Com isso, estão na mira o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), o ex-ministro e senador Edison Lobão (MA) e o senador Valdir Raupp (RO).

POR RICARDO BRANDT, enviado
especial a Curitiba
FAUSTO MACEDO,
JULIA AFFONSO
E MATEUS COUTINHO
O Estado de São Paulo
Com base no mesmo roteiro
adotado para investigar a arrecadação política e partidária do PP e do PT, a
força-tarefa da Operação Lava Jato trabalha para ampliar as provas de repasses
a políticos do PMDB a partir dos dados de contas e offshores de operadores de
propinas. A investida sobre os peemedebistas coincide com a provável chegada ao
Palácio do Planalto de Michel Temer, vice-presidente da República e presidente
de honra do PMDB.
Em conversas reservadas e
apurações sigilosas, autoridades ligadas à Lava Jato indicam que a força-tarefa
está próxima de revelar dados e transações capazes de produzir impacto direto
no chamado núcleo político do esquema sustentado pelos supostos operadores de
propina do PMDB na corrupção desbaratada na Petrobrás: Fernando Soares, o
Fernando Baiano, e João Henriques.
Com isso, estão na mira o
presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), o presidente do Senado, Renan
Calheiros (AL), o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(RJ), o ex-ministro e senador Edison Lobão (MA) e o senador Valdir Raupp (RO).

Para a Lava Jato, o PMDB, a
exemplo de PT e PP, empregou uma sistemática para arrecadar propina e lavar
dinheiro no exterior, indicam as frentes de apuração com foco em contratos de
plataformas, poços de petróleo, negócios com multinacionais estrangeiras,
aquisições e vendas de refinarias fora do País, como Pasadena (EUA). Esses inquéritos, em Curitiba e Brasília,
revelarão, em detalhes, a sistemática empregada pela legenda e seus membros
para arrecadar valores – declarados ou não.
Por meio da análise das mesmas
offshores e contas usadas por João Henriques e Fernando Baiano para transferir
propina aos diretores da Petrobrás, procuradores da força-tarefa estão no
caminho de novas provas do envolvimento e o recebimento de valores por
políticos do PMDB.
Fernando Baiano e João Henriques
teriam pagado propinas em um pacote de quatro contratos de navios-sonda, usados
para exploração de petróleo em alto mar. Os beneficiários na estatal foram dois
ex-diretores da área Internacional, Nestor Cerveró e Jorge Zelada, sustentados
politicamente nos cargos, segunda Lava Jato, pelo PMDB. Presos em Curitiba,
desde o início do ano passado, eles foram denunciados e condenados em processos
da 13ª Vara Federal, sob a guarda do juiz Sérgio Moro – que preside os
processos de alvos sem foro privilegiado.
“João Henriques teria operado a
propina do navio-sonda Titanium Explorer por intermédio de um contrato de
agenciamento internacional. Assim, a documentação apreendida corrobora a tese
no sentido de que o acusado utilizou de empresas offshores para intermediação
de propina em favor do PMDB mediante desvios da diretoria internacional da
Petrobrás”, diz a Procuradoria em um desses processos, que tem como réus Zelada
e Henriques.

TRECHO MPF SOBRE JH E PMDB SETOR
OFFSHORES
João Henriques é uma figura
central nessa apuração. O operador chegou a ser preso no ano passado e
denunciado por corrupção. Só nesta ação penal, ele é acusado pelo acerto de US$
31 milhões em propinas em negócio da Diretoria Internacional da Petrobrás, em
2009, então sob comando de Zelada. “Parte desse valor, US$ 10,8 milhões, teria
sido repassada para o PMDB”, diz a Procuradoria.
Em delação premiada, o
ex-gerente da área Internacional da Petrobrás Eduardo Musa, que tinha relação
direta com negócios de plataformas, afirmou que ouviu do próprio operador de
propinas João Henriques que ele era indicado pelo PMDB de Minas Gerais, mas
quem tinha a palavra final da área “era Eduardo Cunha” – o presidente afastado
da Câmara dos Deputados. O parlamentar nega.

TRECHO MUSA FALA JH E CUNHA
Loteamento
Para a força-tarefa
da Lava Jato, o PMDB era a segunda perna de sustentação do esquema de corrupção
sistêmica nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, descoberto a
partir da Petrobrás. Na estatal petrolífera, a organização criminosa denunciada
montou, em síntese, uma sistemática de loteamento partidário de
diretorias-chave e indicações de diretores, que, via operadores de propina,
fraudavam e desviavam de 1% a 3% dos contratos. Eles atuavam em conluio com
empresários de um cartel que abastecia o maior caixa da corrupção descoberto
até aqui no Brasil: mais de R$ 20 bilhões.
Uma arrecadação que beneficiou
PT, PMDB e PP, apontados como controladores do esquema, mas também irrigou
cofres de partidos da oposição, como PSDB. As investigações sobre o esquema do
PMDB nas propinas na Petrobrás iniciaram em 2014, em Curitiba – sede da Lava
Jato. Os trabalhos da Polícia Federal e do Ministério Público Federal
pavimentaram até aqui o caminho para acusações contra políticos, iniciadas este
ano pela Procuradoria Geral da República, como a feita contra o presidente
afastado da Câmara Eduardo Cunha. A cota do PMDB no esquema era a Diretoria de
Internacional, área responsável por algumas das investigações em curso.
Contratos
A força-tarefa
considera ter elementos para apontar que João Henriques tenha distribuído
propina em projetos de gasodutos na bacia de Santos, na compra de Pasadena, nos
Estados Unidos, na venda Refinaria San Lonrenzo, na Argentina, a perfuração de
poços na África, além de outras obras como a reforma do Centro de Pesquisas da
Petrobrás (Cenpes), no Rio. A quebra de sigilo de uma de suas empresas mostrou
que Henriques recebeu comissões milionárias na maior parte desses projetos.
A Lava Jato tem outras duas
frentes de investigação que atingem diretamente o PMDB: a corrupção revelada
pelo ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa na Transpetro, subsidiária da
estatal, e as investigações do setor elétrico, como as obras de Belo Monte. No
caso da Transpetro, o maior risco é para o presidente do Senado, Renan
Calheiros, padrinho do ex-presidente Sérgio Machado, que comandou a subsidiária
durante os governos Lula e Dilma.
Costa revelou ter entregue R$
500 mil a Machado, por propina referente ao afretamento de navios. No caso do
chamado eletrolão, o executivo Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, confessou
que houve pagamento de propina de R$ 150 milhões na obra, divididos pela metade
entre PMDB e PT.
Defesas
Procurado via defesa,
Cunha não foi localizado. O presidente afastado da Câmara vem negando
veementemente o envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás.
O senador Renan Calheiros nega
relação com o esquema e recebimentos de propina. Jorge Zelada, por meio de sua
defesa, disse que as denúncias contra eles são “absolutamente improcedentes” e
que ele não recebe propina. A defesa de João Henriques não foi localizada. Em
outras ocasiões, ele negou irregularidades e informou ter recebido comissões
por intermediações de contratos. Cerveró e Baiano confessaram envolvimento com
o esquema, em suas delações.
COM
A PALAVRA, O PMDB
O PMDB nega envolvimento em
ilícitos. O presidente do partido, senador Roméro Jucá, divulgou nota via
assessoria de imprensa. “O PMDB sempre arrecadou recursos seguindo os
parâmetros legais em vigência no País. Doações de empresas eram permitidas e
perfeitamente de acordo com as normas da Justiça Eleitoral nas eleições
citadas”, afirmou ele, cotado para assumir o Ministério do Planejamento de um
eventual governo de Michel Temer.
Na nota, o partido informa que
“em todos esses anos, após fiscalização e análise do Tribunal Superior
Eleitoral, todas as contas do PMDB foram aprovadas não sendo encontrado nenhum
indício de irregularidade”.
O PMDB negou todas as acusações
de delatores até aqui. E disse que a sigla nunca autorizou quem quer que seja a
ser intermediário do partido para arrecadar recursos.
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