quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Empresário envolvido em grilagem de terras é assassinado a tiros em Junco do Maranhão

O empresário Nestor Osvaldo Finger, de 67 anos, foi executado a tiros, nessa quarta-feira (22), por volta das 15h, no município de Junco do Maranhão, a 258 km de São Luís. Ele é da cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, e era dono da Imperador Joias.

Almir Finger, irmão do empresário, disse que Nestor estava no Maranhão há cerca de três meses. Ele possuía uma propriedade rural em Junco do Maranhão. O empresário foi alvejado no rosto e nas costas. Os motivos do crime são desconhecidos.

A motivação do crime ainda não foi esclarecida mas há suspeitas de vingança por conta de disputa de terras.

Empresário

Nestor Finger é empresário, proprietário da Imperador Jóias, em Santo Ângelo. Ele deixa a esposa, Carla, e os filhos, Dhiony e Kelly. 

O filho dele, Dhiony, saiu de Itapema para o Maranhão, para acompanhar a situação.

O corpo do empresário será transladado para Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul.

Disputa pela posse de terra

Há cerca de 17 anos, 66 famílias de trabalhadoras e trabalhadores rurais ocupam a área de 2.250 hectares denominada Gleba Campina, em Junco do Maranhão. No território, são desenvolvidas atividades de agricultura familiar e, atualmente, parte da produção é vendida para o município de Junco do Maranhão por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Desde 2010, quando os trabalhadoras e trabalhadores rurais solicitaram junto ao ITERMA a regularização fundiária da área, muitos começaram a sofrer perseguições por Nestor Osvaldo Finger, originário do Rio Grande do Sul, que alega ser dono das terras onde as famílias ocupam e lavram.

Além das constantes ameaças, inclusive com armas de fogo, são recorrentes as ordens de incêndios criminosos contra casas e plantações.

Trabalhadores rurais mortos

Um trabalhador rural foi encontrado morto, no dia 19 de agosto de 2020, na Gleba Campina, também conhecido como Povoado Vilela, em Junco do Maranhão. O corpo, identificado como de Raimundo Nonato Batista, de 56 anos, estava enterrado em uma cova rasa e com marcas de tiros.

Raimundo estava desaparecido há quatro dias e seu corpo foi encontrado por outros trabalhadores que faziam buscas na localidade.

No dia 18 de junho deste ano, na mesma comunidade Vilela, Reginaldo e Maria da Luz Benício de França também foram assassinados a tiros dentro de casa. Maria de França era suplente da direção dos Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) local. Uma criança de três anos, filha do casal, ficou em cima do corpo da mãe durante horas.

Clima de tensão e ação do MP

O clima é de extrema tensão entre as famílias que temem um agravamento da situação. Isso porque a terra onde vivem é alvo de grilagem e os registros de conflitos agrários são recorrentes e possuem um histórico violento.

O Ministério Público do Maranhão (MP-MA), por meio da 44ª Promotoria de Justiça de Conflitos Agrários, apontou que é clara a existência de grilagem de terras na região, já que informações de órgãos fundiários do ITERMA e INCRA sinalizam inconsistência em relação a posse da área e sua cadeia dominial (relação dos proprietários de determinado imóvel rural desde a titulação original).

Isso porque a área total que Nestor Osvaldo Finger alega ser dono, denominada Fazenda Santa Inês, foi desmembrada para abertura de novos registros imobiliários, agora nomeados Fazenda Santa Érica I, II e III, os quais não possuem localização real, indicando também forte indício de falsificação de documentos. Há, ainda, apontamentos de que a área, segundo Órgãos Públicos, pertença ao Estado.

Em outubro de 2019, o Juiz da Comarca de Maracaçumé indeferiu o pedido do MP-MA de inspeção judicial, assim como a transferência dos autos para instauração de Inquérito Policial junto a Delegacia Especializada em Conflitos Agrários e também a assistência judiciária gratuita aos trabalhadores e trabalhadoras rurais da região. 

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