O governador do Maranhão, Flávio Dino
(PCdoB), afirmou nesta terça-feira, 6, que o presidente Jair Bolsonaro usa
critérios pessoais e ideológicos ao escolher os governadores do Nordeste como
objeto de seus ataques. Segundo ele, Bolsonaro “só avalia as coisas com a lente
da sua ideologia” e faz o governo “mais ideológico da história do Brasil.”
Em entrevista ao Estado, publicada na
edição desta terça-feira, Bolsonaro disse que, em seu entendimento,
governadores do Nordeste agem para “dividir o País”, enquanto ele trabalharia
para unir. Para Dino, Bolsonaro “odeia o pluralismo político”. “Só pode ser
essa a causa” afirmou o governador do Maranhão, em entrevista ao Estado. A
seguir leia os principais trechos.
O presidente Jair Bolsonaro disse, em
entrevista ao Estado, que os governadores do Nordeste agem para dividir o
Brasil. O que o senhor tem a dizer sobre essa declaração?
Na realidade o quer ocorre é que o presidente
da República tem se dedicado pouco a acompanhar o que temos no Brasil e por
isso mesmo ignora que, na verdade, existem quatro consórcios de governadores
funcionando (Brasil Central, Amazônia, Nordeste e Sul-Sudeste). Os consórcios
estão previstos na Constituição e a pergunta é: por que apenas o consórcio do
Nordeste estaria dividindo o país? A resposta é: porque o presidente da
República só avalia as coisas com a lente da sua ideologia. É o governo mais
ideológico da história do Brasil. Ele usa critérios ideológicos para atacar
apenas um dos consórcios sendo que é lógico que nem o consórcio do Nordeste nem
os outros querem dividir o Brasil. Eles querem ajudar o Brasil.
O senhor vê algum motivo de ordem
eleitoral? O Nordeste foi as região onde Bolsonaro teve menos votos.
Ele externou que a crítica dele era
politiqueira, eleitoreira, ideológica. Ele não faz uma leitura imparcial, mas
baseada em seus ódios e sentimentos pessoais. Eu lamento profundamente que seja
assim porque nós todos governadores desejamos uma relação de diálogo. Tanto é
que nas duas reuniões que ele convidou os nove governadores do Nordeste
estiveram presentes. Agora, diálogo não é rendição, adesão, submissão. É isso
que queremos sublinhar. Estamos prontos a colaborar, manter relações
institucionais, mas nenhum governante do País tem o direito de impor a sua
vontade.
Em um outro evento o presidente se referiu
aos nordestinos como “paraíbas”, disse que o senhor é o pior de todos e que o
governo não deve dar nada para o Maranhão. Por que ele disse aquilo?
Ele até hoje não explicou essa raiva, esse
ódio, e por isso eu só posso atribuir ao fato de eu pensar diferente dele.
Temos essa novidade inusitada nunca antes vivida no Brasil. Temos um presidente
da República que odeia o pluralismo político. Só pode ser essa a causa. Mas o
pluralismo e o direito de as pessoas terem opiniões diferentes estão garantidos
na Constituição e eu não vou silenciar de modo compulsório na defesa daquilo
que eu acredito. Eu jurei defender a constituição e vou defender.
No dia a dia como é a relação com o
governo federal? O senhor tem recebido tratamento diferenciado?
Até o presente momento, não. As relações
que já existiam permanecem e nós continuamos procurando as instâncias do
governo federal porque eu acredito no princípio da impessoalidade que está no
artigo 37 da Constituição. Não me importo com apetites ou preferências
individuais, me importo com o interesse público. O fato de ele ter essa opinião
tão raivosa não me retira o direito e o dever de procurar o governo federal.
Faço e vou continuar fazendo.
O presidente Bolsonaro respeita o
princípio da impessoalidade?
Na medida em que ele neste período mais
recente tem dirigido palavras de tanta agressão inclusive palavras chulas
contra um conjunto de governantes fica evidente que ele precisa consultar o
artigo 37 da Constituição de um modo geral, ler todo o artigo 37. Por exemplo,
é inadmissível que ele pretenda emitir uma ordem a um ministro de não atender o
estado A ou B, ou que ele exija que o nome dele conste da publicidade – ele
falou ontem na Bahia que o nome dele tem que ser dito – só que a Constituição
diz exatamente o contrário. Eu sempre menciono o nome do governo federal nas
parcerias. Parceria institucional não é parceria pessoal. Isso ficou na época
do feudalismo.
A indicação do próprio filho, Eduardo
Bolsonaro, para a embaixada em Washington fere a impessoalidade?
Gravemente. Fere os princípios previstos
na Constituição e a súmula 13 do Supremo Tribunal Federal publicada em 2008 que
expressamente diz que a autoridade nomeante não pode indicar parentes para
cargos comissionados.
Ao ferir o princípio da impessoalidade
Bolsonaro fica exposto a algum tipo de ação judicial?
É uma grande interrogação que paira hoje
sobre o sistema de Justiça. O cidadão brasileiro ele próprio dirige essa
pergunta ao sistema judiciário. Não é algo que me caiba responder mas me cabe
indagar. Eu perguntaria ao Judiciário o que fazer para garantir a autoridade da
Constituição e das leis do Brasil, que e um dever de todos agentes públicos.
Como fica o acordo para a instalação da
base em Alcântara neste ambiente?
Nós mantemos nossa opinião, ou seja, de
que o acordo de salvaguardas tecnológicas celebrado entre o Brasil e os EUA
pode ajudar a destravar o uso da base de Alcântara. Nós agimos diferente dele.
Eu não ajo sob a ótica da retaliação e da vingança. Eu balizo minhas opiniões
em razão de sentimentos pessoais. O acordo foi assinado por ele, é um acordo
controverso que tem prós e contras, mas continuo sustentando a mesma posição. O
acordo é compatível com o objetivo de que a base possa funcionar.
Bolsonaro também disse ao Estado que os
governos do PT tentaram dividir o Brasil. O senhor concorda com isso?
A direita brasileira tem que parar de usar
os governos do PT como justificativa para os seus próprios problemas. O PT e
seus aliados já estão fora do governo há mais de três anos. Cada um tem que
responder pelo seu período. Essa coisa de ficar o tempo inteiro olhando para
controvérsias do passado na verdade serve para esconder os problemas reais que
a gestão dele tem. Por exemplo é uma gestão que até o momento nada fez para
combater o desemprego e a recessão de modo efetivo, de modo emergencial. Essa
fraseologia, esses ataques, agressões e palavras de mau gosto são pura
ideologia para esconder o fato de que infelizmente termos um governo que está
devendo muito ao Brasil.
de O Estado de São Paulo
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