Dom Xavier Gilles e Dom Belisário também assinam a nota |
Reunidos em Zé Doca, os bispos do Maranhão manifestaram preocupação com a violência que toma contra do sistema penitenciário brasileiro, ressaltando que as maiores vítimas são jovens que ainda não foram julgados ou sentenciados.
"Garantir às novas gerações o direito à educação de qualidade, ao trabalho, ao lazer e à inserção na vida profissional é papel do Estado democrático e este é, certamente, o modo mais eficaz de prevenir a violência crescente", diz a nota.
Os bispos também condenam a expansão do agronegócio no Maranhão, referindo-se ao programa federal do MATOPIBA, que visa ocupar o que resta de Cerrado do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
"O modelo, que se baseia na monocultura da soja, do eucalipto, da cana-de-açúcar e outras culturas, pode até aumentar o Produto Interno Bruto-PIB do Estado. Não contribui, porém, para o crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano-IDH, além de ferir de morte o bioma Cerrado", ressaltam os bispos.
Confira a íntegra da nota.
NOTA DOS
BISPOS DO MARANHÃO
AOS
CRISTÃOS E AOS CIDADÃOS DO MARANHÃO
Quanto a nós,
não podemos nos calar sobre o que vimos e ouvimos (At 4, 20).
Nós, bispos do
Maranhão, reunidos em Zé Doca, de 16 a 19 de janeiro de 2017, sob a luz do
Espírito Santo, queremos manifestar algumas preocupações referentes ao momento
atual.
Ouvimos com
apreensão os relatos sobre o que está acontecendo nas prisões do país. São
sobretudo os jovens que mais sofrem com essa situação. São eles que, em grande
parte, superlotam as penitenciárias, sendo que muitos deles nem sequer foram
julgados ou sentenciados. O sistema judiciário apresenta-se como funcional ao
modelo econômico vigente, contribuindo para um genocídio não declarado.
Neste ano
dedicado à juventude, inquietam-nos as consequências que este modelo econômico
traz para os jovens do nosso Estado. Quase 500 mil jovens, com idades entre 15
e 29 anos, nem estudam, nem trabalham, nem têm esperança de estudar ou
trabalhar e, por isso, nem vão mais à procura de oportunidades. Garantir às
novas gerações o direito à educação de qualidade, ao trabalho, ao lazer e à
inserção na vida profissional é papel do Estado democrático e este é,
certamente, o modo mais eficaz de prevenir a violência crescente.
Constatamos
com pesar a expansão do agronegócio, bem visível no programa federal conhecido
como MATOPIBA. Apresentado pela mídia como solução mágica para a agricultura do
nosso Estado, este programa visa ocupar o que resta de Cerrado do Maranhão,
Tocantins, Piauí e Bahia. Tal tipo de expansão do agronegócio destrói modos de
vida originários, não visa o bem viver da população, expulsa e exclui milhares
de pessoas que viviam da sua produção no campo. O modelo, que se baseia na
monocultura da soja, do eucalipto, da cana-de-açúcar e outras culturas, pode
até aumentar o Produto Interno Bruto-PIB do Estado. Não contribui, porém, para
o crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano-IDH, além de ferir de morte o
bioma Cerrado. A Campanha da Fraternidade deste ano nos convida a uma reflexão
mais aprofundada sobre este assunto.
Os povos
tradicionais – indígenas, quilombolas e afrodescendentes, lavradores e
pescadores – têm sido as principais vítimas deste modelo agroexportador.
Conforme consta no relatório da Comissão Pastoral da Terra-CPT, em 2016, foram
assassinadas 11 lideranças, incluindo indígenas. Ocorreram mais de 300
conflitos agrários, com 139 pessoas ameaçadas, envolvendo 30.691 famílias. O
inchamento das cidades, onde há poucas perspectivas de vida para as famílias
pobres, é também um dos resultados da violenta agressão aos povos da terra.
Como cristãos,
não podemos ficar indiferentes ao que acontece em nossa sociedade. A Igreja não
existe para si mesma, mas para o serviço do Reino de Deus e sua Justiça, a fim
de que haja pão em todas as mesas e vida em abundância para todos (Jo 10, 10).
Por isso,
conclamamos a todos os poderes estabelecidos, também aos novos governos
municipais, a unirem-se no esforço de solucionar estes problemas apresentados.
As lideranças e cidadãos se envolvam e exijam o funcionamento dos órgãos de
controle social e de políticas públicas inclusivas. Pois somente com a
participação de todo o povo, o Maranhão que desejamos – mais justo, solidário e
pacifico – será possível.
Que o Espírito
do Cristo libertador fortaleça nossa esperança na realização desse sonho.
Zé Doca, 19 de
janeiro de 2017.
Armando Martín
Gutiérrez, bispo de Bacabal
Elio Rama,
bispo de Pinheiro
Enemésio
Ângelo Lazzaris, bispo de Balsas
Esmeraldo
Barreto de Farias, bispo auxiliar de São Luís
Franco Cuter,
bispo emérito de Grajaú
Francisco Lima
Soares, administrador diocesano de Imperatriz
José Belisário
da Silva, arcebispo de São Luís
José Soares
Filho, bispo de Carolina
José Valdeci
Santos Mendes, bispo de Brejo
João Kot,
bispo de Zé Doca
Sebastião
Bandeira Coêlho, bispo de Coroatá
Sebastião Lima
Duarte, bispo de Viana
Vilsom Basso,
bispo de Caxias
Xavier Gilles
de Maupeou d'Ableiges, bispo emérito de Viana
Isso é contraditorio senhores.
ResponderExcluirInibir o desenvolvimento de uma regiao esquecida pelo governo.
Isso e demagogia barata.
Os senhores estao equivocados.
Isso e contraditorio
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