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"Ela me criou sozinha. O fato de ter conseguido entrar em Direito atribuo a minha família, a minha criação, aos meus professores", diz João Antonio Lima da Silva, 17 |
Mirthyani Bezerra
Do UOL, em São Paulo
As pernas da diarista Roseane Silva de Lima, 41, tremeram quando ela
ouviu da boca do filho mais velho a notícia de que ele havia passado no curso
de Direito da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
João Antonio Lima da Silva, 17, passou em primeiro lugar entre os aprovados do
Prouni (Programa Universidade para Todos) para o curso.
"Eu contei os anos, meses, dias, para que isso acontecesse. Ele me
falou na maior simplicidade do mundo que tinha passado no primeiro lugar da
PUC. Meu coração acelerou, queria pular de alegria. Comecei a chorar. É um
orgulho que eu não consigo explicar", contou.
João Antonio estudou o ensino fundamental inteiro na Escola Municipal
Cardeal Leme, que fica em Benfica, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, onde
até hoje mora com a mãe, os dois irmãos --um de 12 anos e outro de um ano de
idade --, o padrasto e um tio.
Quando estava no oitavo ano, um professor de matemática o aconselhou a
tentar umas das bolsas da Ismart - entidade privada que oferece bolsas em
escolas particulares para jovens de baixa renda de 12 a 15 anos. Ele participou
do processo seletivo em 2011. Naquele ano, houve 9.165 inscritos e 168
aprovados, ou seja, concorrência média de aproximadamente 54 candidatos por
vaga.
Conseguiu uma bolsa integral para estudar no Colégio São Bento.
"No oitavo e nono ano eu estudei no Cardeal de manhã e no São Bento à tarde.
No ensino médio, eu fiquei só no São Bento", explicou.
Ele conta que sempre sonhou em se formar em Direito. "É uma coisa
que eu tenho desde pequeno. Entender como funciona a sociedade, saber dos
direitos do cidadão", diz.
Para João, o seu sucesso no Prouni tem tudo a ver com a sua família.
"Ela [minha mãe] me criou sozinha. Há quatro anos só que ela está com meu
padrasto. O fato de ter conseguido entrar em Direito atribuo a minha família, a
minha criação, aos meus professores. Estou otimista. Sei que vai ser um período
muito bom na minha vida", acredita.
A mãe de João é de Natal (RN) e se mudou para o Rio de Janeiro com o
filho quando ele tinha apenas um ano, depois que o relacionamento com o pai do
rapaz não deu certo. "Eu trabalhava de segunda a sábado em uma casa de
família em Jacarepaguá e deixava ele na casa da minha irmã. Ele nunca deu
trabalho", conta a diarista, que faz faxina duas vezes por semana para
ajudar no sustento dos três filhos.
"Os professores dele falavam para mim quando ele era criança para
tentar colocar o meu filho numa escola melhor. Mas eu sempre dizia que eu não
podia, que não tinha condições. Eu dizia que se ele tivesse de aprender, ia ter
que ser na escola pública", conta Roseane.
Ela diz que sempre soube do orgulho que o filho daria. "Lembro
dele sentadinho no sofá, porque a gente não tinha mesa. Ele colocava os livros
na perninha para fazer a tarefa de casa. Ele gostava tanto de estudar que
chegava da escola e nem queria tomar banho. Eu esperava que ele passasse [no
Prouni], mas não tinha ideia que ia ser em primeiro lugar", conta.
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