Rádio Voz do Maranhão

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Facção ameaça juiz, promotor e delegado e consegue transferência de preso no Ceará

Homem seria de facção rival a de outros detentos presos no município de Senador Pompeu. Após dois atentados contra o Fórum, pedido foi acatado pelas autoridades
Integrantes de facção criminosa ameaçaram juiz, promotor de Justiça e delegado do município de Senador Pompeu, a 275 km de Fortaleza. Após atentados ao Fórum da cidade, nesta segunda-feira, 15, as autoridades atenderam a exigência do grupo: transferir um detendo da organização para outro presídio.

Conforme o tenente coronel Ednardo Calixto, comandante Área Integrada de Segurança (AIS) 20, responsável pelo Município, uma dupla em motocicleta passou durante a manhã em frente à sede do Judiciário do município e fez disparos para o alto. Eles estavam em uma moto Honda Fan, de cor preta, a placa não foi anotada.

"Se as nossas exigências não forem obedecidas, Senador Pompeu vai pegar fogo, órgão público vai ser o nosso alvo", informa a carta

Os criminosos arremessaram bilhete preso a uma pedra contra o local. De autoria de uma facção criminosa, a carta exige a transferência do detento identificado como Gel, preso por porte ilegal de arma e tráfico de drogas. Segundo o tenente coronel, a reivindicação ocorreu porque o homem é de facção rival da qual pertencem outros detentos presos na Cadeia Pública da Cidade.

“Exigem isso porque ele poderia ser morto”, justificou o comandante. “Se as nossas exigências não forem obedecidas, Senador Pompeu vai pegar fogo, órgão público vai ser o nosso alvo”, informava a carta.
Segundo atentado

Segundo Calixto, à tarde, a dupla promoveu novo atentado ao Fórum. Eles, temendo que o pedido não fosse atendido, passaram novamente no local fazendo disparo. Alguns tiros atingiram a fachada de uma residência da região. Não houve feridos. Ainda conforme o tenente coronel, o pedido encaminhado na carta foi analisado e o detento foi transferido do local por motivos de segurança. Ele não soube informar para onde o detento foi levado.

Em nota, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) e o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) informaram que providências estão sendo tomadas junto à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS). Agentes foram enviados para reforçar a segurança do juiz e do promotor de Justiça lotados no município. Conforme o MPCE, os suspeitos foram identificados e operações policiais são realizadas na região em busca de prendê-los.

O POVO Online entrou em contato com o delegado da região, mas as chamadas não foram atendidas.

Análise: Um Estado que recua

A submissão do Estado aos grupos criminosos, por qualquer argumento que o valha, mediante ameaças, é sintomática. Em larga escala, os internos do sistema penitenciário do Ceará, hoje, já são divididos por facção. Cada um dos grupos tem uma unidade para chamar de sua. Desafetos não entram. De seus “redutos”, irônica e sabidamente mantidos pelo Estado, comandam o que se passa aqui fora e dentro de outros prédios públicos. Decidem, por exemplo, sobre a permanência de presos em determinadas delegacias ou cadeias públicas, como em Senador Pompeu, conforme O POVO Online mostrou.

É lamentável que as autoridades cearenses se dobrem diante de ameaças. Casos como esse deveriam servir como exemplo prático do discurso governamental, reiteradamente repetido, de que “o Estado não vai recuar um milímetro sequer no combate à criminalidade”.

Ora, o mínimo que deveria ter sido feito, então, era assegurar a integridade física do preso em questão, não necessariamente o removendo da cidade. Depois, que a Polícia Civil investigasse, identificasse e prendesse mandantes e autores dos atentados. Que não recuassem! Dessa forma, didaticamente, estaríamos demonstrando que não há, de fato, possibilidade de recuo. Que ações semelhantes não seriam toleradas e que o Estado é soberano.

O que vimos, porém, foi justamente o contrário. Ao ceder à imposição criminosa, ainda que para resguardar a vida do preso ameaçado, o recado dado é que o Estado não pode, sequer, garantir a integridade de alguém que está sob a sua tutela. Incentiva, ainda, novas imposições. É lamentável. Devemos reconhecer, contudo, que seria muito otimismo esperar outra postura das autoridades de Senador Pompeu, enquanto o exemplo dado pelo próprio Estado aponta em outra direção: a do recuo.

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