Desdobramentos dos escândalos minam soluções internas para apurar as suspeitas, mas Sarney é aconselhado por aliados a deixar os policiais de fora. Receio é perder o controle da investigação
Marcelo Rocha e Ricardo Brito
Cadu Gomes/CB/D.A Press - 16/3/09 |
Heráclito: Temos que dar um crédito para a sindicância. (Acionar a PF) é atropelar voto de confiança |
|
Os desdobramentos do escândalo, no entanto, começam a minar a solução doméstica encampada por Sarney. Durante o fim de semana, o diretor da Polícia Legislativa, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, disse à imprensa que pretende ouvir, nos próximos dias, os senadores Romeu Tuma (PTB-SP) e Efraim Morais (DEM-PB), além do ex-diretor-geral Agaciel Maia. Os três foram citados pelo ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi ao falar, em entrevista à revista Época, sobre supostas irregularidades na área administrativa do Senado. Carvalho causou um grande mal-estar.
Além disso, uma parcela dos senadores teme o risco de a Casa sofrer desgaste caso a apuração interna nada conclua. “O Senado tem que se preservar. Se a investigação interna não chegar a nada, ficará sob suspeita. Portanto, acho que a Polícia Federal e mesmo o Tribunal de Contas da União deveriam sim ser acionados”, opinou Álvaro Dias (PSDB-PR). O parlamentar lembrou que a PF já conduziu, em 2006, um inquérito sobre as fraudes em licitações na Casa — detalhes sobre essa investigação foram revelados pelo Correio numa série de matérias publicadas ano passado. Na ocasião, a polícia levantou suspeita sobre Agaciel Maia e o senador Efraim Morais. “Se há fatos novos, a PF pode retomar.”
Um dos primeiros a levantar a bandeira contra a farra do crédito consignado na Casa, o primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), tem uma avaliação diferente. Ele acha que, nesta fase inicial, é preciso dar um “voto de confiança” à apuração interna anunciada por Sarney. Ele ressalta ainda que a PF não conseguiu comprovar nada contra Agaciel e Efraim naquele momento. “Temos que dar um crédito para a sindicância. (Acionar a PF agora) seria atropelar um voto de confiança”, disse.
Farra
Foi aconselhado por Heráclito que Sarney, tão logo assumiu a Presidência do Senado, endureceu as regras do crédito consignado. Havia uma chiadeira geral entre o funcionalismo por causa do custo do produto. Algumas instituições praticavam até 4,5% ao mês pela linha de crédito. O peemedebista fixou em 1,6% ao mês o teto para a taxa cobrada pelos empréstimos. Na verdade, o presidente da Casa mexeu num vespeiro e, por tabela, ajudou a enfraquecer politicamente João Carlos Zoghbi.
Nos bastidores, o ex-diretor de Recursos Humanos defendia os bancos. Hoje, há uma explicação para tal comportamento: Zoghbi lucrava alto com o consignado. Ele é acusado de montar, em nomes de laranjas, uma rede de empresas de consultoria para intermediar os negócios entre as instituições financeiras e o Senado. A principal delas seria a Contact Assessoria de Crédito, empresa que recebeu do Cruzeiro do Sul, suspenso por Sarney, cerca de R$ 2,3 milhões pelo negócio no Senado.
Levantamento da direção do Senado indica que a Casa mantém hoje 38 contratos com bancos para disponibilizar crédito consignado aos servidores. Há parcerias, recém-formalizadas, que só vão vencer em dezembro do próximo ano. Entre as instituições financeiras que atuam nesse bilionário mercado, com uma clientela estimada em 6 mil pessoas — alguns com vencimentos que ultrapassam os R$ 20 mil —, está o Banco Cruzeiro do Sul, cujas operações foram suspensas semana passada.
O Cruzeiro do Sul nega qualquer relação com as eventuais irregularidades. Em nota, o banco afirmou que “jamais” operou com exclusividade o crédito consignado para os servidores do Senado, ao contrário do que informou o Correio na edição da última sexta-feira. A instituição informa que começou a trabalhar no local em 2002, “ano em que pelo menos outros seis bancos também ofereceram o produto”.
entenda o caso
Intermediação suspeita
Trinta e oito bancos, segundo um levantamento da cúpula do Senado, mantêm contrato com a Casa para oferecer aos servidores empréstimo com desconto em folha em até 99 parcelas. A clientela é de 6 mil funcionários, alguns com salários que ultrapassam os R$ 20 mil mensais
Nenhum comentário:
Postar um comentário