza da Comarca de Santa Inês, Larissa Tupinambá Castro, chegando a ser condenado. Portanto, já um ficha suja. Difícil acreditar que o prefeito seja inocente nesse episódio envolvendo a jovem Adna.

Na verdade, o médico Abdon Murad perdeu uma grande oportunidade de ficar calado. 

Para que não pairem dúvidas quanto ao ato praticado pelo prefeito de Santa Inês, fiquemos com o depoimento prestado pela vendedora de livros.