Uma pessoa foi presa no RJ e ação
acontece em outros oito estados. O jogo não existe oficialmente - não há um
site ou algo parecido. É uma iniciativa de criminosos que usam a internet para
impor desafios macabros a crianças e adolescentes.
Por Cristina Boeckel e Henrique Coelho,
G1 Rio
A Polícia Civil do Rio de Janeiro
realiza na manhã desta terça-feira (18) uma operação no RJ e em outros oito estados
contra o jogo da Baleia Azul, uma corrente que tenta induzir virtualmente seus
participantes, a maioria menores de 16 anos, ao suicídio através de 50
desafios. Uma pessoa foi presa. Matheus Silva, de 23 anos, foi preso pelos
agentes na favela Nova Era, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele
confessou aos policiais que era um dos "curadores" do jogo.
O Baleia azul não existe oficialmente –
não há um site ou algo parecido. É uma iniciativa de criminosos que usam as
redes sociais para impor desafios macabros a crianças e adolescentes. Um grupo
de organizadores, chamados "curadores", propõe uma sequência de
missões que envolvem isolamento social, automutilação e suicídio.
Sob comando da Delegacia de Repressão a
Crimes de Informática (DRCI), os agentes tentam cumprir 24 mandados de busca e
apreensão no Amazonas, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe, além de um mandado de prisão a ser
cumprido no Rio de Janeiro.
Segundo os responsáveis pela investigação,
o trabalho foi uma corrida contra o tempo para preservar a vida dos jovens
envolvidos. "Algumas vítimas estavam muito marcadas quando nós as
encontramos", explicou a delegada Daniela Terra.
Às 8h50, os policiais já haviam
apreendido telefones celulares e computadores em todos os estados onde a ação
foi realizada. Os agentes vão avaliar o material apreendido, que vai ajudar a
identificar os outros curadores do Baleia Azul. São 24 equipes de agentes em 20
município de todo o país, com pelo menos 3 agentes em cada. Assim, são pelo
menos 72 policiais envolvidos.
"Esse rapaz que foi preso, nós já
tínhamos materialidade suficiente para pedir a prisão dele. Ele já confessou
que era curador, que era influenciado 30 vítimas, mas temos nos autos cerca de
40 vítimas", destacou a delegada-assistente Fernanda Fernandes.
A delegada destacou que os pais devem
avaliar se as crianças têm maturidade para ter um perfil em rede social. As
rondas virtuais por redes e serviços disponibilizados pela internet ajudaram a
Polícia Civil do Rio de Janeiro a identificar a migração do jogo, que acontecia
em alguns países da Europa, para as cidades brasileiras. Todas as vítimas foram
encaminhadas para atendimento psicológico.
Segundo a Safernet (associação que
combate violação de direitos humanos na internet), ele surgiu de uma notícia
falsa na Rússia que se espalhou a partir de 2015. Desde abril, a DRCI investiga
várias pessoas que estariam relacionadas aos crimes envolvendo o Baleia Azul.
Os mandados foram expedidos pelo juiz
Alexandre Abrahão, da 1ª Vara Criminal, e o objetivo é identificar e prender
supostos "curadores" do jogo, que chegou a causar ferimentos em
vítimas no Rio e tem ligação suspeita com casos no Mato Grosso e na Paraíba.
Algumas vítimas, ao tentarem deixar o jogo, são ameaçadas por essas pessoas.
Recomendações
As recomendações para as famílias são:
monitorar o uso da internet, frequentar as redes sociais dos filhos, observar
comportamentos estranhos e, sobretudo, conversar e conscientizar os
adolescentes a respeito das consequências de práticas que nada têm de
brincadeira. Atenção redobrada com os jovens que apresentem tendência a
depressão, pois eles costumam ser especialmente atraídos por jogos como o da
Baleia Azul.
Também as escolas devem colocar o
assunto em pauta e incorporar no currículo, cada vez mais, a educação para a
valorização da vida, o respeito pela vida dos outros e o uso consciente das mídias
e tecnologias.
O G1 ouviu especialistas que dão dicas
de como lidar com o tema:
1. Fique atento às mudanças de
comportamento
Uma mudança brusca de comportamento pode
ser sinal de que a criança ou o adolescente esteja sofrendo com algo que não
saiba lidar, segundo Elizabeth dos Reis Sanada, doutora em psicologia escolar e
docente no Instituto Singularidades.
“Isolamento, mudança no apetite, o fato
de o adolescente passar muito tempo fechado no quarto ou usar roupas para se
esquivar de mostrar o corpo são pistas de que sofre algo que não consegue
falar”, destacou a especialista.
2. Compartilhe projetos de vida
Para entender se a criança ou
adolescente está com problemas é fundamental que os pais se interessem por sua
rotina. Elizabeth reforça que este deve ser um desejo genuíno, e não momentâneo
por conta da repercussão do “Jogo da Baleia Azul”.
“Os pais devem conhecer a rotina dos
filhos, entender o que fazem, conhecer os amigos”, afirma a Elizabeth. Ela
lembra que muitos adolescentes “falam” abertamente sobre a falta de motivação
de viver nas redes sociais. Aos pais cabe incentivar que os filhos tenham
projetos para o futuro, tracem metas como uma viagem, por exemplo, e até algo
mais simples, como definir a programação do fim de semana.
3. Abra espaço para diálogo
Filhos devem se sentir acolhidos no
âmbito familiar, por isso, Elizabeth reforça que é necessário que os pais
revertam suas expectativas em relação a eles. “É preciso que o adolescente se
sinta à vontade para falar de suas frustações e se sinta apoiado. Se ele tiver
um espaço para dividir suas angústias e for escutado, tem um fator de
proteção”.
Angela Bley, psicóloga coordenadora do
instituto de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, diz que o adolescente com
autoestima baixa, sem vínculo familiar fortalecido é mais vulnerável a cair
neste tipo de armadilha.
“O que tem diálogo em casa, não é criticado
o tempo todo, tem autoestima melhor, tem risco menor. Deixe que ele fale sobre
o jogo, o que sente, é um momento de diálogo entre a família”, ressaltou a
especialista.
Angela reforça que muitas vezes o
adolescente não tem capacidade de discernir sobre todo o conteúdo ao qual é
exposto. “Por isso é importante o diálogo franco. Não pode fingir que esse tipo
de coisa não existe porque ele sabe que existe.”
4. Adolescentes devem buscar aliados
O adolescente precisa buscar as pessoas
em que confia para compartilhar seus anseios, seja no ambiente escolar ou
familiar, segundo as especialistas. “Que ele não ceda às ameaças de quem já
está em contato com o jogo e entenda que quem está a frente deles são
manipuladores”, conta Elizabeth.
5. Escolas podem criar iniciativas pela
vida
Assim como a família, as escolas podem
ajudar a identificar situações de risco entre os alunos. “Não é qualquer
criança que vai responder ao chamado de um jogo como esse, são os que têm
situações de vulnerabilidade. A escola ajuda a construir laços e tem papel
fundamental de perceber como os alunos se desenvolvem”, afirma Elizabeth.
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