Em coletiva à imprensa
internacional ao lado do advogado José Eduardo Cardozo, Dilma Rousseff destacou
que "há uma grande inconformidade dos golpistas com a palavra golpe",
um dia depois de Michel Temer ter dito que não irá tolerar ser chamado de
golpista

A ex-presidente
Dilma Rousseff comentou pela primeira vez nesta sexta-feira (2), em uma
entrevista coletiva à imprensa internacional, no Palácio da Alvorada, o
fatiamento da votação do processo de impeachment que manteve seus direitos
políticos e de ocupar cargos públicos nos próximos oito anos.
"No
processo de votação, eles se desnudam. Eu sei que tinham muitos senadores
indecisos, desconfiados que esse processo não era o que pintava. Mas sei também
que o governo interino fez uma enorme pressão [para conseguir votos]",
disse. Para Dilma, "o segundo voto é o voto daqueles que não consideram
que cabiam uma punição. São senadores que estavam indecisos que sofreram
pressões".
"Essa
cassação é de fato uma pena principal. Você já afasta uma pessoa sem crime de
responsabilidade. E depois tira os direitos também sem crime de
responsabilidade? E aí?", questionou. "Eu não acho que atenua ou não
atenua o que fizeram. Acho que são detalhes em decorrência do que fizeram. O
ato é que me condenaram a uma morte política, que é a retirada do meu
mandato", condenou, completando que a "dupla votação" – no caso,
a mudança do resultado – é "estranhíssima". "É no mínimo
estranho", opinou.
Um dia
depois da primeira fala de Michel Temer como presidente da República, dizendo
que não irá tolerar ser chamado de golpista, Dilma afirmou que "há uma
grande inconformidade dos golpistas com a palavra golpe. Tenta-se de todas as
maneiras evitar que fique evidente o caráter desse processo". "É um
golpe parlamentar, mas é um golpe", lembrou.
Dilma
também condenou a repressão da polícia às manifestações contra o governo Temer
que vêm ocorrendo nos últimos dias. "Nós sempre convivemos com
manifestações democráticas, nunca reprimimos, como está ocorrendo nesse
momento", observa. "É assim que se começam as ditaduras, e não
precisam ser só militares, podem ser civis disfarçadas", alerta a petista.
Afirmando
que ficará "alerta" em relação à violência nos atos, Dilma disse
também que não se pode aceitar que se digam que "a culpa é dos
manifestantes". "Isso não se pode deixar acontecer", defendeu.
Nesta sexta, os jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo publicaram
editoriais chamando os manifestantes de "fascistas" e pedindo maior
repressão da polícia de Temer contra eles.
"A
força do estado é muito maior do que a força das pessoas, o terrorismo de
estado é gravíssimo, o estado não pode fazer isso principalmente porque vivemos
numa democracia e também porque a poder do estado é muito forte",
reforçou.
Dilma
também fez críticas à cobertura da mídia brasileira sobre o processo de
impeachment e destacou a importância de veículos internacionais e das redes
sociais na visão de que se trata de um golpe o que ocorreu no Brasil.
"Agora não vão poder dizer que o New York Times é petista, ou que o Le
Monde é petista. É muito importante o que aconteceu e o papel da mídia
internacional no Brasil", disse.
Sobre o que falou Janaína Paschoal
A ex-
afirmou que não tem "respeito" por Janaina Paschoal, advogada que foi
um dos autores do pedido de impeachment que a tirou do cargo.
Durante
discurso da acusação no julgamento final de impeachment, na terça-feira (30),
Janaina Paschoal disse que queria pedir "desculpas" a Dilma.
"Eu
peço desculpas porque eu sei que, muito embora esse não fosse o meu objetivo,
eu lhe causei sofrimento. E eu peço que ela [Dilma], um dia, entenda, que eu
fiz isso pensando, também, nos netos dela", afirmou a advogada.
"Não
respeito uma pessoa capaz de falar o que ela falou", afirmou Dilma.
"O comportamento da doutora é um comportamento de uma pessoa cujas
convicções não se parecem com as minhas, nem do ponto de vista político, nem do
ponto de vista cultural, nem do ponto de vista humano", disse Dilma.
"Para
os meus netos, eu quero um Brasil democrático, cheio de oportunidades. Eles
terão. E não é por conta da doutora Janaina", completou.
Futuro
A
ex-presidente também foi questionada sobre seu futuro, uma vez que o Senado não
cassou seu direito a ocupar cargos públicos. "Eu não vou fazer planos de
hoje para amanhã. Eu sempre fiz política na minha vida, mas não tenho um
projeto ainda elaborado", declarou. "Mas eu tenho a disposição de
contribuir dentro das minhas possibilidades para que o Brasil seja um país mais
justo e democrático. Farei oposição a
esse governo."
Ela
foi questionada se se mudaria para o Rio de Janeiro. Dilma disse que, inicialmente,
irá a Porto Alegre, mas confirmou que sua mãe "tradicionalmente" mora
no Rio de Janeiro.
Recurso ao STF
Dilma
afirmou que vai recorrer a "todas as instâncias" para tentar reverter
seu impeachment.
"Importa
muito, nós queremos ganhar, mas além de querer ganhar nós queremos que as
instituições se fortaleçam, e só se fortalecerão se elas tiverem posição",
disse a ex-presidente.
Cardozo
confirmou que vai entrar com novo recurso no STF na semana que vem, alegando
"violação ao direito de defesa".
Segundo
o advogado, ele vai citar no recurso o fato de que muitos senadores já tinham
declarado seu voto a favor do impeachment antes do julgamento final e que,
segundo Cardozo, alguns chegaram a afirmar que não mudariam de posição,
independentemente da defesa.
A
defesa também vai alegar falta de motivo ou justa causa para o impeachment.
"Consideração" por
Lula
Dilma
Rousseff ainda afirmou que não tem "nenhuma mágoa do PT", e negou que
tenha qualquer tipo de problema de relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
"Por
ele (Lula) tenho imensa consideração, além de política como pessoal",
disse Dilma.
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