Em escutas obtidas pelo Ministério
Público, caciques do PMDB aparecem em conversas que, para Janot, demonstram uma
tentativa política de inviabilizar as investigações sob o argumento de manter a
estabilidade institucional do Brasil.

GUSTAVO AGUIAR - O ESTADO DE S. PAULO
Brasília - O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, deu um recado claro e contundente nesta segunda-feira
contra acordões e manobras políticas que, supostamente, tentam impedir o avanço
da Lava Jato. Na abertura de um seminário em Brasília sobre a Operação Mãos
Limpas, que investigou um dos maiores escândalos de corrupção envolvendo
políticos e autoridades italianas, Janot afirmou que "não há força humana,
de pessoas ou de grupos, que possa se interpor entre o caminhar coletivo e o
futuro" contra a corrupção no Brasil.
"Hoje, algumas vozes reverberam o
passado e ensaiam a troca do combate à corrupção por uma pseudo estabilidade, a
exclusiva estabilidade destinada a poucos. Não nos sujeitaremos à
condescendência criminosa: não é isso que o Brasil quer, não é disso que o país
precisa", afirmou o procurador-geral da República. Ele não citou nomes,
mas a referência a descobertas recentes de manobras contra a Lava Jato ficaram
claras.
Em escutas obtidas recentemente pelo
Ministério Público, caciques do PMDB aparecem em conversas que, para Janot,
demonstram uma tentativa política de inviabilizar as investigações sob o
argumento de manter a estabilidade institucional do Brasil. A revelação ensejou
pedidos de prisão contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o
senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da República, José Sarney
(PMDB-MA). Os pedidos, no entanto, acabaram vazando e foram negados pelo
relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori
Zavascki.
"Se os nossos timoneiros não
perceberem rapidamente a direção dos novos ventos, certamente estarão fadados à
obsolescência democrática. Ficarão, com os seus valores ultrapassados, presos
irremediavelmente no tempo do esquecimento e condenados pelo juízo implacável
da história", advertiu Janot.
Pressão
popular
O procurador-geral da República afirmou
também que a Lava Jato não poderá salvar o País, e que o combate à corrupção
depende também da mobilização popular. "Afirmo, sem receios de equívoco,
que a mudança desejada depende sobretudo da mobilização social. Não chegaremos
ao fim dessa jornada pelos caminhos do Ministério Público ou do Judiciário.
Esses são peças coadjuvantes no processo de transformação e de aprofundamento
dos valores republicanos", disse.
Estavam presentes durante o evento, além
de integrantes do Ministério Público, o presidente do STF, ministro Ricardo
Lewandowski, parlamentares, como o segundo presidente do Senado, senador Jorge
Viana (PT-AC), o ministro da Transparência, Torquato Jardim, o adovogado-geral
da União, Fábio Medina Osório, e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.
Em seu discurso, Moraes defendeu a
aprovação do projeto de lei popular encabeçado pelo Ministério Público,
conhecido como 10 Medidas Contra a Corrupção. Ele afirmou que a pasta está
estudando as propostas uma a uma, mas afirmou que as sugestões do órgão são
"importantes porque fortalecem as instituições e aprimoram a aplicação das
leis".
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