sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Vereador que jogou R$ 300 mil para moradores de Cândido Mendes registra ocorrência contra o prefeito, que teria "comprado" a renúncia do parlamentar

O vereador de Cândido Mendes Cleverson Pedro Sousa de Jesus, conhecido como Sababa Filho (PCdoB), que causou um alvoroço na cidade, na manhã desta sexta-feira (4), ao jogar dinheiro pela janela da Câmara de Vereadores, registou um boletim de ocorrência contra o prefeito do município e um empresário, os acusando do crime de corrupção ativa.

O boletim foi registrado na Delegacia de Polícia Civil de Godofredo Viana, após o vereador jogar o dinheiro aos populares, sob a alegação de que esse dinheiro, cerca de R$ 300 mil, teria sido dado a ele pelo empresário Adson Manoel Silva Oliveira, a mando do prefeito de Cândido Mendes, José Bonifácio Rocha de Jesus, conhecido como Facinho (PL), para que o vereador renunciasse ao mandato.

Ao g1, o prefeito Facinho negou as acusações do vereador e disse que irá processá-lo por calúnia e difamação (veja o posicionamento no final da matéria). O g1 também tentou entrar em contato com o empresário Adson Manoel Silva Oliveira, mas não obteve resposta.

Prefeito Facinho Rocha é acusado de tentar "comprar" a renúncia do vereador

No boletim de ocorrência, ao qual o g1 teve acesso, Sababa Filho afirma que no dia 26 de julho deste ano, ele se reuniu com o empresário Adson Manoel e um homem identificado como Edmilson Júnior, na casa do próprio empresário em São Luís, onde recebeu a proposta para renunciar ao mandato em troca de R$ 250 mil.

O vereador afirma que fez uma contraproposta, pedindo R$ 300 mil. Nesse momento, o empresário teria ligado para o prefeito Facinho, que manteve a proposta de pagar só R$ 250 mil.

Sababa afirmou ter dito ao empresário que iria pensar na proposta e responderia no dia seguinte. Sendo que em 27 de julho ele foi até o escritório do advogado Carlos Sérgio, também na capital, acompanhado de Adson e Edmilson, onde declarou aceitar a proposta.

O advogado teria formulado a carta de renúncia, que foi assinada pelo vereador e, em seguida, foi feito o Reconhecimento de Firma no cartório do 3º Tabelionato de Notas de São Luís (veja a carta abaixo).

Carta de renúncia do vereador
Sababá Filho de Cândido Mendes.

O g1 tentou entrar em contato com o advogado Carlos Sérgio, mas ainda não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Após registrar a carta de renúncia, Sababá teria ido para a casa do empresário, onde teria recebido R$ 50 mil de adiantamento, ficando de receber o restante nesta sexta-feira (4), antes de anunciar sua renúncia ao mandato.

Ainda de acordo com o depoimento do vereador, o valor de R$ 200 mil foi entregue a ele, dentro de uma mochila, pelo próprio empresário, na porta da Câmara Municipal. Em seguida, Sababá entrou no local e pediu a palavra ao presidente. Mas, em vez de renunciar, ele fez um discurso relatando a proposta e rasgando a carta.

Depois o vereador foi até a janela da Câmara e jogou o dinheiro aos populares. Sababá Filho alega que jogou todo o dinheiro, inclusive os R$ 50 mil de adiantamento.

Em entrevista à rádio Mirante AM, o vereador afirmou que no interior do Maranhão é comum os prefeitos ‘comprarem’ os vereadores.

“O que nós temos nos interiores é que a Câmara e os vereadores todos se vendem aos prefeitos. Todos são compráveis, como se fosse mercadoria. E hoje eu quis mostrar ao povo que vereador não precisa se vender”, declarou Sababa Filho.

Ao ser questionado sobre o porquê de não ter levado o dinheiro à polícia, Sababa afirmou que queria mostrar ao povo a realidade e que esse caso deve ser investigado pela Polícia Civil do Maranhão e pelo Ministério Público.

O g1 procurou os órgãos para saber se haverá alguma investigação sobre o caso e aguarda um posicionamento.

Conflito entre prefeito e oposição

Cândido Mendes vive uma crise política por causa de diversos conflitos envolvendo o prefeito Facinho, seu grupo político na Câmara e vereadores de oposição.

Em sessão extraordinária da Câmara, no dia 26 de junho, quatro vereadores da base do prefeito foram cassados por suposta quebra de decoro parlamentar, após uma sessão secreta aberta pelo presidente da Câmara, Josenilton Santos, que faz parte do grupo da oposição.

Segundo os vereadores, a suposta manobra foi feita para que a oposição tivesse maioria na Câmara para cassar o prefeito. No entanto, os vereadores cassados conseguiram um Mandado de Segurança na Justiça que anulou a cassação e os reconduziu aos cargos.

Após o caso, a crise na Câmara de Vereadores se acentuou e, nesta sexta-feira (4), um dos vereadores de oposição, Sababá Filho, afirmou que recebeu dinheiro do prefeito para renunciar.

O que diz o prefeito

Em nota, o prefeito Facinho (PL) afirmou que não manteve contato com o vereador Sababá e que irá processá-lo por calúnia e difamação.

"O Prefeito JOSE BONIFACIO ROCHA DE JESUS vem a público, acerca dos fatos envolvendo o vereador SABABA FILHO, esclarecer: primeiro, não manteve nenhum tipo de contato ou teve qualquer tratativa com esse vereador, seu notório inimigo político e conhecido por armações e criar espetáculos, para se promover; segundo, o que o prefeito soube foi que o referido vereador preparou carta de renúncia, tendo comparecido pessoalmente a um Cartório, em São Luís-MA, reconheceu sua assinatura no referido documento e o protocolou na Câmara Municipal, na tarde de ontem (03/08/2023); e por fim, o que se sabe é o que referido vereador estava desesperado, por ter tentado me cassar e não ter conseguido, por não ter fundamentos legais, tampouco quórum necessário para cassação, não tendo para este prefeito nenhuma utilidade em sua renúncia ou não, sendo insignificante a sua saída da Câmara. Tudo não passou de uma simulação para criar tumulto e aparecer", diz a defesa do prefeito.

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