Roberto Rocha e Andrea Murad: almas
gêmeas
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A participação de honra da deputada Andrea Murad (PMDB) na confraternização natalina promovida pelo senador Roberto Rocha (PSB), coloca definitivamente certas personagens no seu devido lugar nos alfarrábios da política do Maranhão.
Filho do ex-governador Luís Rocha, que
fez carreira aderindo aos partidos de ocasião da elite brasileira, Roberto
finalmente encontra o mesmo caminho do pai, livrando-se do desconforto das
aparências iniciadas a partir de 2002, quando entrou no campo das oposições
para enfrentar o domínio da família Sarney no Maranhão ao renunciar sua
candidatura ao governo, a menos de uma semana da eleição, para apoiar Jackson
Lago (PDT).
Até então se portava entre o lá e o cá, sem fazer o combate direto
à oligarquia. Uma das poucas afrontas foi trocar PMDB, partido comandado por
Sarney e pelo qual foi eleito deputado federal em 1994, pelo PSDB, legenda
criada pelos aristocratas do café com leite, de São Paulo e Minas , que ficou
conhecida por ficar em cima do muro, como ele sempre fizera.
Com a marca dos tucanos exerceu dois
mandatos de deputado federal (1999-2003 e 2007-2011), um deles durante o
mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Ao renunciar em 2002, Roberto Rocha se
aproximou – embora sem deixar o PSDB – dos partidos mais à esquerda, como o
PDT, o PC do B, o PPS e finalmente, o PSB, onde acabou se filiando para
eleger-se, em 2012, vice-prefeito de São Luís na chapa de Edivaldo Holanda
Júnior (PTC), que teve o fundamental apoio de Flávio Dino (PC do B), como parte
de um projeto político para colocar fim aos mais de 40 anos de mando da família
Sarney no estado.
Começava aí o aprendizado adquirido com
o genitor em buscar os ventos favoráveis da política, embora de maneira
diversa, para assegurar o destino pretendido. Luiz Rocha começou pela UDN, e
com o golpe militar mudou-se para a Arena, depois para o PDS e PFL, até
encerrar sua trajetória no PSDB.
Roberto Rocha, filho de governador e a vida mansa de sempre |
‘Asa
de avião’
Dois anos depois, Flávio Dino era eleito
governador e Roberto Rocha senador na mesma chapa majoritária.
Sua candidatura só foi possível com as
desistências dos pré-candidatos José Reinaldo Tavares (PSB) e Domingos Dutra
(SD) em nome da união do grupo e do compromisso com a transformação exigida
pelos maranhenses.
Roseana Sarney (PMDB) e Gastão Vieira
(PMDB), candidatos ao governo do Estado
e a única vaga ao Senado, respectivamente, foram derrotados e não há o menor
risco de retomarem o poder através de um golpe judicial ao fizeram em 2009
contra o governador Jackson Lago (PDT).
Mas ao tomar posse em Brasília, Roberto
Rocha revelou que continua “filho do governador” e fiel às suas origens, e que não possui nenhuma identidade com o
projeto que o elegeu. O seu único compromisso é consigo mesmo e o desejo
pessoal em ocupar o Palácio dos Leões, por entender que o cargo de governador é
seu por direito.
Acredita que a sede do governo lhe é
reservada por direito arregimentado no seu histórico e liderança; ambos
superestimados ao ponto de considerar-se a peça mais importante para qualquer
plano de voo rumo ao futuro.
– Sou a asa do avião. Sem mim o avião
não voa – glorificou-se em entrevista a Leandro Miranda, titular do blog
Marrapá e ao jornalista Clodoaldo Correa.
Condição, aliás, que o levou às alturas
e a negar o decisivo apoio da base política articulada em 2012 para sua
vitória, especialmente o de Flávio Dino, que a uma semana do primeiro domingo
de outubro de 2014 se dedicou a convencer o eleitorado da importância da
eleição de Roberto Rocha, então praticamente derrotado, segundo todas as
pesquisas de intenção de votos.
– Ninguém se elege senador por causa de
uma campanha, mas sim por causa de uma história. Vai comparar a minha história
com a de Flávio? Há 8 anos ele estava em um gabinete de juiz – disse na mesma entrevista.
O
inferno de Dante
Esquece o turbulento e digníssimo
senador, que enquanto Flávio Dino militava pela redemocratização do País e
depois como advogado defendia os lavradores e sem terra, ele se dedicava ao
papel de filho de governador, trabalho que o permitiu posteriormente entrar
para a política e alcançar em 1991 uma cadeira pelo PL na Assembleia
Legislativa.
Mas se os seus desvios fossem apenas de
megalomania, delírios e modo de fazer política, onde o conceito de fidelidade é
circunstancial, seriam somente uma questão de trajeto pessoal e de lamento de
quem nele depositou o seu voto esperando o apoio no Senado para a dura e
demorada, como tudo na História, tarefa de restaurar o Maranhão após a queda do
Ancien Régime.
O mais estarrecedor, no entanto, não é
esse sujeito que agora se desvenda, afinal é uma prerrogativa – não um direito,
pois os meios condenáveis não justificam os fins – de qualquer político e de
qualquer cidadão almejar o futuro que bem entende, mas a ignorância que sua
sede de poder demonstrou recentemente ao postar em rede sociais um demônio como
símbolo do comunismo para atacar o PC do B e o próprio governador.
Se antes podia condená-lo ou não por
seus métodos e engodos para alcançar seus objetivos políticos, mesmo à custa de
levar por água abaixo o processo de mudança iniciado por Flávio Dino, não há
como negar que a sua oposição também faria parte deste novo momento, pelo nível
de enfrentamento que dele se esperava.
Mas ao contrário, com esta campanha
difamatória contra os comunistas ele desceu ao mais profundo dos infernos, o
nono círculo na divisão de Dante Alighiere, onde os traidores recebem a punição
máxima por praticar o maior de todos os pecados.
Cinco dias depois da postagem que apela
para estupidez típica do regime militar, no qual seu pai viveu à sombra, e
confirmando o dito popular “onde já se
viu piranha parir piaba”, Roberto Rocha
confraternizou com Andrea Murad, em uma cena típica da Divina Comédia.
O bom filho a casa torna!
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