Nossa democracia não pode ser violentada. O voto de cada brasileiro e cada brasileira deve ser respeitado. O golpe deve ser impedido, para que o Brasil não retroceda na política, nos direitos, na inclusão.
DEMOCRACIA: O LADO CERTO DA HISTÓRIA
Por Dilma Rousseff
Vivemos dias decisivos para a jovem
democracia brasileira. Vivemos tempos que colocam em risco o direito do povo
escolher, por eleição direta, quem deve governar o nosso país. São tempos em
que a capacidade de diálogo, tolerância e respeito às diferenças políticas está
sendo testada ao limite.
Vivemos sob a ameaça de um golpe de
estado. Um golpe sem armas, mas que usa de artifícios ainda mais destrutivos
como a fraude e a mentira, na tentativa de destituir um governo legitimamente
eleito, substituindo-o por um governo sem voto e sem legitimidade.
Sou de uma geração que lutou muito pela
democracia e, apesar de todas as dores e sacrifícios, inclusive a dor extrema
da tortura e o sacrifício maior da vida, venceu.
Acredito no Brasil democrático e no povo
brasileiro e tenho trabalhado muito para honrar os votos dos mais de 54 milhões
de eleitores que me elegeram para governar o Brasil por quatro anos, até 31 de
dezembro de 2018.
Neste momento, há um pedido de
impeachment contra mim em julgamento no Congresso Nacional. Um pedido de
impeachment aberto sem que eu tenha cometido crime de responsabilidade. Aliás,
não cometi crime algum, de nenhum tipo.
Os que se pretendem meus algozes é que
têm encontro marcado com a Justiça, mais cedo ou mais tarde. Para fugir dela,
tentam derrubar um governo que criou leis contra a corrupção, deu transparência
à administração pública e sempre apoiou a ação independente da Polícia Federal
e do Ministério Público.
Tudo isso faz deste julgamento uma
grande fraude. Na verdade, a maior fraude jurídica e política da história de
nosso país. Destituir uma presidenta pelo impeachment, sem que ela tenha
cometido crime de responsabilidade, é rasgar a Constituição brasileira.
Trata-se de um golpe contra a República, contra a democracia e, sobretudo,
contra os votos de todos os brasileiros que participaram do processo eleitoral.
Fazer oposição e criticar meu governo é
parte da democracia. Mas derrubar uma presidenta legitimamente eleita, sem que
tenha cometido qualquer crime, sem que seja sequer investigada em um processo,
não faz parte da democracia.
É golpe!
Não temo investigação de qualquer
natureza sobre minha conduta. Jamais me opus ou criei obstáculos a qualquer
investigação, sobre quem quer que seja.
Não sou suspeita, não sou investigada,
não sou ré, mas querem me derrubar por meio de um impeachment ilegal. Querem me
submeter a uma das maiores injustiças que se pode cometer contra alguém:
condenar um inocente.
Querem condenar uma inocente e salvam
corruptos.
Peço a todas as brasileiras e a todos os
brasileiros que não se iludam, nem se deixem enganar. Vejam quem está liderando
este processo. Perguntem-se porque querem tanto me derrubar da Presidência e
desrespeitar o voto do povo.
Será que estes que lideram o golpe
permitirão que o combate à corrupção continue? Qual a sua legitimidade? O que
querem dizer quando anunciam a necessidade de impor sacrifícios à população? O
governo de salvação que prometem será para salvar o Brasil ou a eles mesmos?
Respeito os que se opõem a meu governo e
gostariam de ver outra pessoa na Presidência. Sei que muitos pensam assim de
boa-fé, porque ainda não perceberam quem são os conspiradores.
As pessoas que pensam e agem de boa fé,
ao contrário dos líderes da fraude golpista, devem entender que não precisam
gostar de mim para se opor ao golpe. Basta gostar da democracia. Basta
respeitar o eleitor.
Nossa democracia não pode ser
violentada. O voto de cada brasileiro e cada brasileira deve ser respeitado. O
golpe deve ser impedido, para que o Brasil não retroceda na política, nos
direitos, na inclusão.
Derrubar uma presidenta legitimamente
eleita não é solução para enfrentar os momentos difíceis que vivemos na
economia brasileira. Muito ao contrário: sem a legitimidade concedida pelo voto
direto, nenhum governo é capaz de construir saídas democráticas para a crise.
Com o golpe, a crise se aprofundaria e se prolongaria.
Faço questão de lembrar que, apesar de
toda a crise, as nossas políticas sociais continuam em curso. Os jovens seguem
tendo acesso ao ProUni, ao Fies e ao Pronatec. O Bolsa Família, o Mais Médicos,
o Minha Casa, Minha Vida continuam íntegros e mudando a vida do povo
brasileiro. Jamais rompemos ou romperemos com os compromissos por um Brasil
justo e inclusivo, de todos os brasileiros e brasileiras. Sabemos que estabilizar
a economia e o nível de emprego é tarefa urgente e fundamental, que
enfrentaremos com ainda mais vigor, assim que superarmos a crise política.
A inflação felizmente já começou a
diminuir. Os consumidores já perceberam isso em seu dia a dia, na conta de luz
e no preço dos alimentos. Esta é uma boa notícia porque interrompe a perda de
poder de compra das famílias e abre espaço para a redução da taxa de juros.
Estamos vendendo mais produtos para o
resto do mundo e, com isso, o superávit em nossa balança comercial é crescente.
Nossas reservas internacionais são elevadas e, ao contrário do que tentam
mostrar na imprensa, o investimento estrangeiro direto continua vindo para o
Brasil.
Os fundamentos da economia são hoje
muito melhores do que no tempo em que mandavam no Brasil os líderes do golpe e
o FMI. Muitas de nossas dificuldades hoje são obra do golpismo e da aposta
política no "quanto pior melhor", que instabiliza o país desde a
eleição.
Acabamos de firmar um acordo com os
governadores para alongar o prazo das dívidas estaduais, garantindo um alívio
às contas dos Estados neste momento de dificuldades. Isto é muito importante,
pois diminuirá os riscos de atrasos de pagamentos do funcionalismo, permitirá a
continuidade de serviços fundamentais para a população e até mesmo a retomada
ou aceleração de obras.
Enviei ao Congresso uma proposta para
ampliar os recursos disponíveis para gastos fundamentais, em especial na área
de saúde e educação, e para dar sequência a obras que estão em andamento e a
investimentos na área de defesa, fundamentais para nosso futuro. Esta proposta
e a renegociação da dívida dos governos estaduais terão, juntas, impacto
suficiente para gerar 1 ponto percentual de crescimento no PIB do país.
Tudo isso já está em curso. Sei que precisamos
fazer muito mais e, vencida esta batalha contra o golpe, proponho a construção
de um pacto nacional.
Proponho um pacto que envolva todos os
segmentos da sociedade – todos, sem exceção – para construirmos novas propostas
para a retomada do desenvolvimento do Brasil. Propostas que devem ter como
premissas a continuidade dos programas sociais e o respeito aos direitos de
todos os cidadãos.
O futuro do Brasil está na inclusão
social que dinamiza a economia e aprofunda a democracia. Entre as propostas de futuro,
faço questão de destacar a necessária e inadiável reforma política, para
aumentar a representatividade de nosso sistema, cortar a raiz da corrupção
política e democratizar e tornar mais transparente a atividade política.
Faço um apelo aos brasileiros que
estarão nas ruas, mobilizados, nos próximos dias, até que o golpe de estado
seja derrotado. Acompanhem os acontecimentos com atenção e, sobretudo, com
calma e em paz. Peço calma e paz a todos – aos que são contra mim e aos que
estão comigo e contra o golpe.
Peço aos deputados federais de todos os
estados e de todas as agremiações políticas, sem distinção ideológica que, no
domingo, tomem posição clara em defesa da democracia e da legalidade.
Desejo que suas consciências os
aconselhem a votar contra o golpe, contra a interrupção de um mandato conferido
pelo povo e contra os enormes riscos que a derrubada de um governo legítimo
pode causar. Presto homenagem aos parlamentares de todos os partidos que estão
contra o golpe. Chamo à reflexão aqueles que ainda relutam em cerrar fileiras
contra o impeachment.
A história, que fará nosso julgamento
definitivo, vai honrar a biografia de vocês, tanto quanto vocês estarão
honrando seu país ao votar contra um impeachment ilegal. Quem defende a
democracia nunca se arrepende.
A democracia é sempre o lado certo da
história.
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