Além dos estados com presídios identificados pelos setores de Inteligência como barris de pólvora prestes a explodir, pelo menos outras cinco unidades da federação — Acre, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Santa Catarina — registram disputas pelo controle de cadeias e do tráfico de drogas entre o PCC e grupos criminosos locais aliados ao CV
Presídio em Roraima onde 31 presos foram mortos Foto: STRINGER / Reuters |
Antonio
Werneck e Tiago Dantas
O Globo
RIO E SÃO
PAULO — Apesar de o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, garantir que a
situação nas prisões do país esta sob controle, há possibilidade de conflitos
violentos envolvendo facções do crime, como as ocorridas no Amazonas e em
Roraima, contaminarem outros estados. Setores dos serviços de Inteligência do
próprio governo federal classificaram ontem como tensa a rotina nos presídios
em cinco estados brasileiros nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do
país. São eles: Mato Grosso, Sergipe, Rondônia, Piauí e Ceará.
A
classificação da segurança dos presídios segue um protocolo com quatro
gradações: normal (OK), alerta, tenso e conflito deflagrado. Penitenciárias no
Amazonas e em Roraima foram classificadas como conflitos deflagrados.
Após matanças
em Manaus e Boa Vista, presídios do Norte entraram em alerta máximo para evitar
que a onda de violência se espalhe. A Secretaria de Cidadania e Justiça de
Tocantins diz não poder informar se recebeu informes dos estados vizinhos, por
se tratar de dado “confidencial”, mas reforçou a segurança nos maiores
estabelecimentos com servidores e está fazendo revistas contínuas nos 41
presídios tocantinenses.
O Departamento
Penitenciário Nacional (Depen) — que monitora a situação dos presídios,
coordena políticas nacionais de inserção dos presos, acompanha e controla a
aplicação da Lei de Execução Penal — reconhece a existência de 26 facções de
criminosos no país. Elas ocupam, separadamente, celas nos quatro presídios
federais administrados pela União. Um relatório entregue ao Ministério da
Justiça sustenta que o número é muito maior: as cadeias brasileiras abrigariam
cerca de 80 grupos criminosos, quase todos dividindo sociedade com o Comando
Vermelho (CV), do Rio, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo,
únicas facções brasileiras com atuação nacional.
INFOGRÁFICO:
Mapa das facções nos presídios brasileiros
Em outubro do
ano passado, conflitos nos presídios da Região Norte deixaram dez mortos em Boa
Vista, oito em Porto Velho e pelo menos cinco presos feridos em Rio Branco.
Segundo os setores de Inteligência do governo federal, a situação está, até
agora, sob controle nas cadeias do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Além dos
estados com presídios identificados pelos setores de Inteligência como barris
de pólvora prestes a explodir, pelo menos outras cinco unidades da federação —
Acre, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Santa Catarina — registram disputas
pelo controle de cadeias e do tráfico de drogas entre o PCC e grupos criminosos
locais aliados ao CV. Nos últimos anos, a disputa provocou mortes e motins
dentro de penitenciárias. Na tentativa de tentar prevenir massacres como os
ocorridos no Amazonas e em Roraima, alguns governos decidiram dividir os presos
dentro do sistema penitenciário de acordo com as facções que integram.
O levantamento
que apontou Acre, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Santa Catarina como
estados sob risco foi feito pelo GLOBO com base em investigações feitas por
Ministérios Públicos locais e relatos de agentes penitenciários.
No Rio Grande
do Norte, as autoridades estão em alerta porque a facção Sindicato do Crime
(SDC) ou Sindicato RN, é comandada por Gelson Lima Carnaúba, o G, também líder
da Família do Norte (FDN), do Amazonas. O SDC surgiu há dois anos como forma de
se opor ao crescimento do PCC no estado. Em agosto do ano passado, a facção foi
responsável por ataques em 38 cidades. Ao menos três detentos foram mortos nas
cadeias. Ao longo de 2016, foram registrados cerca de 30 suicídios de detentos.
Segundo o Ministério Público, porém, esses presos foram mortos.
— Depois que o
Sindicato RN desestabilizou o sistema penitenciário começou a briga por espaço
com o PCC. O governo decidiu separar os presos — disse Vilma Batista,
presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do RN.
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