Homem
seria de facção rival a de outros detentos presos no município de Senador
Pompeu. Após dois atentados contra o Fórum, pedido foi acatado pelas
autoridades
Integrantes de facção criminosa
ameaçaram juiz, promotor de Justiça e delegado do município de Senador Pompeu,
a 275 km de Fortaleza. Após atentados ao Fórum da cidade, nesta segunda-feira,
15, as autoridades atenderam a exigência do grupo: transferir um detendo da
organização para outro presídio.
Conforme o tenente coronel Ednardo
Calixto, comandante Área Integrada de Segurança (AIS) 20, responsável pelo
Município, uma dupla em motocicleta passou durante a manhã em frente à sede do
Judiciário do município e fez disparos para o alto. Eles estavam em uma moto
Honda Fan, de cor preta, a placa não foi anotada.
"Se as nossas exigências não forem
obedecidas, Senador Pompeu vai pegar fogo, órgão público vai ser o nosso
alvo", informa a carta
Os criminosos arremessaram bilhete preso
a uma pedra contra o local. De autoria de uma facção criminosa, a carta exige a
transferência do detento identificado como Gel, preso por porte ilegal de arma
e tráfico de drogas. Segundo o tenente coronel, a reivindicação ocorreu porque
o homem é de facção rival da qual pertencem outros detentos presos na Cadeia
Pública da Cidade.
“Exigem isso porque ele poderia ser
morto”, justificou o comandante. “Se as nossas exigências não forem obedecidas,
Senador Pompeu vai pegar fogo, órgão público vai ser o nosso alvo”, informava a
carta.
Segundo
atentado
Segundo Calixto, à tarde, a dupla
promoveu novo atentado ao Fórum. Eles, temendo que o pedido não fosse atendido,
passaram novamente no local fazendo disparo. Alguns tiros atingiram a fachada
de uma residência da região. Não houve feridos. Ainda conforme o tenente
coronel, o pedido encaminhado na carta foi analisado e o detento foi
transferido do local por motivos de segurança. Ele não soube informar para onde
o detento foi levado.
Em nota, o Tribunal de Justiça do Ceará
(TJCE) e o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) informaram que
providências estão sendo tomadas junto à Secretaria da Segurança Pública e
Defesa Social do Ceará (SSPDS). Agentes foram enviados para reforçar a
segurança do juiz e do promotor de Justiça lotados no município. Conforme o
MPCE, os suspeitos foram identificados e operações policiais são realizadas na
região em busca de prendê-los.
O POVO Online entrou em contato com o
delegado da região, mas as chamadas não foram atendidas.
Análise:
Um Estado que recua
A submissão do Estado aos grupos
criminosos, por qualquer argumento que o valha, mediante ameaças, é
sintomática. Em larga escala, os internos do sistema penitenciário do Ceará,
hoje, já são divididos por facção. Cada um dos grupos tem uma unidade para
chamar de sua. Desafetos não entram. De seus “redutos”, irônica e sabidamente
mantidos pelo Estado, comandam o que se passa aqui fora e dentro de outros
prédios públicos. Decidem, por exemplo, sobre a permanência de presos em
determinadas delegacias ou cadeias públicas, como em Senador Pompeu, conforme O
POVO Online mostrou.
É lamentável que as autoridades
cearenses se dobrem diante de ameaças. Casos como esse deveriam servir como
exemplo prático do discurso governamental, reiteradamente repetido, de que “o
Estado não vai recuar um milímetro sequer no combate à criminalidade”.
Ora, o mínimo que deveria ter sido
feito, então, era assegurar a integridade física do preso em questão, não
necessariamente o removendo da cidade. Depois, que a Polícia Civil
investigasse, identificasse e prendesse mandantes e autores dos atentados. Que
não recuassem! Dessa forma, didaticamente, estaríamos demonstrando que não há,
de fato, possibilidade de recuo. Que ações semelhantes não seriam toleradas e
que o Estado é soberano.
O que vimos, porém, foi justamente o
contrário. Ao ceder à imposição criminosa, ainda que para resguardar a vida do
preso ameaçado, o recado dado é que o Estado não pode, sequer, garantir a
integridade de alguém que está sob a sua tutela. Incentiva, ainda, novas
imposições. É lamentável. Devemos reconhecer, contudo, que seria muito otimismo
esperar outra postura das autoridades de Senador Pompeu, enquanto o exemplo
dado pelo próprio Estado aponta em outra direção: a do recuo.
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