No alto, o senador João Alberto e o filho, deputado federal João Marcelo. Abaixo, Arthur Lira conversa com o pai Benedito de Lira: deputado e senador são alvos de investigação da Operação Lava Jato |
Por Edson Sardinha
Congresso em Foco
Na palestra em que criticou as duas
principais mudanças tramadas na Câmara para a reforma política – a forma de
eleger deputados e vereadores e a criação de um fundo para bancar campanhas – o
presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também atacou duramente o atual
sistema político e eleitoral brasileiro, chamado por ele de “falido”. “O
problema desse sistema eleitoral é que renova muito, mas com o mesmo perfil de
voto: igrejas num segmento, agronegócio em outro e máquina pública em muitos
estados. Renova-se quase 50% da Câmara, mas, efetivamente, há pouca renovação”,
declarou na última sexta-feira (11).
Em seu diagnóstico, Maia se esqueceu de
apontar o expressivo segmento do qual ele faz parte: o das famílias que se
revezam no comando da política do país. Levantamento da Revista Congresso em
Foco revela que pelo menos 378 parlamentares têm laços familiares com outros
políticos, de menor ou maior envergadura. Entre eles, ao menos 69 são de 33
famílias que ocupam, ao mesmo tempo, mais de uma cadeira na Câmara e no Senado.
São pais, filhos, casais, tios, sobrinhos, primos, cunhados, e até ex-cônjuges
unidos pelo exercício do mandato. Filho do ex-deputado e ex-prefeito Cesar Maia
(DEM-RN), Rodrigo Maia é primo do deputado Felipe Maia (DEM-RN) e do senador
Dia
dos Pais
Nas comemorações deste domingo (13), Dia
dos Pais, pelo menos 12 parlamentares serão presenteados por colegas que são,
também, seus filhos. É o caso dos senadores Antonio Carlos Valadares (PSB-SE),
Benedito de Lira (PP-AL), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Fernando Coelho Bezerra
(PSB-PE), Garibaldi Alves (PMDB-RN), João Alberto Souza (PMDB-MA), José
Agripino e Vicentinho Alves (PSD-TO). Pais, respectivamente, dos deputados
Valadares Filho (PSB-SE), Arthur Lira (PP-AL), Pedro Cunha Lima (PSDB-PB),
Fernando Coelho Filho (PSB-PE) – atual ministro de Minas e Energia – , Walter
Alves (PMDB-RN), João Marcelo Souza (PMDB-MA), Felipe Maia e Vicentinho Junior
(PSD-TO).
Benedito e Arthur Lira têm algo mais em
comum: os dois estão entre os investigados da Operação Lava Jato no Supremo
Tribunal Federal (STF). O filho, que é líder do PP na Câmara, e o pai, que era
líder até o ano passado e agora é vice-líder no Senado, são acusados de receber
propina do esquema de corrupção na Petrobras. Arthur já foi denunciado duas
vezes pela Procuradoria-Geral da República pelo crime de corrupção. Uma das
denúncias também envolve Benedito. Mas os ministros do Supremo ainda não
examinaram o pedido de Rodrigo Janot.
Dois suplentes já ganharam a cadeira no
Senado como presente dos filhos nos últimos anos. É o caso de Reditário Cassol
(PP-RO) e Assis Gurgacz (PDT-RO), que já experimentaram o gosto de ser senador
por alguns meses, mesmo sem ter recebido um voto sequer, na condição de
substitutos de seus herdeiros, os senadores Ivo Cassol (PP-RO) e Acir Gurgacz
(PDT-RO). O inverso também se dá: o senador Edison Lobão (PMDB-MA) já emprestou
o gabinete a Lobão Filho (PMDB-MA), seu suplente e filho, enquanto, licenciado
do Senado, comandava o Ministério de Minas e Energia, nos governos Lula e
Dilma.
Pré-candidato à Presidência, o deputado
Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem um colega para chamar de seu: o filho Eduardo
Bolsonaro (PSC-SP), também deputado. Policial federal, Eduardo surpreendeu nas
últimas eleições ao receber 82 mil votos em sua primeira corrida eleitoral.
Valeu-se da popularidade do pai com seu sobrenome tão famoso quanto polêmico.
Filiados ao mesmo partido, pai e filho representam estados diferentes e, por
isso, não disputam votos.
Na Câmara desde 1991, Jair Bolsonaro tem
outros dois filhos políticos: Flávio, que é
deputado estadual, e Carlos, vereador. Com o mesmo perfil e discurso
conservador, a família tem mandatos em exercício do que cinco partidos
políticos em todo o país (PSTU, PCO, Novo, PCB e PPL).
Um perfil de Jair Bolsonaro, o político
e o homem, e o levantamento que revela que seis em cada dez congressistas têm
parentes na política estão entre os principais assuntos da nova edição da
Revista Congresso em Foco. Para acessar o conteúdo completo da publicação,
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Do
pai ao tarataravô
De pai para filho, a família Andrada
está em sua quinta geração no Congresso com o deputado Bonifácio de Andrada
(PSDB-MG), que, aos 87 anos, é o mais idoso entre os 594 congressistas.
Deputado federal desde 1979 (hoje em seu décimo mandato), Bonifácio é filho do
ex-presidente da Câmara José Bonifácio Lafayette de Andrada, neto do
ex-deputado José Bonifácio de Andrada e Silva e bisneto do ex-deputado e
ex-senador Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (III).
O trisavô dele, Martim Francisco Ribeiro
de Andrada (1775-1844), presidiu a Câmara em 1831 e 1842. Casou-se com a
sobrinha Gabriela Frederica Ribeiro de Andrada, filha de José Bonifácio de
Andrada e Silva (1763-1838), o Patriarca da Independência. Deputado entre 1830
e 1833, José Bonifácio foi o primeiro da dinastia a chegar ao Parlamento, ainda
no tempo das Cortes Portuguesas, em 1821, um ano antes da Independência. O
“Patriarca” é, ao mesmo tempo, avô e tio-avô do bisavô do hoje deputado
Bonifácio de Andrada.
Desde 1894, não houve uma legislatura
sequer em que não houvesse um Andrada no exercício do mandato. Da família saíram
15 deputados e senadores, quatro presidentes da Câmara, oito ministros de
Estado e dois ministros do Supremo, além de governadores, prefeitos e
vereadores.
“É o DNA que empurraram pra cima da
gente e a psicologia do cenário. Tal como o filho de carpinteiro tem mais
habilidade para mexer com serrote e martelo, o filho de político também tem
para a vida pública”, diz. E, no que depender de Bonifácio de Andrada, o “DNA”
e a “psicologia do cenário” continuarão ditando o poder da família. Ele já
prepara um neto, hoje vereador em Belo Horizonte, e um filho, deputado estadual
em Minas, como seus sucessores. Se os planos dele derem certo, a família poderá
chegar à inacreditável sétima geração no Congresso.
Negócio
de família
O cientista político Ricardo Costa Oliveira,
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), observa que, em vez de diminuir, a
influência do parentesco na política, herança da colonização portuguesa, tem
crescido no país, principalmente por causa do encarecimento das campanhas
eleitorais.
“A política é cada vez mais um negócio
de família no Brasil. As eleições estão cada vez mais caras. Muitos políticos
bem sucedidos têm de organizar e possuir
uma estrutura de dinheiro, uma estrutura familiar política para beneficiá-los.
Os candidatos mais fortes e com boas condições de elegibilidade concentram mais
dinheiro e muitas vezes contam com a família na política. Isso é um fenômeno
também de reprodução do poder político”, explica o professor.
Nesse ciclo vicioso, sobra pouco espaço
para renovação de nomes e ideias. “No atual sistema político, só se elege quem
é profissional, quem tem muito dinheiro, quem tem muita estrutura. Quem é
amador, político novo, só com suas
idéias, não consegue se eleger de primeira vez, ressalvadas as exceções. Somos
uma república de famílias”, avalia o professor, que estuda o tema há mais de 20
anos. Esse tipo de relação não se restringe ao Congresso e à política.
Para o professor José Marciano Monteiro,
da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, não há como compreender
o Brasil sem analisar as relações entre família e política. “Não existe a
renovação que muitos cientistas políticos apontam no Congresso. Há renovação de
agentes que pertencem às mesmas famílias, têm os mesmos hábitos, visão de mundo
e práticas dos antecessores. As eleições apenas legitimam esses grupos”,
argumenta o cientista social. Segundo ele, a concentração do poder político
em poucas famílias impõe ao Brasil uma
agenda refém de interesses privados, favorece as desigualdades econômicas e
sociais e a corrupção.
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