

As gravações de conversas entre
Sérgio Machado e seus aliados do PMDB já provocaram a queda de dois ministros,
Romero Jucá, do Planejamento, e, na semana passada, Fabiano Silveira, da
Transparência. Foi apenas uma amostra do que a delação de Sérgio Machado pode
produzir. As revelações mais graves e explosivas ainda estão por vir, e vão
implodir a cúpula do PMDB, o partido que dividiu com o PT os lucros do
Petrolão. Em depoimentos prestados à Lava-Jato, e mantidos até agora em
segredo, Machado contou ter destinado pelo menos 60 milhões de reais em
propinas ao presidente do Congresso, Renan Calheiros, ao também senador Romero
Jucá e ao ex-presidente José Sarney. Não foi uma acusação genérica, como muitas
que têm sido feitas. Além de explicar a origem do dinheiro, o delator indicou
aos investigadores o nome do cidadão que, sob suas ordens, era encarregado de
fazer a entrega pessoal do dinheiro aos peemedebistas.
O homem da mala chama-se Felipe
Parente, também cearense. Foi escolhido pelo próprio Sérgio Machado para
desempenhar a missão. Trabalhava havia anos com um dos filhos do ex-presidente
da Transpetro e, nessa condição, uma década atrás atuava como emissário para as
operações clandestinas de coleta e entreva da propina. Não é a primeira vez que
Felipe Parente aparece no radar da Lava-Jato. Na delação de Ricardo Pessoa,
dona da empreiteira UTC, ele já havia sido apontado como o coletor de uma
propina de 1 milhão de reais cobrada por Sérgio machado para que a Transpetro
liberasse pagamentos atrasados de um contrato de reforma de tanques de
estocagem de combustível. A engrenagem funciona assim: para liberar os
pagamentos de serviços prestados à Transpetro, Machado cobrava um porcentual
das empresas e, depois de paga, a propina era então entregue a Felipe Parente.
O traquejo de operador eficiente
e cuidadoso permitiu que Sérgio Machado passasse anos à frente da Transpetro
sem deixar vestígios do que fazia a portas fechadas. Nas negociações, ele só
falava com os donos de empreiteiras. Não aceitava conversar com intermediários.
Em seu gabinete, adotava cuidados especiais para evitar flagrantes indesejados.
Tinha um sistema antigrampos para impedir que suas conversas fossem
registradas. Com a evolução da Lava-Jato, Machado foi aos poucos sendo cercado.
Citado em deleção premiadas como beneficiário de propinas, ele insistia em
negar. Jurava ser inocente, vítima de calúnias de delatores como Paulo Roberto
Costa, ex-diretor da Petrobras, e Ricardo Pessoas, da UTC. Mas a Lava-Jato
descobriu um ponto sensível capaz de dobrá-lo. Rastreando a rota do dinheiro do
petrolão no exterior, a operação chegou a transações realizadas por um dos
filhos de Machado, controlador de um fundo bilionário sediado em Londres. Era o
que faltava para convencê-lo a ceder.
Em mais de uma dezena de
conversas no Rio e em Fortaleza, primeiro com intermediários de depois com o
próprio Sérgio Machado, os investigadores foram alinhavando o que viria a ser
mais uma delação explosiva – aquela que, finalmente, levaria à velha-guarda do
PMDB, responsável por apadrinhá-lo. Para além da coleção de áudios gravados às
escondidas com seus antigos parceiros, Machado prestou mais de dez horas de
depoimentos em que revelou as minúcias do propinoduto que operava. Disse que o
mesmo emissário que coletava a propina, Felipe Parente, também era encarregado
de dar o destino final ao dinheiro. Foi por meio desse expediente que Machado
fez chegar os 60 milhões de reais em propinas a Renan, Jucá e Sarney. Ele
acrescentou: só ao ex-presidente Sarney destinou 19 milhões de reais. Machado
também contou que, além de ordenar as entregas de propina aqui no Brasil,
guardava dinheiro no exterior para políticos, entre eles Renan Calheiros. Os
acusados negam ter recebido propina. Talvez delações particularmente reveladoras
nem fossem mais necessárias, depois das de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro.
Mas elas não param de pipocar.
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