Em
delação, empresário Ricardo Pernambuco Júnior revela código para tratar, com
seu pai, propina para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
‘Enviei
para nosso amigo um livro de 181 páginas sobre túneis suíços’, escreveu
empreiteiro.
POR JULIA AFFONSO
MATEUS COUTINHO
E FAUSTO MACEDO
O ESTADO DE S. PAULO
O empresário Ricardo Pernambuco Júnior,
da Carioca Engenharia, revelou à Procuradoria-Geral da República o significado
de uma mensagem cifrada trocada com seu pai para tratar de suposta propina para
o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Pernambuco Júnior é
um dos delatores da Operação Lava Jato.
Segundo o empreiteiro, a propina total
‘devida’ a Cunha era de R$ 52 milhões, que deveriam ser divididos pela Carioca
– R$ 13 milhões -, OAS e Odebrecht, sobre contratos do Porto Maravilha, no Rio.
O empresário entregou aos investigadores uma tabela que aponta 22 depósitos
somando US$ 4.680.297,05 em propinas supostamente pagas pela Carioca a Eduardo
Cunha entre 10 de agosto de 2011 e 19 de setembro de 2014.

“Há um e-mail com o assunto “túneis”, em
que o pai do depoente, no dia 26 de abril de 2012, escreve: “Enviei para nosso
amigo um livro de 181 páginas sobre túneis suíssos (sic). Convém ele confirmar
se recebeu o livro e se gostou das fotos”; que se tratava de uma mensagem
cifrada enviada por seu pai”, contou. “A pessoa de ‘nosso amigo’ fazia
referência ao deputado Eduardo Cunha e a menção ‘181 páginas’ referia-se ao
valor de 181 mil francos suíços e, ainda, ‘túneis suíssos (sic)’ fazia
referência ao país do depósito, ou seja, a Suíça.”
Pernambuco Júnior deu detalhes aos
procuradores. “Inclusive, relacionado a este e-mail, já foi identificada uma
transferência ocorrida no dia 24 de abril de 2012 – ou seja, dois dias antes do
e-mail – na qual consta repasse de valores de 181 mil francos suíços
(equivalentes na época a US$ 198.901,10, conforme tabela), para a conta da
offshore Penbur Holdings, provavelmente no banco BSI.”
O delator entregou à Procuradoria-Geral
da República ‘múltiplos registros de agenda outlook, relativos a encontros seus
com Eduardo Cunha, referindo inclusive ao endereço do escritório político dele
no Rio de Janeiro’.
“Nestes registros, Eduardo Cunha é identificado pelas iniciais de seu nome, ‘EC’.”
Em 14 páginas de depoimento, o
empresário Ricardo Pernambuco Júnior narrou com detalhes o primeiro encontro
que teve com o presidente da Câmara para combinar como seriam feitos pagamentos
no exterior. A reunião teria ocorrido no escritório político de Cunha, no Rio,
início de agosto de 2011.´Nessa época, o peemedebista ainda não exercia a
presidência da Casa.

Pernambuco Júnior descreveu para os
investigadores o escritório do presidente da Câmara. “Indagado sobre a
descrição do escritório político de Eduardo Cunha, respondeu que se trata de um
escritório com decoração mais antiga, que tem uma antessala, com uma
recepcionista; que, além disso, havia dois sofás, em seguida um corredor, com
duas salas; que nestas salas havia uma secretária mais alta e um assessor do
deputado; que este assessor era uma pessoa mais velha, com cerca de 60 anos,
acreditando que fosse um pouco calvo, possuindo cabelo lateral; que nunca
conversou, porém, nenhum assunto com tais pessoas; que mais à esquerda tinha a
sala do deputado Eduardo Cunha, com uma mesa antiga, de madeira maciça, com
muitos papeis em cima; que acredita que o escritório fique no 32.º andar.”
COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE IMPRENSA
DE EDUARDO CUNHA
É a quarta vez que sai matéria sobre
mesmo assunto. O presidente já repudiou os fatos que não tem prova alguma.
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