Dono de site de notícias é morto a tiros
em Santo Antônio do Descoberto. Ele era pré-candidato a vereador em outubro

A Polícia Civil de Goiás trabalha com a
linha de crime encomendado para o assassinato do jornalista João Miranda do
Carmo, 54 anos, em Santo Antônio do Descoberto (GO), distante 49km do Plano
Piloto. Ele morreu na noite de domingo, após homens estacionarem na porta da
casa dele. Os algozes confirmaram o nome do jornalista antes de atirar. A
vítima tinha um site de notícias, em que publicava informações contra o governo
e denunciava casos de tráfico de drogas no município goiano localizado no
Entorno. Além do trabalho como repórter, João Miranda pretendia ingressar na
política. Chegou, inclusive, a realizar a pré-candidatura para concorrer a
vereador em Santo Antônio do Descoberto.
Ainda não se sabe quantas pessoas teriam
atirado contra João, que levou sete tiros. Investigação preliminar aponta que
pelo menos dois homens estavam armados. Testemunhas ouvidas pela reportagem
afirmaram que um Palio vermelho parou em frente à residência. Enquanto o
motorista permaneceu dentro do veículo, outro rapaz se aproximou do portão e
chamou a vítima. Ao aparecer na varanda, o jornalista acabou atingido. Os
criminosos fugiram em seguida. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Samu) foi acionado, mas, quando chegou ao local, João Miranda estava morto.
De acordo com o soldado da Polícia
Militar de Goiás Alisson Assis, o enteado do jornalista já havia relatado à
corporação que o padrasto “sofreu inúmeras ameaças de morte, sempre por causa
da profissão que exercia”. O carro de João Miranda havia sido incendiado no
começo do ano, como um sinal de alerta, para que ele parasse de “tocar em
certos assuntos”, contou a PM de Goiás.
Dono do site de notícias S.A.D sem
censura e pré-candidato a vereador pelo PCdoB, o jornalista produzia matérias
com denúncias contra adversários políticos, como o atual prefeito de Santo
Antônio do Descoberto, Itamar Lemes do Prado, que não foi localizado pela
reportagem. Em nota, ele afirmou que “o prefeito e toda a sociedade
santoantoniense se encontram perplexos com a notícia da morte do morador,
blogueiro e pai família João Miranda, e lamentamos profundamente essa trágica e
inestimável perda”. Ainda segundo o comunicado de Itamar, a Polícia Civil está
sendo cobrada para apurar “esse trágico crime”.
Uma vizinha de João Miranda testemunhou
a execução e acredita que o caso tenha sido provocado por desavenças políticas.
“Ele era uma pessoa de bem. Não aumentava a voz sequer para os que o faziam
mal. O único crime cometido por João foi denunciar as mazelas da cidade”,
contou a mulher, que mora no bairro Morada Nobre há sete anos.
Amiga da vítima, Arquilene Mota, 38
anos, avalia que é prematuro apontar culpados no momento. “Os tiros podem ter
partido de qualquer inimigo. Por isso, devemos aguardar o fim das
investigações”, comentou. Segundo Arquilene, João teve uma trajetória de vida
muito bonita. “Com poucos recursos, dava voz aos necessitados. Devido ao
destaque obtido com um blog de denúncias locais, atingia muitas pessoas”,
acrescentou.
A Polícia Civil já realizou os exames
cadavéricos. Mas, por causa do feriado estadual ontem, as investigações
acabaram interrompidas. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido
preso.
Em nota, o Sindicato dos Jornalistas
Profissionais e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) lamentaram o
assassinato de João Miranda. As entidades ressaltaram, ainda, que, além da
punição dos responsáveis, é necessário que empresas de comunicação e forças de
segurança do país implementem medidas preventivas. Já a Associação Brasileira
de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) exige celeridade nas investigações e
punição exemplar para os assassinos. “É inadmissível que, em um país
democrático, um jornalista seja friamente assassinado por sua atuação
profissional ao cumprir a função de informar o cidadão. Esse tipo de violência
coloca em risco um dos direitos fundamentais da sociedade: a liberdade de
expressão.”
Nota
da Fenaj e Sindicatos dos Jornalistas de Goiás
O Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de Goiás e a Federação Nacional dos Jornalistas lamentam o brutal
assassinato do jornalista João Miranda do Carmo, ocorrido neste domingo em
Santo Antônio do Descoberto, e espera que as autoridades cumpram com o seu
dever de esclarecer as circunstâncias, punindo os responsáveis com o rigor da
lei.
Responsável pelo blog “SAD Sem Censura” com
denúncias locais, João Miranda era também dirigente do PCdoB. As entidades
representativas dos jornalistas em Goiás e no Brasil se solidarizam com os
familiares.
Além da ação policial e judiciária para
captura e punição dos responsáveis, é preciso que se tomem medidas preventivas
tanto pelas empresas de comunicação quanto pelas forças de segurança do país
para dar um basta nessa situação. Nesse sentido, a Fenaj vem propondo a
instituição de um protocolo de segurança que permita as condições necessárias
para o exercício do Jornalismo e para a garantia das liberdades de expressão e
de imprensa no Brasil.
Goiânia, 25 de julho de 2016.
Sindicato dos Jornalistas Profissionais
de Goiás
Federação Nacional dos Jornalistas –
FENAJ
Nota
da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)
No último domingo (24.jul.2016), o
jornalista João Miranda do Carmo foi assassinado em Santo Antônio do Descoberto
(GO). Dois homens atiraram contra ele na porta de sua casa, atingindo-o pelo
menos sete vezes no peito. Carmo mantinha o site SAD Sem Censura, em que cobria
crimes, problemas e política da cidade.
Segundo familiares do jornalista, ele já
havia sofrido ameaças por causa do que publicava. No final de 2014, em uma
ocorrência ainda não esclarecida, seu carro foi incendiado.
O delegado responsável pelo caso, Pablo
Santos Batista, não descarta que o assassinato tenha sido motivado pela
atividade de Carmo no site. Uma das linhas de investigação da Polícia Civil é
de que o crime foi encomendado.
A Abraji reivindica às autoridades
policiais de Goiás que realizem uma investigação rápida para determinar se João
Miranda do Carmo foi assassinado em retaliação ao exercício do jornalismo, sob
pena de contribuirem para o cerceamento da liberdade de imprensa e expressão na
região por meio do medo.
Diretoria da Abraji, 26 de julho de
2016.
Com informações do Correio Braziliense
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