Dos 20 ministros de Bolsonaro, oito são
militares e três têm relação com as Forças Armadas. Entre os civis, maioria é
político investigado; conheça cada um deles
Por Julinho Bittencourt e Renato Rovai
Até sexta-feira ás 19h, Bolsonaro já
havia indicado 20 ministros para compor o seu governo. Em campanha ele anunciou
no máximo 15 ministérios. Deles, oito são militares de carreira e três têm
relação com as Forças Armadas, como o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta,
que é político, mas foi médico militar, no posto de tenente, no Hospital
Central do Exército (HCE).
Os anúncios confirmam a tese de que o
novo governo será essencialmente militar e que os riscos de politização das
Forças Armadas com o comando do executivo sendo entregue a generais pode fazer
com que o país venha a sofrer um golpe de Estado caso decisões tomadas pelo
governo venham a ser contestadas nas ruas.
A escolha do juiz Sérgio Moro para um
ministério com esta coloração não foi por acaso. Ela visa garantir um acordo
tácito com a Lava Jato e com parte da Justiça brasileira que tem o curitibano
como referência.
Além disso, Moro está trazendo para o
seu ministério em cargos de alto escalão diversos delegados da Polícia Federal,
órgão estratégico para operações que podem encurralar adversários políticos.
Por outro lado, se Bolsonaro não terá
problemas com o Congresso no primeiro momento por conta da chamada lua de mel
que governantes recém eleitos costumam ter, no médio prazo há crise à vista.
Muitos partidos políticos não foram contemplados com cargos importantes e,
inclusive, aliados de primeira hora, como o senador Magno Malta (PR) ficaram a
ver navios.
Até esta decisão de alto risco, se vista
de uma maneira mais ampla, pode ser um recado. A aliança prioritária de
Bolsonaro é com as Forças Armadas e num segundo plano com a Justiça e a PF. E o
resto que engula isso ou que se arrisque a ir para oposição, onde terá
tratamento semelhante ao que o PT tem tido desses poderes.
A seguir, conheça o ministério anunciado
por Bolsonaro que ainda deve ter mais duas indicações durante os próximos dias.
Onyx
Lorenzoni (Casa Civil) – Médico veterinário, luterano, pai de
quatro filhos, 64 anos. Foi nomeado Ministro de Estado Extraordinário para
coordenar a equipe de transição do futuro governo de Jair Bolsonaro. Ele está
no quarto mandato como deputado federal e foi reeleito. Em 2017, admitiu ter
recebido R$ 100 mil em caixa 2 da JBS. Foi o primeiro líder do partido DEM na
Câmara dos Deputados do Brasil.
Paulo
Roberto Nunes Guedes (Economia) – Economista de 69
anos defende a menor participação possível do Estado na economia. Nascido no
Rio de Janeiro, formou-se em economia e fez doutorado na Universidade de
Chicago (EUA). Nunca teve cargo público e fez fortuna no mercado financeiro. É
um dos fundadores do Banco Pactual, além de ter fundado e dirigido fundos de
investimentos e empresas. Foi colunista dos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
e das revistas Época e Exame, além de ter sido um dos fundadores do Instituto
Millenium, onde escreve regularmente.
Sérgio
Moro (Justiça e Segurança Pública) – O juiz de 46 anos
ganhou projeção nacional ao julgar processos da Operação Lava Jato na 13ª Vara
Criminal Federal de Curitiba (PR). Nascido em Maringá (PR), formou-se em
Direito e tem mestrado pela Universidade Federal do Paraná. Antes da Lava Jato,
trabalhou em casos como o escândalo do Banestado e a Operação Farol da Colina.
Também auxiliou, no Supremo Tribunal Federal, a ministra Rosa Weber durante o
julgamento dos crimes relativos ao escândalo do Mensalão. Moro é acusado de lawfare
no processo que levou Lula à cadeia. Suas posições assumidamente políticas
durante o processo, como se deixar fotografar em situações de intimidade com
Aécio Neves, e ter liberado a delação de Palocci no final do segundo turno, o
que favoreceu o candidato de quem agora ele é ministro, Jair Bolsonaro, tiraram
sua condição de atuar como juiz em casos relativos a Lula na opinião de muitos
juristas de todo o mundo.
General
Augusto Heleno (Segurança Institucional) – O militar de 71 anos
chegou a ser cotado para vice na chapa e ministro da Defesa, mas assumirá a
pasta da Segurança Institucional. Na reserva desde 2011, chefiou a missão de
paz das Nações Unidas no Haiti e foi comandante militar da Amazônia. Em 2008,
Lula chamou sua atenção por criticar a política indigenista do governo que,
segundo ele era “caótica” e lamentável”. “A política indigenista brasileira
está completamente dissociada do processo histórico de colonização do nosso
país. Precisa ser revista com urgência. É só ir lá ver as comunidades indígenas
para ver que essa política é lamentável, para não dizer caótica”, disse na
época o general.
Marcos
Pontes (Ciência e Tecnologia) – O primeiro e único
astronauta brasileiro a ir ao espaço é tenente-coronel da Força Aérea
Brasileira (FAB), atualmente na reserva. Filiado ao Partido Social Liberal
(PSL), em outubro de 2018, foi eleito segundo suplente de senador na chapa
encabeçada pelo Major Olímpio. Paulista de 1963, tem mestrado em Engenharia de
Sistemas e é engenheiro aeronáutico.
Tereza
Cristina (Agricultura) – Atual presidente da bancada
ruralista, é engenheira agrônoma e empresária. No Mato Grosso do Sul, ocupou o
cargo de gerente-executiva em secretarias estaduais. Foi secretária de
Desenvolvimento Agrário da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo de
Mato Grosso do Sul durante o governo de André Puccinelli (MDB). Neste ano,
Tereza Cristina foi uma das lideranças que defenderam a aprovação do Projeto de
Lei 6.299, que flexibiliza as regras para fiscalização e aplicação de agrotóxicos
no país. Por conta disto, ficou conhecida como a rainha do veneno.
General
Fernando Azevedo e Silva (Defesa) – O militar da reserva
de 64 anos foi chefe do Estado-Maior do Exército e de Operações na Missão da
ONU no Haiti. Atualmente, assessora o presidente do Supremo Tribunal Federal,
Dias Toffoli. Ingressou no Exército em 17 de fevereiro de 1973, na Academia
Militar das Agulhas Negras (AMAN) onde, em 14 de dezembro de 1976, foi
declarado Aspirante-a-Oficial da Arma de Infantaria. Serviu no então 2º Batalhão
de Caçadores, em São Vicente – SP. Foi promovido ao posto de 2º Tenente em 31
de agosto de 1977 e a 1º Tenente em 25 de dezembro de 1978. Posteriormente,
veio para a Brigada de Infantaria Paraquedista, onde passaria boa parte de sua
carreira.
Ernesto
Araújo (Relações Exteriores) – É diplomata de
carreira há 29 anos. Atualmente, é diretor do Departamento dos Estados Unidos,
Canadá e Assuntos Interamericanos. Nascido em Porto Alegre, formou-se em letras
pela Universidade de Brasília. É filho de Henrique Fonseca de Araújo (PL),
ex-Procurador-Geral da República e ex-deputado estadual do Rio Grande do Sul.
Seu tio, Ernesto de Araújo, foi Almirante da Marinha do Brasil e diretor da
Escola Superior de Guerra. É casado com a também diplomata Maria Eduarda de
Seixas Corrêa, com quem tem uma filha, e é genro de Luiz Felipe de Seixas
Corrêa, embaixador e ex-secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores
(Itamaraty). É conhecido por suas posições de extrema direita, ocidentalista e
alinhamento a Trump. Diz que pautará sua atuação pelo combate a políticas que
compactuam com o que classifica como “alarmismo climático”, “pautas abortistas
e anticristãs em foros multilaterais” e a “destruição da identidade dos povos
por meio da imigração ilimitada”. É autor de um blog onde se assumia militante
pró-Bolsonaro durante a campanha e foi indicado para ministro por Olavo de
Carvalho, astrólogo que fez sucesso no youtube se afirmando filósofo.
Marcelo
Álvaro Antônio (Turismo) – Nascido em Belo Horizonte, foi
reeleito deputado como o mais votado de Minas Gerais. É filiado ao PSL e
integra a bancada evangélica. Votou a favor do prosseguimento da denúncia
contra o presidente Michel Temer para o STF. Responde a cerca de 20 processos
no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, dos quais um é por crime contra a
economia popular. Foi acusado de vender lotes que não lhe pertenciam e que
também não estavam aprovados pela prefeitura.
Bento
Costa Lima Leite de Albuquerque Junior (Minas e Energia)
– É Almirante de Esquadra e Diretor Geral de Desenvolvimento Nuclear e
Tecnológico da Marinha. Nasceu no Rio de Janeiro e iniciou a carreira na
Marinha em 1973. Ele ocupou cargos como: Observador Militar das Forças de Paz
da Organização das Nações Unidas de Sarajevo, na Bósnia e Herzegovina; e de
Dubrovnik, na Croácia, ex-Iugoslávia. Foi também Assessor Parlamentar do
Gabinete do Ministro da Marinha no Congresso Nacional, assessor parlamentar do
ministro da Marinha no Congresso e comandante dos submarinos Tamoio e
Toneleiro. O almirante tem pós-graduação em Ciência Política pela Universidade
de Brasília e MBA em gestão pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Wagner
Rosário (Transparência e CGU) – É o atual ministro
da Transparência e CGU e permanecerá no cargo. Natural de Juiz de Fora (MG), é
graduado e pós-graduado em ciências militares, respectivamente, pela Academia
Militar das Agulhas Negras (1996) e pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
do Exército (2004). Também possui pós-graduação em Fisiologia do Exercício pela
Universidade Gama Filho (2003), tendo ainda se graduado em Educação Física pela
Escola de Educação Física do Exército (2000). Experiência na área de Combate e
prevenção à corrupção, com ênfase em investigação administrativa e
investigações conjuntas com os demais órgãos de defesa do Estado, em casos de
corrupção e fraudes.
Luiz
Henrique Mandetta (Saúde) – Cursou medicina no Rio de
Janeiro, fez residência em ortopedia ne especialização em ortopedia nos EUA.
Foi médico militar, no posto de tenente, no Hospital Central do Exército (HCE),
presidiu a Unimed de Campo Grande (MS) e comandou a Secretaria de Saúde local.
É primo do Senador Nelson Trad Filho, do Deputado Federal Fábio Trad, do
Prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad e do Vereador de Campo Grande Paulo
Siufi Net.
André
Luiz de Almeida Mendonça (AGU) – Advogado com
pós-graduação em Direito pela Universidade de Brasília, em 2016 se tornou
corregedor-geral da AGU. Foi advogado concursado da Petrobras e, atualmente, é
consultor jurídico da CGU, além de pastor auxiliar em uma igreja evangélica.
Gustavo
Bebbiano (Secretaria Geral da Presidência) – O advogado
de 54 anos é um dos conselheiros do presidente eleito e foi uma das figuras
mais próximas dele durante a campanha. Presidiu o PSL até outubro passado.
Ricardo
Vélez Rodríguez (Educação) – Nascido na Colômbia, está no
Brasil desde 1979. É professor aposentado da Universidade Federal de Juiz de
Fora (MG). Atualmente, é professor emérito da Escola de Comando do Estado Maior
do Exército. Também conhecido por posições ultradireitistas, é defensor do
projeto Escola sem Partido e contra a Educação de Gênero. Foi indicado ao cargo
pelo astrólogo Olavo de Carvalho.
Carlos
Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo) –
Natural de Rio Grande (RS), 66 anos, é engenheiro e general. Comandou as
missões de paz da ONU no Haiti e no Congo, além de chefiar a Secretaria de
Segurança Pública na gestão de Michel Temer. Vai dividir com Onyx Lorenzoni a
articulação política do governo no Congresso.
Tarcísio
Gomes de Freitas (Infraestrutura) – Formou-se em
Ciências Militares pela Academia Militar dos Agulhas Negras (AMAN), mesma
instituição frequentada por Bolsonaro e pelo seu futuro vice-presidente
Hamilton Mourão, e foi do Exército por quase 17 anos alcançando a patente de
capitão. O futuro ministro é Secretário de Coordenação de Projetos da
Secretaria-Geral da Presidência da República do governo Temer e consultor
legislativo da Câmara dos Deputados. Chefiou a seção técnica de engenharia das
Nações Unidas no Haiti e atuou como coordenador de auditorias em transportes na
CGU.
Gustavo
Canuto (Desenvolvimento Regional) – É formado em
engenharia da computação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em
direito pelo UniCeub (Centro Universitário de Brasília). É integrante da
carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG) e
não tem filiação partidária. Sua trajetória incluiu passagens pelas Secretarias
de Aviação Civil e Geral da Presidência da República, além da Agência Nacional
de Aviação Civil.
Osmar
Terra (Cidadania) – Ministro do Desenvolvimento Social
entre maio de 2016 e abril deste ano, Terra é médico e deputado pelo MDB-RS e
ex-prefeito de Santa Rosa (RS), além de ex-secretário da Saúde do RS. Se elegeu
para o quinta mandato de deputado federal.
Roberto
Campos Neto (Banco Central) – É diretor do Santander.
Graduou-se em economia com especialização em economia com ênfase em finanças,
cursos realizados na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Trabalhou no
banco de investimento Bozano Simonsen, do qual Paulo Guedes foi acionista, de
1996 a 1999. É neto do diplomata Roberto Campos (1917-2001), defensor do
liberalismo, crítico do comunismo e que foi um dos ideólogos da economia da
ditadura militar no Brasil de 64 a 85.
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