Prefeitos de Luís
Domingues (MA), Boa Esperança do Sul (SP) e Bonfinópolis (GO) confirmaram que
pedidos de propina foram feitos pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura em
almoços com gestores em Brasília
Os prefeitos de Luís Domingues
(MA), Gilberto Braga, de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza, e de
Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro, confirmaram o pedido de propina de pastores
para a liberação de recursos públicos pelo Ministério da Educação na gestão de
Milton Ribeiro.
As solicitações, segundo eles,
foram em dinheiro e ouro. Kelton também destacou o pedido para a compra de
Bíblias para serem distribuídas na cidade goiana.
Eles prestaram depoimento, nesta
terça-feira (5), à Comissão de Educação do Senado, sobre a denúncia de
favorecimento do governo federal aos pedidos que chegavam à pasta por meio dos
pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. O caso foi revelado pelo Estado de S.
Paulo. De acordo com áudio de Ribeiro vazado pela Folha de S. Paulo, o pedido
de prioridade foi feito pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Quando o recurso
estiver empenhado, como sua região é de mineração, você vai me trazer 1kg de
ouro”
Gilberto Braga relatou que
esteve em Brasília (DF) em 7 de abril de 2021 para uma palestra no Ministério
da Educação com a presença de Ribeiro e dos pastores. Depois, ele contou que
seguiu para um almoço em um restaurante com os pastores e um grupo de 20 a 30
prefeitos que disse desconhecer.
No local, o prefeito contou ter
sido abordado pelo pastor Arilton, que pediu R$ 15 mil para o cadastro da
proposta para a conclusão da obra de uma creche no município. Além do valor, o
pastor solicitou, também, 1 kg de ouro no momento em que o recurso fosse
empenhado, ou seja, reservado para pagamento à cidade.
“O pastor estava sentado na mesa
na hora da palestra no Ministério da Educação e em seguida nós fomos para esse
almoço, onde não estava o ministro [Milton Ribeiro]. O ministro não estava, só
estavam os dois pastores. Nesse almoço, tinha uma faixa de 20 a 30 prefeitos e
a conversa era muito bem aberta”, disse o prefeito de Luís Domingues.
“Ele [pastor Arilton] pediu as
demandas. Eu apresentei as minhas demandas e ele falou: ‘você vai arrumar R$ 15
mil pra eu protocolar suas demandas, e depois quando o recurso estiver
empenhado, como sua região é de mineração, você vai me trazer 1kg de ouro’. Eu
não disse nem que sim, nem que não, e me afastei para almoçar”, acrescentou,
afirmando que em seguida pegou um táxi e deixou o local.
Não houve pedido de segredo
sobre a conversa tratada no almoço, segundo Braga. Ele completou que todos os
presentes no local sabiam das exigências para a liberação de recursos, mas
destacou não saber se a intermediação era a comando de algum integrante do
governo federal.
“A conversa era aberta, não teve
um chamamento particular. Foi uma conversa que todos que estavam na mesa
ouviram. Eu acredito que ele tenha feito propostas para várias pessoas. Eu fui
o primeiro. Ele fez a proposta para mim e logo em seguida em me afastei”,
completou.
Pedido de depósito
de R$ 40 mil na conta de uma igreja
José Manoel de Souza fez relato
semelhante. Ele contou que esteve em Brasília em 18 de março de 2021 também
para uma reunião no Ministério da Educação. Na ocasião, estavam presentes, além
de Ribeiro e dos pastores, o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE), Marcelo Lopes da Ponte.
Depois da reunião no MEC, ele
seguiu, junto a outros dois prefeitos também para um almoço em um restaurante
onde um homem não identificado o apresentou ao pastor Arilton. Em conversa
reservada, Arilton pediu o depósito de R$ 40 mil na conta de uma igreja para
viabilizar a construção de uma escola profissionalizante na cidade de Boa
Esperança do Sul.
"No restaurante, a pessoa
me apresentou para o Arilton, nós saímos, sentamos e ele [Arilton] disse: ‘prefeito,
você sabe muto bem como funciona. O Brasil é muito grande, não dá para ajudar
todos os municípios. Mas eu consigo te ajudar com uma escola
profissionalizante’", contou Souza.
"Ele falou ‘eu faço ofício
[com a solicitação dos recursos] agora, você assina, eu já coloco no sistema e
em contrapartida você deposita R$ 40 mil na conta da igreja evangélica’. Nesse
momento eu bati nas costas dele e falei ‘pastor, obrigado, mas para mim não é
assim que funciona’. Nesse momento, nós pegamos um taxi e voltamos imediatamente
para o aeroporto", completou o relato.
"É R$ 15 mil
porque você está com pastor Gilmar, porque dos outros [prefeitos] eu cobrei R$
30 mil ou R$ 40 mil"
Kelton Pinheiro, prefeito
de Bonfinópolis, contou que esteve no Ministério da Educação em 11 de março de
2021 e encontrou, na pasta, Ribeiro, os pastores e técnicos. No momento, ele
contou que o ex-ministro fez um discurso apontando que não haveria a
necessidade de colocar intermediários nos municípios porque havia um trabalho
de "combate aos lobistas" por recomendação de Bolsonaro para
"eliminar a corrupção".
Depois, ele foi convidado para
um almoço no mesmo restaurante que o prefeito de Luís Domingues. No local,
sentado na mesma mesa que o pastor Gilmar, Kelton contou ter recebeu a proposta
de propina pelo pastor Arilton.
"Estávamos almoçando,
sentamos em uma mesa e sentou na minha frente o pastor Gilmar. Aí eu percebi
uma movimentação do pastor Arilton em outras mesas. Eu não conhecia as outras
pessoas que estavam ali, mas eram pessoas que estavam no Ministério",
iniciou Kelton.
O pastor Arilton chegou na mesa
e me abordou de forma abrupta e muito direta. Disse: ‘olha, eu preciso de R$ 15
mil na minha mão hoje, você faz uma transferência pra minha conta, não tem para
depois não’. Aquilo me deu ânsia de vomito", contou.
Kelton detalhou, ainda, que o
valor foi menor para ele do que para outros gestores por influência do pastor
Gilmar. "É R$ 15 mil porque você está com pastor Gilmar, porque dos outros
[prefeitos] eu cobrei R$ 30 mil ou R$ 40 mil", disse Arilton, de acordo
com o prefeito de Bonfinópolis.
Após a negativa imediata, Kelton
afirmou que voltou para sua cidade e na semana seguinte, recebeu uma ligação de
Arilton questionando se ainda haveria interesse em concluir a negociação. O
prefeito goiano frisou que rejeitou a proposta novamente e não fez a denúncia
no momento porque achou que posse uma postura isolada.
Os três prefeitos que relataram
as recursas aos pedidos de propina contaram, ainda, que não tiveram aprovação
em projetos que exigiam a liberação de recursos do Ministério da Educação.
Os prefeitos de Rosário (MA),
Calvet Filho, e de Anajatuba (MA), Helder Aragão, também prestaram depoimento
aos senadores. Eles negaram o recebimento de abordagem dos pastores com
solicitação de propina e foram os únicos a confirmar o recebimento de recursos
do FNDE para projetos nos municípios.
Calvet chegou a confirmar que
foi recebido por Ribeiro fora das dependências do Ministério da Educação para
tratar de assuntos de interesse público. Ele disse que foi ao apartamento do
ex-ministro, em Brasília, em 5 de janeiro de 2021.
“Não foi uma agenda formal, no
Ministério, [o combinado era que] onde ele estivesse ele iria nos receber para
conversamos”, frisou. "Quem preparou o café e serviu para mim e para minha
esposa foi o próprio ministro. Não teve intermediação. Em momento nenhum ele me
pediu propina. Nós levamos os projetos já prontos", acrescentou.
Além de verbas para concluir as
obras de duas creches, Calvet revelou que ainda conseguiu empenhar recursos no
Ministério da Educação para construir outras duas creches e três escolas, no
valor de aproximadamente R$ 8 milhões.
Outros quatro prefeitos foram
convidados a depor, mas eles não participaram da audiência. São eles os de
Centro Novo (MA), Júnior Garimpeiro; Bom Lugar (MA), Marlene Miranda; Guarani
D’oeste (SP), Nilson Caffer; e Três Corações (MG), Reinaldo Vilela Paranaíba
Filho.
Esquema envolvia a
compra de Bíblias
O prefeito de Bonfinópolis
disse, ainda, que na semana anterior à ida a Brasília foi procurado por
telefone pelo pastor Gilmar, que o chamou para uma reunião em Goiânia junto com
Arilton para viabilizar o encontro com Ribeiro.
Na ocasião, com a presença de
Gilmar, Arilton pediu que Kelton comprasse mil Bíblias, no valor de R$ 50 cada
uma, para contribuir com a construção de uma igreja e fizesse a distribuição nas
igrejas evangélicas da cidade. O prefeito informou que negou adquirir o
material por meio de contrato público.
"Eu falei: 'Eu não consigo
dar esse valor, mas uma oferta pessoal eu posso fazer sim, porqque a Prefeitura
não pode adquirir Bíblias para distribuir", frisou, acrescentando que o
padtor não condicionou a compra à reunião com o ex-ministro.
Comissão de Educação
do Senado fará novos depoimentos
Na quinta-feira (7), está
marcado o interrogatório dos pastores Gilmar e Arilton e do presidente FNDE, Marcelo
Lopes da Ponte. O órgão é responsável pela liberação de recursos da área da
educação a municípios. Até a manhã desta teça-feira, nenhum deles confirmou
presença no depoimento.
Na próxima semana, deve ser
ouvido o ministro interino da pasta da Educação, Victor Godoy. Ele foi chamado
depois que assumiu o Ministério com a saída de Ribeiro.
Ribeiro também chegou a ser
chamado para depor no colegiado na última quinta-feira (31), mas não
compareceu. Os senadores iriam aprovar a convocação do ex-ministro, mas mudaram
a natureza para um convite, em que não há a obrigação de depor, depois que ele
se disponibilizou a comparecer. O fato foi antes da exoneração dele.
Denúncias são
'convite à CPI', diz presidente da Comissão de Educação
O presidente da Comissão de
Educação, senador Marcelo Castro (MDB-PI), considerou o caso um
"convite" para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI), que é o instrumento adequado para investigação. O assunto será
amadurecido, segundo ele, depois de novos depoimentos marcados.
"A CPI ainda não está, no
meu entender, devidamente amadurecida para ser instalada", disse Castro.
Evidentemente que não estou atacando ninguém, mas se eles cumprirem o mesmo
rito que o ex-ministro [Milton Ribeiro] e não vierem, eu acho que isso é quase
um convite à CPI. É uma provocação ao Senado Federal. E evidentemente que no
Senado cresceria o deseja de instalação de uma CPI", completou o senador.
Denúncias motivaram
demissão de Milton Ribeiro
A crise gerada pela denúncia do
balcão de negócios motivou a saída do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro.
Ele pediu demissão a Bolsonaro em 28 de março, reafirmando que não houve a
prática de atos ilegais.
Com informações de O Tempo
Garimpos ilegais no Maranhão.
ResponderExcluirA Cidade da "honestidade" do prefeito Gilberto Braga do PSDB que ouviu do "Pr" pedido de propina em ouro abriga garimpos ilegais no MA.
Parte da população do município de Luís Domingues vive da extração ilegal de ouro e da produção de Juçara. Verba pedida ao Ministério da Educação seriam para a construção de creches e escolas.
A pergunta que não quer calar a cidade de Luís Domingues estava em condições de contratar com o Ministério da Educação?
Segundo a prefeitura, pouco mais de 2 mil alunos estudam em sete escolas públicas, sendo seis municipais e com estruturas ainda dos anos 1970.
Parte da população vive da extração ilegal do ouro, que marca a paisagem, desmatada para a atividade, com escavações e a formação de lagoas, causando danos ao meio ambiente.
Entre os 5.570 municípios brasileiros, Luís Domingues apareceu nas últimas posições, em 5460°, de menor Produto Interno Bruto (PIB).
Ao blog da Ana Flor, Braga diz temer pela própria vida.
Na época das eleições, Gilberto Braga não declarou nenhum bem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Comctodas essas difivuldades e esses pastores ainda ficam pedindo propina, é de lascar, ainda bem que o prefeito não aceitou.
ExcluirPastores pilantras, isso não é de hoje.
ResponderExcluir