“Não existe jeito de salvar a economia – é preciso salvar a saúde pública”, diz Gonzalo Vecina
Com o acelerado avanço pós-carnaval da pandemia de Covid-19 no Brasil, é cada vez maior o risco de colapso no SUS (Sistema Único de Saúde). Especialistas no setor recomendam a urgente adoção do lockdown para “salvar a saúde pública” e evitar uma tragédia de proporções ainda maiores.
“Neste momento, eu fecharia tudo”, resume o médico Gonzalo Vecina Neto, fundador da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e ex-secretário de Saúde de São Paulo (SP). “Tudo indica que estamos diante de um colapso. Como não temos governo federal, a decisão de lockdown – de pelo menos duas semanas – deve ser tomada pelos estados, de acordo com o clima que estão vivenciando.”
Na opinião de Vecina, a proteção ao SUS deve ser a prioridade dos governos. “Não existe jeito de salvar a economia – é preciso salvar a saúde pública. É óbvio que, para fazer algo duro e imediato em uma sociedade tão desigual quanto a nossa, é preciso garantir que ninguém vai morrer de fome”, pondera o médico.
O tempo para o confinamento pode ser longo. “Não vejo outra saída que não um lockdown no País inteiro por pelo menos 21 dias”, diz o neurocientista Miguel Nicolelis, professor catedrático da Duke University (EUA). Em sua opinião, um lockdown já era necessário em 4 de janeiro – “mas lockdown de verdade, com fechamento de tudo que não for essencial o dia inteiro, e não só das 20 ou 22 até as 5 horas”.
Para Nicolelis, é igualmente importante conscientizar os brasileiros sobre os riscos da pandemia. “A população precisa de uma mensagem que sincronize as mentes de todas as pessoas da gravidade da situação”, afirma. “Se a catástrofe for ainda maior, o País perderá pessoas para produzir e consumir. É do interesse do empresariado preservar a vida e exigir que o governo ajude as pessoas a ficarem em casa.”
Membro do Observatório Covid-19 BR, o professor Roberto Kraenkel, do Instituto de Física da Unesp, condena a volta às aulas presenciais. “É necessário lockdown total, em que pessoas não circulem nas ruas, com fechamento de comércio e escolas. Uma vez passada a fase do fechamento, pode haver reabertura segura”, analisa.
A exemplo de Nicolelis, Kraenkel lembra que a população precisa ser alertada. “Precisaremos de muito mais informações do que hoje. Nossa vigilância das variantes é muito fraca, e estamos em um voo cego”, diz. “A sociedade pode pressionar governantes para que tomem atitudes que correspondam à gravidade da situação. Cada um deve procurar se proteger o máximo possível porque dessa forma também está protegendo a comunidade em que vive.”
Com
informações do Estadão
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