Odailton
Charles de Albuquerque Silva, de 50 anos, relata ter passado mal após beber um
suco de uva oferecido por uma colega da escola
O professor Odailton Charles de
Albuquerque Silva, de 50 anos, enviou mensagens de áudio para o WhatsApp de uma
amiga nos quais relatou passar mal após tomar um suco de uva oferecido por
outra funcionária da CEF 410 Norte, onde trabalhava. Em determinado momento,
ele indagou: "Será que essa desgraçada me envenenou?".
A mensagem foi enviada pouco depois de
ele tomar o suco, na última sexta-feira (31/1). Logo após isso, o docente
precisou ser socorrido ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e ficou
internado em estado gravíssimo. Ele morreu na terça-feira (4/2).
Na primeira mensagem enviada, Odailton
Charles disse que foi recebido de forma hostil pela colega de trabalho.
"Estou te mandando mensagem porque você demora a atender. Aí, eu fico
agoniado. Eu cheguei aqui (na escola) e a mulher estava com uma cara feia para
mim. Os quadros que eu tinha deixado já estavam empilhados para eu carregar e
com minha folha de ponto para assinar. Quase que ela não me deixou entrar na
escola. (...) A mulher estava com ódio nos olhos."
No mesmo áudio, o docente contou que,
após outros professores saírem para almoçar, foi chamado por essa colega até
uma sala da escola. Ele tinha ido até a instituição para entregar a gestão como
diretor da 410 Norte, cargo que ocupou por oito anos.
"Estou
com medo"
"Ela me chamou na salinha para
assinar a folha de ponto e, quando fui ver, ela ainda me deu uma garrafinha de
suco de uva. Levei até um susto. Eu não ia tratar ela mal, não. Não ia ser
deselegante. Fiquei meio receoso, mas tomei. Não sei. Já tem uns 15 minutos.
Agora, estou sentindo uma dor de barriga. Será se ela colocou algum laxante
nesse suco? Não é possível. Estou grilado", detalhou.
"A mulher me olha de cara feia e,
quando todo mundo sai de perto, me chama e me dá uma garrafinha de suco de uva?
Sei lá. Estou com medo. Vou até ligar para a minha mulher. Não deve ser nada,
não. Vai dar tudo certo. Não é possível que ela tenha coragem", afirmou
Odailton Charles.
Poucos minutos após enviar o áudio com pouco
mais de 2 minutos, ele mandou uma nova mensagem. Dessa vez, com uma suspeita
ainda mais grave sobre a atitude tomada pela colega de profissão. "(...)Eu
tomei o negócio e estou passando mal mesmo. Será se ela me envenenou?",
questionou. "Ela esperou todo mundo sair para almoçar. Sinceramente, estou
até com medo de ligar para a minha mulher e deixá-la apavorada, coitada. Estou
passando mal mesmo. Ela colocou algum purgante aqui", finalizou.
O corpo do professor foi velado nesta
quinta-feira no Adventista de Águas Claras. O sepultamento foi as 16h, no
cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. No velório, o cunhado de Odailton
disse que a família prefere acreditar que a causa da morte seja natural. No
entanto, exames demonstraram a presença de um componente de agrotóxico no corpo
do professor.
Confirmada
morte por envenenamento com o raticida conhecido como chumbinho
Peritos do Instituto de Criminalística
(IC) e médicos legistas do Instituto de Medicina Legal (IML) concluíram que o
professor Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos, morreu vítima de
envenenamento. Segundo o documento, ele foi intoxicado por uma espécie de
raticida, chamado de audicarb, populamente conhecido como chumbinho. Os exames
também descartaram a ingestão de suco de uva pelo professor.
Segundo o delegado-chefe da 2ª Delegacia
de Polícia (Asa Norte), Laércio Rossetto, a morte do docente não foi natural.
“É importante ressaltar que os laudos do IML e IC descartam essa
possibilidade”, disse. De acordo com a diretora do IML, Márcia Cristina dos
Reis, o professor teve uma amostra de sangue analisada pelo órgão em parceria
com o IC. “Esse raticida é muito comum, mas tem a venda proibida, já que uma
pequena dose pode ser letal. Encontramos traço de chumbinho no sangue do
professor”, explicou
As amostras de sangue foram coletadas
quando Odailton Charles ainda estava hospitalizado em estado grave.
Na quarta-feira (5/2), peritos estiveram
no colégio da 410 Norte com a intenção de reconstituir a dinâmica da morte de
Odailton. Desde a morte do professor, funcionários da escola pediram
transferência da instituição.
Leia a transcrição abaixo:
"Minha
amiga, eu tô te mandando a mensagem porque tu demora a atender. Aí eu fico
agoniado. Eu cheguei aqui, a mulher com uma cara feia da p* para mim. Os
quadros que eu tinha deixado já tavam tudo empilhado para eu carregar. Minha
folha de ponto para assinar. Quase que ela não deixa eu entrar na escola.
Aí
depois ela viu que eu estava de boa e tal, não sei o quê. Mas a mulher com
ódio, ódio, ódio nos olhos, né? Aí eu fui, aí ela me chamou na salinha ali para
assinar a filha de ponto. Aí quando eu fui ver ainda me deu uma garrafinha de
suco de uva. Tomei até um susto. Uma garrafinha dessas, né... Aí eu falei: ‘Não
vou tratar mal, né? Não vou ser deselegante não’. Eu fiquei meio receoso, mas
aí fui e tomei.
Eu
não sei...agora, já tem uns 15 minutos. Agora, tá me dando uma dor de barriga
desgraçada. Será se essa p* botou algum laxante para me sacanear? Botou alguma
coisa dentro dessa p* desse suco de uva. Porque não é possível a dor na barriga
que eu tô.
Eu
hein, tô grilado agora, agora eu tô grilado. A mulher me olha de cara feia. Aí
depois que o pessoal sai todo de perto, que ela me põe ali naquela salinha, que
era do Bira, para assinar a folha, e me vem com uma garrafinha de suco de uva e
me dá.
Sei
lá, agora eu tô com o estômago aqui f*, doendo. Não sei que p* é essa. Tô com
medo vou até ligar para a minha mulher. Mas vamos esperar, não deve ser nada
não, deve ser dos meus remédios. Vai dar tudo certo. Ai, não é possível que ela
tenha a coragem. Ah meu pai do céu."
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